sexta-feira, 22 de novembro de 2013

O SOL E A FLOR MURCHA

o sol da manhã me fez um convite
me fez ir até o meu jardim
e foi com muito prazer que aceitei
estava feliz, poderia ser bom pra mim
poder desfrutar do cheiro das flores
ouvir o canto mavioso de pássaros
e esquecer um pouco os meus temores
o café da manhã me fortaleceu
precisava então fazer algo diferente
e foi o sol que me ajudou nisso
passear no jardim, arejar a mente
sentir o frescor do começo do dia
apreciei as flores, as que eu gostava
e vi uma esquecida lá num cantinho
estava murcha, de cuidado precisava
me entristeceu, me fez até pensar
que delas eu não cuidava direito
reguei com carinho esperando ela mudar
parecia me agradecer, apesar de frágil
fiz tudo para que ela reagisse
e voltei para os meus afazeres
no dia seguinte voltei, eu e o sol
e me admirei com a sua recuperação
não era mais a mesma, estava alegre
agradeci ao sol com muita emoção
a iniciativa foi dele, do seu convite
talvez soubesse que ela necessitava
do meu cuidado, como um palpite


sábado, 16 de novembro de 2013

NÃO ME PERGUNTEM MAIS NADA

não me perguntem por que estou triste
eu não vou poder dizer
eu não vou querer dizer
eu não vou saber dizer
a vida pra mim não mais existe

não me perguntem por que chorei
eu não consigo me lembrar
eu não consigo mais amar
eu não consigo mais chorar
a vida pra mim não é como sonhei

não me perguntem mais nada
eu não vou ouvir ninguém
eu não sou mais alguém
eu não vou mais além
a vida pra mim está terminada

sábado, 9 de novembro de 2013

DESCANSO NO CALÇADÃO DE BOA VIAGEM

Calçadão de Boa Viagem
   Calçadão de Boa Viagem, pouco mais de nove da manhã, o calor já começa a incomodar. O fluxo de veículos na Avenida Boa Viagem é intenso, carros em velocidade moderada, alguns em alta velocidade, os apressadinhos do trânsito. É um dia normal da semana, uma quarta-feira, para ser mais preciso. Sentado no que poderia chamar de banco, estruturas de concreto que dividem a calçada da areia da praia, eu descansava numa sombra de árvore, das inúmeras que existem em quase toda a extensão da orla. Nada para fazer, apenas olhar o vai e vem de pessoas em suas caminhadas, algumas acompanhadas batendo um papinho, outras com fones de ouvido escutando músicas, o que é normal hoje em dia. Atrás de mim o mar verdinho, água parada tal qual uma enorme piscina, uma vontade incrível de dar um mergulho, mas não posso, não estou com roupa de banho, estando aqui porque vim em Boa Viagem resolver um problema e acabei sentado aqui a olhar os altos prédios da orla, o semblante das pessoas nesse caminhar pra lá e pra cá, além de observar a beleza desse mar, esse mundo de água salgada.

   O tempo passou, já deu pra refrescar a mente com esse belo descanso, já deu pra aliviar um pouco o peso dessa carcaça velha que chamam de corpo. Olho o relógio, são mais de dez da manhã, até que não demorei muito. Vamos embora, Moacir (digo pra mim mesmo e em voz alta), sem me incomodar se alguém ouviu ou não.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

AINDA GUARDO

o tempo passou mas nunca esqueci
os momentos felizes que passamos juntos
tudo que falávamos entre tantos assuntos
ainda guardo essas lembranças
e o toque de minhas mãos no seu corpo
jamais esqueci suas juras de amor
e dos seus beijos ainda sinto o sabor
no coração nenhuma mágoa
apenas a sensação de que não partiu
deixando somente o vazio em minh’alma
mas espero tranquilo com muita calma
pois ainda guardo o desejo de vê-la
de tê-la novamente nos meus braços
não sei o motivo da sua partida
só sei que deixou uma grande ferida
nesse peito que espera a todo momento
deixar de sofrer e acabar essa ilusão
de ficar somente sonhando acordado
ainda guardo a vontade de não ser isolado
desse amor que poderia ser eterno
com nossos sonhos sendo realizados

