terça-feira, 25 de junho de 2013

MÚSICA IMAGINÁRIA


    Bastava o tempo estar bom, o sol brilhando, para que eu saísse um pouco para o que chamava de “caminhar”, porque andar sem rumo, sem um roteiro pré-estabelecido, não é caminhar. Bastava ter qualquer tipo de problema no lar para sair à toa, andar por qualquer lugar, para refrescar a mente. E foi numa dessas “caminhadas” que me aconteceu algo curioso. Passava por uma ampla praça quando me deparei com uma criatura do sexo feminino, maltrapilha, aparentemente uma moradora de rua, que dançava ao ritmo de uma música imaginária, o que me fez parar e ficar observando. Era um ritmo corporal que se houvesse música seria perfeito. No entanto eu me encarreguei de “providenciar a música”, porém apenas eu fingia ouvir e sintonizar a dança da desconhecida mulher com a “música” que “tocava” na minha imaginação. Ficou perfeito, a dança e a “música imaginária” batiam bem e foram alguns minutos de curtição mental.
   Os dias se passaram e sempre que eu saía para andar e passava por aquela praça, lá estava ela, a moradora de rua com a sua demonstração de dança, sempre em sintonia com a “música” que “tocava” em minha mente, um espetáculo que me divertia, me fazia passar o tempo. Eu ficava até decepcionado quando não a via na praça, essa minha “dançarina” preferida, que nem imaginava que sua dança tinha “música” para completá-la.

   Após algum tempo não mais a vi e nem soube do seu paradeiro, talvez tenha ido dançar sem música em outras paragens, servir de boba para as pessoas, só não foi para mim porque resolvi completar o seu trabalho, sem me importar se eu também era considerado um louco.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

SÓ SE FALA EM MANIFESTAÇÕES

   Depois de um café rápido, uma olhada no jornal para me inteirar das notícias do país, mas talvez nem precisasse, pois só o que se fala são as manifestações que tomaram conta do Brasil, de norte a sul. A insatisfação é geral, o “gigante acordou” com gosto de gás e não pretende dormir nem tão cedo. Resolveu botar a boca no trombone e denunciar publicamente o que já sabíamos e aceitávamos há décadas, pacientes e conformados. Mas como tudo tem um dia, o povão decidiu se manifestar, aproveitando a briga de usuários de transporte coletivo pela redução das passagens e alertaram o governo para a onda crescente de corrupção, contra os políticos e dirigentes da nação que teimam em abocanhar o dinheiro dos nossos impostos para levarem vida de milionários. Espero que essa luta tenha sucesso e que o povo pobre deste país possa ter uma vida mais digna.

   No resto do jornal eu só via matérias sobre futebol, banalidades locais e outras baboseiras.

domingo, 23 de junho de 2013

CAMINHAR É PRECISO

       O sol da manhã me convidava para dar uma volta, caminhar um pouco, o que é saudável para todo ser humano. É bom frisar que eu gosto de caminhar, refrescar o cérebro, descobrir coisas novas durante o percurso. A gente aproveita para cumprimentar pessoas, geralmente os amigos e conhecidos, muitas vezes fazendo novas amizades.

    O homem não pode estar só, viver recolhido como um inútil, principalmente na minha idade, com mais de sessenta anos, aposentado e com alguns problemas como todo mundo tem. Eu fico imaginando como vivem essas pessoas, comodistas que detestam andar, tudo que fazem dependem do carro, mesmo que a distância seja curta. Não gostam de caminhar, preferindo o conforto do ar condicionado de seus veículos, dessa forma não se importando com a própria saúde. O comodismo termina prejudicando as pessoas, apesar do conforto que usufruem, minha gente, vamos cuidar da saúde. 

sexta-feira, 21 de junho de 2013

DENTRO DE UM CARRO NO ENGARRAFAMENTO

   Dentro do carro de luxo eu ouvia uma música, observava ao redor as pessoas circulando, talvez carregando seus problemas ou simplesmente caminhando felizes rumo ao trabalho ou outro lugar qualquer. Eu estava pouco preocupado com o que iriam fazer e sim com aquele monte de carros que estavam a minha frente sem me deixarem seguir meu caminho. Não adiantava buzinar, reclamar ou tentar forçar passagem, pois o engarrafamento era normal na cidade e eu achava que todo mundo tinha carro e que era comodista como eu. A música no carro aliviava a minha tensão, me fazia relaxar e lembrar de coisas que eu estava esquecido, alguma coisa que pudesse fazer assim que tivesse tempo. Tempo? Eu nunca tinha tempo, estava sempre ocupado com alguma coisa, às vezes coisas que nem eram necessárias, que poderiam ficar para depois. Mas deixemos isso de lado, vamos esperar que esse trânsito ande, que me tire dessa chateação, dessa longa espera que só me irrita. Não fosse a música que tocava nem sei o que faria, nem imaginava o que se passaria na minha cabeça. Trânsito louco, cada dia pior, não vejo como melhorar essa situação caótica dessa grande cidade, seria até melhor ir morar no interior onde não houvesse carros, que tivesse apenas uma charrete para a minha locomoção.

