sábado, 29 de outubro de 2011

A VELHA GERINGONÇA

ovo co coroa A pipa do vovô não sobe mais!
a velha geringonça não funciona mais
me prestou relevantes serviços sem reclamar
resolveu entregar os pontos sem me comunicar
podia ter me avisado com antecedência
ter me dado tempo de me preparar
de tomar um remédio, de me consultar
a velha geringonça baixou a cabeça
não quer se levantar e cumprimentar alguém
não entra em qualquer lugar, não quer vai e vem
oh! minha pobre geringonça querida
como é que vou viver com a tua ausência?
ficarás escondida precisando de clemência
a velha geringonça já trabalhou demais
entrou em muita roda, vivia sempre no meio
agora me deixou triste, até com certo receio
adeus minha inseparável geringonça
vou me lembrar sempre dos nossos prazeres
estamos afastados daqueles grandes afazeres

PRATO DE PAPA

a janela do quarto foi aberta lentamente
deixou entrar a claridade que eu precisava
mais de sete horas da manhã, eu nem ligava
vivia fora do tempo, fora da realidade
sentia medo, não tinha em quem pensar
necessitava de ajuda para me alimentar
a idade avançou, a doença veio me procurar
a assistente me trouxe um prato de papa
a única comida que ainda conseguia comer
ela me dava na boca, tamanho era seu prazer
o dia se passava na maior monotonia
as pernas não ajudavam, pouco conseguia andar
no final da tarde um prato de papa a me consolar
ao meu lado um anjo acariciava meus cabelos
era o momento de pausa do meu sofrer
chorava um pouco mesmo sem nada compreender
meu anjo me fazia viver, me deixava dormir
esperava sempre o prato de papa que trazia
queria lhe agradecer, mas apenas sorria

A P A G U E I

as últimas luzes da cidade se apagaram
seu brilho até que me incomodava, queria dormir
precisava descansar, estava tonto, podia cair
mas insistia em caminhar em passos lentos
madrugada fria, o dia já estava raiando
estou à caminho de casa, o sono chegando
a noite foi maravilhosa com os meus amigos
o tempo parecia não passar para mim
imaginava que a curtição não teria fim
puxa! meus olhos querem mesmo se fechar
tento em vão em casa chegar sozinho
vencendo o medo, sentindo aquele friozinho
não teve jeito! apaguei completamente na rua
alguém deve ter me ajudado a chegar
estou na cama fofinha, depois de relaxar
abri os olhos, vi que dois olhos me olhavam
de alguém que teve carinho, que teve compaixão
de um pobre notívago que vive só de ilusão

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

PUM NA REUNIÃO

tentei disfarçadamente controlar uma situação
as pessoas já se entreolhavam desconfiadas
logo agora com gente de línguas afiadas
tenho até vergonha de falar no assunto
aquela bendita feijoada me deixou na mão
acompanhada de uma caninha com limão
agora estou enrolado, num beco sem saída
vou ficar falado, coitada da minha fama
minha vontade é me esconder embaixo da cama
o ar está insuportável aqui no ambiente
em plena reunião de condôminos foi acontecer
de sair um pum, que vontade de morrer!
e o danado é que é um atrás do outro
sem poder prender, cada um querendo feder mais
vou sumir do mapa, nesse prédio não moro jamais
pum desgraçado, por que fez isso comigo?
por que não esperou a reunião terminar?
todo mundo me olhando, com que cara vou ficar?

O SONHO DE MARILENE

soou o apito do trem
e marilene correu contente prá janela
tinha os atributos de uma linda donzela
sonhava, vivia no mundo das nuvens
almejava conhecer um príncipe encantado
e viver para sempre com seu amado
mais um apito do trem
anunciava a sua partida da estação
fitava os passageiros, palpitava seu coração
esperava alguma coisa acontecer
um olhar, um sorriso, um aceno para ela
estava sempre de prontidão como sentinela
da janela imaginava o seu mundo
tanta gente descendo do trem, tanta correria
será que alguém não via que ela sorria?
os dias passavam, o trem nesse vai e vem
não trazia o príncipe que marilene esperava
talvez ninguém percebesse que ela sonhava
da janela era a sua única visão
o apito do trem era como um chamado
dele podia descer o desejado namorado

domingo, 23 de outubro de 2011

LÁ VEM O NEGÃO!