K A I O

Foto: Chegueeei, titiiia! Kaio todo lindo e amostrado. #sobrinho #amor
a porta se abriu
e Kaio saiu
a mãe sorriu
depois que pariu
e o pai sentiu
que novo amor surgiu
a família se reuniu
e todo mundo concluiu
que a prole evoluiu
e um manto caiu
pois Jesus interferiu
quando do ventre partiu
o menino que não viu
o prazer de quem sorriu
(Homenagem a Kaio César, segundo filho de Débora Denise, sobrinha de minha esposa)

EM OUTRO MUNDO (SONHO REVELADOR)

   A estrada deserta metia medo quando Leo caminhava com a mente completamente perturbada. Parecia noite, mas não era, apesar da quase escuridão reinante. O céu cinzento com nuvens de um cinzento bem mais escuro demonstrava claramente não ser aquele que ele conhecia. Afinal onde ele estava? O que estaria acontecendo e que lugar seria esse que o deixava perturbado? Estaria sonhando? Mas era tudo tão real, apesar de não ver ninguém por ali, firmando bem os pés no chão, até se beliscando para comprovar a sua presença naquele local deserto e que cheirava mal.

   Depois de muito caminhar sem conseguir chegar a lugar nenhum, Leo parou e procurou um canto para descansar. Viu uma pedra enorme e nela sentou, já que as pernas não mais aguentavam, se sentindo um farrapo humano. Sozinho ali começou a pensar nos momentos que antecederam aquela jornada, mas o cérebro não ajudava, parecia que uma cortina de esquecimento tinha coberto sua cabeça. Pensou no que fazer dali pra frente, a quem poderia recorrer. Continuar andando estava fora de cogitação e o jeito foi deitar ali mesmo e tentar dormir, mesmo com um certo receio de algo grave acontecer. Dormiu quase que instantaneamente e sonhou. Estava no planeta Terra em meio a grande quantidade de pessoas e logo reconheceu o seu exato lugar. Lembrou-se das pessoas as quais conhecia, ou seja, os familiares e os amigos. Sabia que estava dormindo naquele mundo estranho, nunca visto por ele e não queria acordar, queria aproveitar aquela “visita” em busca de mais informações que o tivessem levado para ali. Se defrontou com um antigo rival, um homem a quem nutria um ódio tremendo. Leo logo reconheceu ele, era Saulo, de quem fora amigo mas que o destino o fez se apaixonar pela sua esposa. Passou algum tempo se relacionando com ela às escondidas até certo dia ser descoberto. Saulo não perdoou a sua traição e o jurou de morte. Leo passou um bom tempo fora do alcance do rival temendo ser morto, fugindo para outra cidade. Mas a saudade da amante o fez retornar para vê-la e o pior aconteceu: Saulo o aguardava e ao vê-lo desferiu um tiro em seu peito e outro na cabeça, seguido de mais um nos órgãos genitais. Leo não resistiu e diante dessas tristes lembranças acordou assustado. Agora já sabia onde estava.

E L A

ela era tão linda!
eu tinha tanta vontade de namorá-la
de tê-la nos braços, de beijá-la
de poder compartilhar momentos
que só o meu cérebro imaginava
momentos esses quando eu delirava
achando que o mundo era só meu

ela era tão perfeita!
suas curvas me deixavam sem ação
eu lhe admirava, palpitava o coração
só vendo o seu jeito de falar
era tranquila, não gostava de galanteios
não exibia as pernas, protegia os seios
mas deixava à mostra seu sorriso

ela desapareceu!
nunca mais a vi no colégio
foi como um grande mistério
sem poder ver a sua imagem
quase perdi o ano letivo
pois fiquei muito pensativo
querendo saber do seu paradeiro

CRIMES E CASTIGO

   Denis despertou em um local estranho, fétido e silencioso, se vendo sentado e todo sujo, onde nunca imaginaria poder estar. Estranhou aquela situação, logo ele, um homem fino e requintado, de bom gosto, apreciador de lugares exóticos, de boa comida, que tinha diversos empregados à sua disposição e ali naquela imundície. Que estaria acontecendo para ele estar ali? Não conseguia entender ou talvez recordar o que teria ocorrido para se ver naquele local imundo, com aquela massa nojenta li perto que mais parecia fezes humanas. Uma espécie de riacho corria próximo a ele, mas a água era escura e cheirava mal, nem dava para aliviar a sede enorme que sentia. Imaginou que estava sonhando, um sonho macabro que o atormentava, tentando acordar a todo custo, mas nada acontecia, aquilo era real, ele estava vivendo aquele momento cruel que tanto o transtornava. Denis não teve outra alternativa senão esperar e além disso ter que aguentar aquele fedor insuportável, pois não tinha sequer forças para erguer-se e deixar aquele lugar. Não sabia distinguir se era dia ou se era noite, a luminosidade ali era pouca, via alguns arbustos e ao longe montanhas e caminhos entre árvores, algumas rasteiras e outras bastante altas.