   Eu estava li sentado numa praça do grande centro urbano, era hora do descanso para o almoço e questionava comigo mesmo o porque de tantos carros nas ruas causando engarrafamentos, poluindo o ar, fazendo barulho com buzinas estridentes. Não, eu não estava dentro de algum carro ouvindo música, sinceramente não. Eu tinha vontade de possuir um automóvel, de ser uma pessoa estabilizada na vida e mesmo com esse transtorno no trânsito estar ali dentro de um carro, ouvindo música e esperando o trânsito fluir. Sou pobre para isso.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

JOANA E OS CACHORROS

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   Acordei subitamente com cachorros latindo, num barulho simultâneo que me deixou preocupado. Algo de anormal poderia estar acontecendo lá fora, fui até a cozinha e olhei através da janela mas nada vi, tudo parecia normal e até os latidos pararam. Voltei para a  cama, onde Joana parecia dormir, enrolada no lençol, dando antes uma olhada no jardim e percebendo que também estava normal. Deitei e logo em seguida os latidos reiniciaram, uma latumia que parecia querer me manter acordado, mas eu me mantive calmo, afinal tinha ali perto uma mulher carinhosa que poderia acalmar os meus nervos. Joana, que fingia dormir, me abraçou e sorriu me mostrando um celular com a sua luz azulada. Apertou uma tecla e o som de cachorros latindo teve início. Maliciosa, ela arranjou um jeito de me despertar, de me deixar ativo, mesmo me enganando, para proporcionar a ambos uma noite de amor.

terça-feira, 18 de junho de 2013

ELZA, ONDE ESTÁ VOCÊ?



Andei léguas a procura de Elza
Procurei em tudo que é lugar
Não existe outro que se possa imaginar
A não ser fora do nosso planeta
Ela era tudo que eu queria
Deixou sua marca no meu coração
Que agora está triste, fora de ação
Magoado com a sua ausência
Elza, me diga onde você está
Apareça, me acuda, não me deixe sofrer
Faça com que eu volte a viver
E leve embora toda a minha tristeza
Vasculhei em vão toda a redondeza
Cada capital e cidade do interior
Tudo isso em busca do meu amor
Mas está sendo muito difícil pra mim
Se não encontrá-la posso até morrer
Sabendo que não vou poder lhe abraçar
Sentir seu perfume e seu cabelo afagar
Volte, Elza! Quero você para mim

segunda-feira, 17 de junho de 2013

MEU TRABALHO NO CAIS

   A lua cheia clareava o cais, a noite já ia alta e o silêncio era o meu companheiro. Eu estava sentado próximo a balança rodoviária do porto, era o intervalo entre os dois expedientes noturnos, alguns caminhões aguardavam na fila para pesarem seus produtos. Os motoristas ficavam nas cabines ouvindo rádio ou do lado de fora conversando com os companheiros. No meu silêncio eu admirava algumas luzes no mar, navios que estavam ancorados aguardando autorização para atracarem. Um cafezinho quente aliviava o frio da noite, os meus pensamentos me tiravam algumas vezes da realidade e eu não via a hora de terminar o segundo expediente para cochilar um pouco enquanto não amanhecia. Uma embarcação pequena passou e alguns tripulantes conversavam em voz alta, mas não dava para distinguir o que falavam. Fiz uma crítica mental a eles, atrapalharam o meu sossego, afugentaram por breves minutos o meu companheiro, o silêncio. Felizmente foi por pouco tempo e eu me vi novamente em tranquilidade, olhando a lua que vez ou outra se escondia atrás de nuvens.

