terça-feira, 18 de janeiro de 2011

RETORNO DO JOGO DE BURACO

  Além da Imaginação
 
    Tínhamos o costume de nos reunirmos em casa de um amigo que mora na Av. Dr. José Rufino, no bairro do Barro, para jogarmos buraco. Começava o jogo às 20 horas, se prolongando às vezes até as 2 horas da madrugada.
    Estávamos tão acostumados àquela diversão que para nós nada havia de melhor do que estarmos reunidos ali. Conversávamos, tomávamos umas cervejinhas com salgadinho e íamos nos distraindo com cartas. Éramos seis, todos casados e respeitáveis donos de casa.
    Uma noite terminamos o jogo mais cedo, pois faltaram dois parceiros: o Romildo, que era meu vizinho, e o Paulo, por ter ido viajar. Eram 12 horas aproximadamente e cada um seguiu o rumo de sua casa. Eu morava na rua da Floresta, e impreterivelmente tinha que passar na frente do Cemitério do Barro. Quando cheguei na esquina da rua que passa no cemitério, parei e fiquei esperando algum conhecido ou retardatário como eu, que morasse naquelas imediações. De repente vejo que alguém se aproxima: é um homem. Me dirijo para ele e pergunto:
    - O amigo vai para aquele lado?
    - Sim, vou. E você vai? – disse o desconhecido.
    E fomos os dois juntos, conversando. Caminhamos pouco e até parecia que já éramos grandes amigos. Falamos a respeito da família, de filhos, de religião, da vida, quando ele me contou que quando era garoto os pais o mandavam na venda com 500 réis e ele fazia uma pequena feira e que dava para dez pessoas passarem três ou quatro dias. Fiquei admirado, pois as feições dele ainda eram de um homem moço. Aos poucos íamos nos aproximando do portão do cemitério, da grande morada daqueles que não mais podem conviver conosco. E no momento em que passávamos pelo velho portão do cemitério ele me perguntou:
    - Você também tem medo de passar por aqui a estas horas sozinho?
    Eu disse que sim, com um certo receio. E para minha grande surpresa ele falou:
    - Eu também, quando era vivo. Tinha muito medo, era como você.
    E desapareceu entre as grades do portão, gargalhando e gritando:
    - Não tenha medo que morto não faz mal a ninguém.
    Não fiquei em mim e quando tornei estava sendo socorrido por um senhor que morava na mesma rua que morei. Daí por diante deixei de jogar buraco e nunca mais passei sozinho pelo portão do velho cemitério.

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