   Depois de horas a meditar, a querer saber o porquê daquilo tudo, Denis conseguiu reunir forças e levantar-se. Caminhou um pouco sem rumo certo e pela primeira vez chorou. A partir desse momento sua mente foi clareando, já conseguia lembrar alguma coisa da sua vida, até então envolta em uma cortina de esquecimento. Era um homem de atitudes severas, gostava de dar ordens aos empregados da enorme fazenda que possuía, onde os mantinha em cárcere privado. Lembrou-se dos vários que ele mesmo eliminou quando desobedeciam suas ordens e de outro tanto que mandara os capangas matar. Realmente ele foi muito cruel com seres humanos, com pessoas afastadas de suas famílias e agora sentia uma pontinha de remorso e não tinha coragem de pedir perdão pelos seus atos, achava que não era merecedor. Tarde demais para Denis, muito tarde para voltar atrás, principalmente por se encontrar naquele lugar impuro, deserto, com as características de um verdadeiro inferno, só faltando o fogo. Já imaginava o que teria acontecido com ele e a certeza veio logo, quase que imediatamente. O seu cérebro já funcionava normalmente, já lembrava de tudo. Havia amarrado um empregado seu, melhor dizendo um escravo. Estava a caminho de matá-lo pessoalmente e de forma cruel. O mesmo estava amarrado e não oferecia risco algum para Denis, que o arrastou com uma corda montado em seu elegante cavalo. Iria jogá-lo de um despenhadeiro, queria ver seu corpo caindo de uma enorme altura e ria debochadamente. O pobre homem bastante machucado já estava pronto para ser lançado no vazio mas o atrito do chão nas cordas fez com que as mesmas arrebentassem quase totalmente e o deixaram praticamente livre. No momento em que Denis, sozinho, descia do cavalo, seu empregado levantou-se e o  empurrou em seu lugar. De nada adiantou o grito do patrão perverso, pois seu corpo se projetou no espaço vazio do despenhadeiro e a morte foi certa. Montado no cavalo do ex-patrão o pobre coitado fugiu para bem longe em busca de sua família.

MEDITAÇÃO NOTURNA

   Caiu a noite em Cabedelo, no céu sem nuvens as estrelas cintilavam como que agradecendo aos seres humanos por apreciarem os seus brilhos, por proporcionarem uma noite maravilhosa e de um clima fresco e aconchegante. Não era uma noite como outra qualquer, ela tinha algo de interessante, alguma coisa que despertou em mim o desejo de me aprofundar no seu encantamento, na escuridão do céu infinito e me ofuscar nos brilhos dos corpos celestes errantes. Eu me imaginei ali, naquele espaço desproporcional para o meu corpo, mesmo ele estando no chão firme, flutuando numa nave espacial mentalizada por mim, respirando um ar diferente e que meus pulmões necessitavam.
   Atravessei a avenida depois de um ônibus da “Reunidas” passar fazendo um sinal para que os carros parassem e me deixassem seguir em direção à praia, pois lá o silêncio me ajudaria a compactuar com o clima noturno, levado por esse estranho desejo ofertado pela natureza. Não saiu de mim essa vontade de cumprimentar a noite, de sair em busca de uma certa paz de espírito, ímpeto que me fortaleceu mental e fisicamente. Agradeci por essa oportunidade de me conhecer mais, de me ver por dentro e de querer mudar as minhas decisões para melhor, ser o que realmente é necessário para que corpo e mente prosperem no caminho do bem.

   As horas se passaram e quase não notei, tão concentrado estava na beira da praia, preso em pensamentos, no frescor noturno dessa noite cabedelense. Voltei mais descontraído, mais humano, mais equilibrado com a realidade depois dessa meditação, me sentindo até outra pessoa. Atravessei a avenida sem precisar fazer sinal algum, pois os motoristas ao me avistarem já paravam seus veículos deixando livre o meu caminho. Até o motorista do ônibus da empresa “Reunidas” participou da gentileza em prol de um sexagenário que fora até a praia meditar, aproveitando essa noite gostosa e que muitos benefícios proporcionou a esta criatura que espera que outras façam o mesmo.