   Após o segundo expediente, depois de pesar vários caminhões e preparar o relatório de pesagens, o cansaço já era evidente e eu me deitei em um banco forrado com papelão. Duas listas telefônicas serviam como travesseiro e enfim eu pude esperar o dia amanhecer, já que o trabalho se encerrava às quatro da madrugada. Acordava com o sol batendo em meu rosto pela fresta da cortina na janela de vidro com grade do lado de fora.

domingo, 16 de junho de 2013

LOUCA ADMIRAÇÃO

   Aqueles olhos esverdeados me fascinavam, me deixavam numa admiração incontrolável, eu não podia fazer nada contra mim mesmo. Ela era de uma beleza inigualável, pelo menos para mim, que não cansava de acompanhar seus passos, de observar a sua maneira de ser, de cumprimentar as pessoas com educação, de ser atenciosa. Esse seu jeito me cativou, me deixou “amarrado” na sua figura tão espontânea, porém dentro do respeito e da reserva.
   Algumas vezes tive o privilégio de ouvir um “bom dia” ou uma “boa tarde” de sua pessoa, sempre com um sorriso, o que era retribuído da mesma forma. No meu íntimo eu a “namorava”, eu a tinha como uma pessoa do meu relacionamento e até imaginava loucuras com ela, apesar de ser uma senhora casada e mãe de filhos. O meu cérebro não conseguia evitar essa situação, pouco estava ligando para isso, queria apenas no segredo do meu pensamento viver aquele momento de satisfação mental, queria tê-la, desejá-la, fazer o impossível para mantê-la sob o seu comando. Pobre de mim com esse pensamento bobo, vendo-a passar elegante, muitas vezes sem perceber a minha presença, mas eu a via sempre, ela estava na minha mira, o meu olhar não dava descanso para ela, que nem sequer seu nome eu sabia. Mas ela era “minha”, eu a “queria” de qualquer jeito, eu sonhava com ela, tinha uma louca admiração por essa mulher ao ponto de esquecer coisas minhas.

   Isso tudo fica só na imaginação, bem guardado nessa minha “cabeça oca” e jamais ousarei levar qualquer manifestação para o lado extra-cérebro, ou seja, somente eu sei dessa admiração e jamais esse assunto será de conhecimento público.

sábado, 15 de junho de 2013

MANUELA

   Hoje, sentado na areia da praia, olhando o infinito de um mar azul, me vi envolto em pensamentos bem distantes da minha realidade. Eu quase não percebi que havia voltado no tempo, que havia regredido mais de trinta anos, que estava vivenciando aquele tempo como se fosse agora, pensando em uma pessoa que deixou uma saudade danada, que marcou a minha vida.
   A música era embalada, as luzes me ofuscavam, jovens se abraçavam, sorriam, bebiam, dançavam. Eu apenas olhava aquela cena que me deixava feliz, apesar de estar sozinho, mas estava feliz sim, pois ali perto tinha uma garota que eu admirava, que gostava dela e esperava apenas a sua aproximação, uma oportunidade para cortejá-la, mas... cadê a coragem? Não conseguia tomar essa coragem para conquistá-la e notava que ela tinha a mesma intenção, talvez me desejasse também, éramos dois covardes, um esperando pelo outro. A festa acabou e tomamos nossos rumos, nos olhamos discretamente, ensaiamos um leve sorriso e foi só isso, nada mais aconteceu. Seu nome era Manuela, jamas esqueci, mesmo com o tempo nos distanciando. Ficou somente a saudade, a lembrança, aquele desejo incontido que me perturbava.

   Agora, olhando o mar, com o olhar de quem está triste por não ter conseguido vencer o medo, eu pensei em Manuela, pensei nela ali pertinho de mim e até sentindo o calor do seu corpo, as carícias de suas mãos em meu rosto. Imaginei beijar aqueles lábios rosados, aquela boca que poderia ser só minha mas que o destino e a minha covardia me impediram de ter Manuela, de ter dado vazão aos meus sentimentos. Ficaram apenas as lembranças de Manuela.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

UM DESPERTAR NOS MÍNIMOS DETALHES


   
   Abri os olhos e me espreguicei na cama, o dia estava raiando e a manhã me convidando para levantar. Eita vontade de continuar debaixo do lençol e dormir mais um pouco! “Nem pense nisso, rapaz”, parecia me dizer a minha consciência e eu tinha que obedecer. Dei mais uma espreguiçada na cama e de repente: pum! Saiu aquele pum bem estrondoso, mas eu nem me preocupei, pois estava sozinho e não tinha motivo para me envergonhar, ficando imaginando o que comer na minha primeira refeição do dia. Êpa! Outro pum, mas esse saiu de enxerido já que não tinha programado ele. Deixa o bichinho sair, conhecer esse mundo aqui fora, é um direito dele.