HOMENS NEGROS
roda de mulheres, o assunto é homem
falam de tudo, de trabalho, amor e sexo
falam de coisas que até não tem nexo
mulher tem a fama triste de fofoqueira
não atingindo todas, algumas apenas
as que rodam a baiana, que fazem cenas
para essas tem um cara que se apresenta
é um moreno chato metido a gostosão
só porque tem carro e dinheiro na mão
faz pose e ar de um bom moço
colar no pescoço, seu carro é conversível
toma cachaça e mostra ser sensível
quando chega a mulherada logo grita
com entusiasmo dizem: “lá vem o negão!”
mas para mim o cara não presta não
é enrolão, gosta só de conversar
não gosta de ninguém, quer curtir a vida
todas vão na onda, nenhuma é preferida
e o negão vai se aproveitando com charme
ter carro e dinheiro não é a solução
ciúme? não! dou apenas minha opinião


quinta-feira, 20 de outubro de 2011

L I X O

o vento sopra, as folhas das árvores balançam
muitas caem e rodopiam pelo chão
são levadas pelo vento, formam um montão
se transformam em lixo, outro ciclo começam

assim são as pessoas, não sabem por que vivem
são como as folhas jogadas pelo vento
não escolhem o bem, procuram o sofrimento
se igualam ao lixo, amor ao próximo não sentem

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

FAÇO DE CONTA

o mundo é belo, é o nosso paraíso
fico extasiado com tanta beleza assim
faço de conta que o mal já teve seu fim
me deslumbro com os rios, com os mares
com as nossas florestas verdes e protegidas
faço de conta que pelo fogo não foram atingidas
fico feliz com os países em desenvolvimento
vendo seus governos honestos em plena ação
faço de conta que não existe político ladrão
o homem do campo trabalha pela família
não precisa ir à metrópole procurar emprego
faço de conta que sempre temos um aconchego
todos somos iguais perante a lei
um ajuda o outro, não existe discriminação
faço de conta que vivo bem sem reclamação

domingo, 16 de outubro de 2011

COMO SE FOSSE

sobrevôo as cidades, observando suas belezas
em vôos rasantes como se fosse um aeroplano
mentalmente pousando no cume das árvores
sentindo o frescor das folhas, um tanto insano
penetro nos pensamentos das pessoas em volta
querendo saber seus segredos como se fosse Deus
descobrir o que querem, o que pensam de mim
sei que não posso jamais saber os destinos seus
percorro os céus, o espaço, os planetas
vago como se fosse um cometa errante
procurando algo que talvez não saiba o que
querendo estar apenas num lugar distante

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

L A R A

Olhei atentamente para o final da rua
Longe, uma figura me chamou a atenção
A sua elegância, seu charme, era outra não
Rezei para estar certo, para ser ela
Aquela a quem amei com verdadeiro amor
Meu coração palpitava a cada passo dado
Eu não saberia o que dizer, estava emocionado
Lara, era você, era quem eu queria encontrar
A emoção invadiu meu peito, estava a sonhar
Restos de esperança afloraram em minha mente
As lembranças do passado foram esquecidas
E o seu abraço gostoso veio depressa
Outra coisa melhor não poderia acontecer
Longe de tudo e de todos ficamos a conversar
A sua beleza e os seus beijos que me encantavam
Representavam agora os delírios que faltavam
A pureza de um amor que estava guardado
Esperando apenas o momento para renascer

A GRANDE LARGADA PARA A VIDA

foi dada a largada, a oportunidade é única
é a grande chance de um gameta ter vida
há uma grande distância a ser percorrida
são 350 milhões de espermatozóides ao meu lado
preciso correr, o destino é a tuba uterina
não posso nem escolher ser menino ou menina
o importante é a vida, ser o primeiro a chegar
essa corrida vai determinar agora o meu destino
aproveitar a ovulação, encontrar o gameta feminino
a união me deixará alegre, vai me fazer gente
se não conseguir entrarei no mundo do nada
e assim como os outros terminarei minha jornada
sou apenas um pobre espermatozóide solitário
à procura de um simples ovócito secundário
após ser empurrado naquele jato do prazer
só depende de mim agora me tornar humano
posso ser um sonhador mas quero ser um fulano
todos aqui estão com o mesmo pensamento
de encontrar a outra parte para a vida
            a sorte está lançada para a vitória merecida

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O MUNDO LÁ FORA


















existe um mundo lá fora
existe sim, tenho certeza
deve ter coisas, muita beleza
minha intuição diz que sim
pois sinto pessoas bem pertinho
dizem coisas... não estou sozinho
ficam conversando, depois silenciam
pelo jeito elas sabem de mim
imaginam por que estou assim
neste espaço minúsculo, apertado
sem conforto, todo molhado
preso a uma cordinha, sei lá!
tô doido prá sair deste escuro
pois essa vida não mais aturo
espere! vejo movimento na saída
tem alguém querendo me puxar
puxa! acho que agora vou vazar
que vontade de chorar me bateu
ôba! quanta gente na minha frente!
iguais a mim, bem maior, tô contente
tchau escuridão! vou nessa!

CAMINHOS

O vento sopra forte, empurra meu corpo
Sigo quase sem querer pela estrada
É o meu caminho, fujo da vida agitada
O tempo passa, chega então o cansaço
E me obriga a parar para refletir
Não gostaria de parar, preferia seguir
Existem outros caminhos para minha fuga
De pedras, sem fim, curtos, na escuridão
Não posso escolher, me falta a solução
O destino me chama, quero encontrá-lo
Percorro caminhos diversos num vai e vem
Não tenho companhia, não tenho ninguém

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

MOMENTOS

esqueci que hoje era um dia especial
esqueci... ou talvez nem quisesse lembrar
o sol brilhou hoje, amanhã também vai brilhar
é coisa de momento, isso não me preocupa
a manhã foi embora, eu nem me dei conta
hora do almoço, o sol estava a pino
olhei ao redor, um pensamento repentino
a tarde me convidava a um passeio no bosque
a tranqüilidade do ambiente era aconchegante
estava sozinho mas gostava da solidão
era um momento agradável, de ilusão
quando jogava fora os meus problemas
a tarde findava, vinha um novo convite
era a noite me chamando para sua companhia
ficava feliz, era outro momento de alegria
passava o tempo, esperava o amanhecer

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

DUAS LÁGRIMAS

Hoje eu derramei duas lágrimas
Apenas duas lágrimas para economizar
Talvez mais tarde não possa com elas contar
O meu tempo é pouco, é só para elas
Que me ajudam no dia-a-dia a desabafar
No meu eterno silêncio, no meu chorar
São problemas que se escondem em mim
Mas que os controlo com resignação
Eles estão na alma, no corpo, no coração
Vieram a mim por conta do destino
Duas lágrimas são meu consolo no dia
Não é preciso mais, outras considero demasia
Acordo já pensando nelas, em soluções
Mas não encontro um jeito que satisfaça
Recorro às lágrimas, talvez por pirraça

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O PESCADOR E O MAR

Olhei aquele mar, meu semblante era triste
Meus olhos com lágrimas fitavam o infinito
Era o meu mundo, eu o achava bonito
Dele eu precisava para tirar o sustento
Sem ele para mim a vida não existe

Olho sempre o mar, admiro sua imensidão
Não resisto quando a vontade aperta
Para um pescador é uma coisa certa
Precisa gostar, conhecê-lo profundamente
Pois é o seu destino, o seu ganha pão

Olhando o mar eu vejo a tristeza
Muitos se aventuram e não voltam
A maioria volta, os seus barcos encostam
Misturando a tristeza com a alegria
Apesar de tudo o mar é sonho, é beleza
 

terça-feira, 4 de outubro de 2011

ONTEM BEBÊ, HOJE BEBAÇO

1949 – acabei de sair da barriga da minha mãe
Tô pelado, choro que nem um desgramado
Tem uma parteira me segurando, olhar abismado
A danada me colocou de cabeça para baixo
Não sei o que houve, mas acho que vomitei
Saí daquele túnel onde um bom tempo passei
Graças a Deus tudo agora está bem claro
Agora sim, saí daquela eterna escuridão
Só falta a parteira cortar esse cordão

2011 – acabei de sair de um certo bar
Tô bebaço, soluço que nem um desgramado
Tem um guarda me segurando, olhar abismado
O danado me colocou de cabeça na parede
O sacana me saculejou, acho que vomitei
Saí daquele bar onde a conta não paguei
Graças a Deus começo a ver tudo claro
Agora sim, saí daquela bruta confusão
Só falta o guarda soltar a minha mão

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

CADÊ O FUTURO?

cadê o futuro que não chega?
por que não chegam as coisas que espero?
é tudo na vida que eu tanto quero!
me lembro de coisas imaginando o passado
percorro todos os caminhos da minha vida
carregando as lembranças na mente sofrida
cadê o futuro que não chega?
todo esse tempo não foi suficiente
para me deixar de certa forma contente
parece até que apenas vivemos o presente
que as coisas do passado não mais existem
e que para pensar no futuro poucos persistem