   Já na mesa, depois de um bom banho relaxante e ter trocado de roupa, um café bem quentinho com leite, pão assado com queijo e presunto, umas bolachinhas e uma olhada no relógio: são sete horas, hora de sair para o trabalho.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

CHUVA, AMOR E ABANDONO SENTIMENTAL

   A chuva caía forte no Recife e região metropolitana, as autoridades estudiosas no assunto já haviam advertido que seriam dois dias de chuvas intensas em intervalos regulares. Eu gosto da chuva, de apreciar esse fenômeno da natureza, apesar dos transtornos que causa a população. E nesse dia 12 de junho, dia dos namorados, eu imaginei o que os casais sentiam, abraçados, no aconchego gostoso do lar, trocando palavras de amor, planejando mundos e fundos para eles.

   Uma trégua a chuva deu e eu continuei pensando no amor que os casais sentiam, mas também pensei naquelas criaturas maduras que não viviam esse sentimento, talvez abandonadas, sem conforto, sem uma palavra que pudesse confortá-las. Existem pessoas sim que não sabem o que é o amor, não tem ideia de que esse sentimento pode mudar o rumo de qualquer situação em que o ser humano vive. Para mim isso é abandono sentimental.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

ARANILDA – UM SOPRO ATRÁS DE MIM



   De repente me vi sentado na areia da praia olhando o imenso mar de Fortaleza. Era uma tarde linda, as ondas vinham quebrar quase aos meus pés e o vento sussurrava no meu ouvido. Perto de mim alguns banhistas, crianças brincando de castelo de areia, mas eu apenas sentia o vento me acariciar, uma espécie de brisa que gosta de  acariciar o rosto da gente e que nos deixa absortos em pensamentos. Após alguns minutos de meditação senti uma espécie de sopro atrás de mim, mas não dei atenção por julgar que fosse o efeito do vento que soprava do mar, que já era meu companheiro. Continuei olhando o mar e ouvindo o barulho das ondas, mas aquele sopro diferente insistia em minhas costas, se concentrando no meu pescoço. Tive a certeza de que não era impressão, de que não era o efeito da brisa marinha ao me voltar e me assustar com uma figura feminina ainda fazendo biquinho e sorrindo. Foi aí que reconheci aquele amiga muito conhecida pelo nome de Aranilda. Sinceramente eu não sabia o que estava acontecendo e o que estava fazendo ali na areia da praia. Era ela sim, Aranilda. Ninguém me pergunte por que eu tinha tanta certeza porque não vou saber explicar. Mas uma coisa inusitada ocorreu: tudo começou a escurecer e me fazer crer que não era real, que eu estava simplesmente sonhando. Me esforcei para abraçar a amiga tentando enganar o sonho mas foi em vão, acordei e me deparei com a realidade.

SONHO COM MAGDA



   Quando eu cheguei em Eldorado já passava das sete da noite e chovia bastante, o que me fez parar um pouco para descansar. Gostava dessa cidade em São Paulo e queria conhecê-la, onde trabalhava uma amiga minha que morava em Peruíbe. Havíamos combinado esse encontro para tratarmos da publicação de um livro que seria lançado no mercado imediatamente. Fiquei ali no carro pensando no assunto e nem dei conta de que a chuva havia passado, sentindo uma grande sonolência, mas fazia esforço para não adormecer ali. Nas ruas claras de Eldorado fiquei observando as pessoas se locomoverem, os carros circulando e um tempo ótimo. Notei que do outro lado da rua uma figura feminina me observava, mas ficava parada em baixo de uma marquise, porém eu não conseguia visualizar o seu rosto. Parecia atenta aos meus movimentos, pois fiquei inquieto com sua atitude. Desci do carro e me adiantei em sua direção, percebendo que se tratava da minha amiga Magda. Ela abriu um sorriso e eu me animei para abraçá-la, mas nesse momento tudo escureceu, a luz faltou, mas procurei seguir em direção a ela, só que as minhas pernas não obedeciam e eu me senti paralisado. Sua imagem ficou bem clara de repente, era ela mesma, mas eu continuava ali, inerte, sem forças e percebendo em seguida que aquilo não era real, que eu estava saindo de um sonho. Lutei para não acordar logo, fingi que aquela cena era real e que eu ia falar com Magda, mas infelizmente tive que abrir os olhos e enfrentar a realidade que me esperava, deitado em uma cama em plena madrugada.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

DESEJO INSACIÁVEL

uma boca sedenta por beijos
um só não é suficiente
ela quer mais, está carente
exibe o seu corpo escultural
que procura um intenso amor
única forma de baixar o calor
que invade corpo e alma sensíveis
o macho fogoso a toca suavemente
e ela o agarra muito fortemente
se entrega ao desejo insaciável
fazendo explodir uma paixão violenta
que não pode esperar, não aguenta
tem início então o jogo do prazer
dois corpos em tesão se entrelaçam
olhos nos olhos, amantes que se abraçam
até o gozo final dessa investida