quarta-feira, 29 de agosto de 2012

A FANTÁSTICA VIAGEM AO PLANETA RICAOM – II Parte


PROJETO RICAOM – A GRANDE MISSÃO
O RETORNO

    Um dia antes de retornar ao planeta Terra, ainda pela manhã, pude apreciar o sol nascer, não o nosso conhecido rei dos astros, mas um sol próprio da galáxia do planeta Ricaom, de um brilho maravilhoso, esquentando gradativamente e depois se tornando fraco, quase uma penumbra, permanecendo assim até o que eu poderia chamar de anoitecer, porque lá não existia a noite e sim um tempo claro, apenas com o astro-luz iluminando com raios fracos, sumindo para surgir com mais intensidade no dia seguinte. Assim eram os dias em Ricaom, que pelos meus cálculos duravam algumas horas a mais que os dias da Terra.
    Anerom me viu ali solitário e me chamou através de seu contato telepático para um passeio pelos lindos campos desse planeta, tão maravilhosamente parecido com a nossa Terra, de clima semelhante, com densas florestas e grandes montanhas. Era um planeta de dimensões um pouco maiores que o nosso e nele eu tinha certeza que qualquer outro ser humano poderia viver ali tranquilamente. Passeamos juntos durante um bom tempo, já começando a sentir saudades daquele lugar tão aconchegante, tão gostoso, de habitantes que me recepcionaram tão bem, principalmente ela, que me deu toda atenção, que me fez sentir o que é realmente viver feliz. Eu queria tanto ouvir a sua voz, sentir realmente o impacto de suas palavras, mas ela não falava, apenas me entendia telepaticamente o que eu queria dizer, assim como eu captava o que ela me transmitia. Às vezes eu pronunciava algumas palavras, ela apenas ria e esse seu sorriso me martirizava, me fazia querer ficar ali do seu lado, esquecer que a Terra existia ou que era apenas um planeta do sistema solar, de outra galáxia. Na realidade eu não fazia a mínima questão de voltar, o que eu queria era só a sua companhia, estar ali do seu lado, mas ela me fazia compreender que eu precisava retornar para o meu planeta.

    O astro-luz de Ricaom já iluminava o planeta com seus raios fracos quando, impulsionado por meus sentimentos, tomei-a nos braços e encostei meus lábios naquela boca que nunca emitiu uma palavra. Anerom ficou imóvel como se aceitasse a minha investida e isso me animou demais, continuei com aquele beijo gostoso e sentindo o seu corpo macio colado ao meu. Telepaticamente ela me repreendeu, mas sentiu também uma sensação diferente, talvez um coisa que ela não conhecia e queria então provar. Nos deitamos na relva e eu procurei fazer o que um homem faz normalmente com uma mulher, ou seja, possuí-la. Afastei suas estranhas vestes, desnudando-a, vendo que também usava uma espécie de “calcinha”. Tirei-a com bastante cuidado, tendo ela permanecido totalmente indefesa, permitindo que eu a possuísse. A sua parte íntima era idêntica a de qualquer mulher terrena e eu não resisti a tentação de penetrá-la com muito tesão, afinal nenhum homem aguentaria uma situação dessa. Nos amamos naquele ambiente silencioso e senti o seu olhar e na sua mensagem telepática que ela também desejaria que eu ali ficasse, mas como a sua inteligência era bem superior à minha e a de qualquer outro habitante da Terra, concluiu que eu deveria partir na data precisa, ou seja, no dia seguinte, que já se avizinhava.

    Entrei na nave um pouco triste, porém consciente da minha missão de conhecer o planeta Ricaom, copiar seus costumes e tentar utilizá-los na Terra, almejando um dia termos um planeta livre de grandes mazelas, enfim de todos os males que afligem seus habitantes. Fiquei feliz também por ter deixado em Ricaom uma semente da Terra que, se for germinada, quem sabe mude os destinos desses dois planetas. Liguei os motores, depois de uma rápida inspeção, rumando para o espaço infinito, levando no peito uma grande saudade do planeta e principalmente daquela mulher morena, sem voz, chamada Anerom, porém de uma inteligência fora do comum. Saberei que da Terra serei visto por ela, que continuarei a me comunicar telepaticamente com essa figura que mudou completamente o meu modo de viver.
    Os pouco mais de quatro dias terrestres se passaram com uma rapidez muito grande, quase não sendo percebidos pelo meu cérebro e a chegada ao meu planeta me fez retornar às minhas atividades normais, já pensando em uma nova missão ao planeta Ricaom.

(Esta história é a continuação de A FANTÁSTICA VIAGEM AO PLANETA RICAOM – PROJETO RICAOM – A GRANDE MISSÃO – VIAGEM DE IDA – I Parte)

terça-feira, 28 de agosto de 2012

A FANTÁSTICA VIAGEM AO PLANETA RICAOM - I Parte


PROJETO RICAOM – A GRANDE MISSÃO
VIAGEM DE IDA

    Cinqüenta milhões de quilômetros percorridos pelo espaço com destino ao planeta Ricaom, muito além do sistema solar. Minha dúvida era se o combustível, uma mistura de água e álcool, este último em pequena quantidade, seria suficiente para essa viagem de ida e volta. A nave por mim projetada, batizada de “Imaginação I”, teve seu percurso tranquilo, sem apresentar nenhum problema durante a viagem, que durou pouco mais de quatro dias terrestres.
    O universo é lindo e silencioso, com pequenos pontos de luz, vários planetas desconhecidos e desabitados, uma imensidão que nos faz meditar sobre o que somos e o que deveríamos fazer na Terra, com tantas mazelas que poderiam ser evitadas. Uma sensação de tristeza invadiu o meu ser, me senti um inútil sobre a face do meu planeta, onde existe a falta de amor e de responsabilidade para com as coisas da vida. Vendo esse universo grandioso eu tive a certeza de que no planeta Terra não somos nada, apesar de termos capacidade para a realização de grandes feitos em benefício de todos os seus habitantes.
    Finalmente avistei o ponto luminoso tão desejado, uma luz que é o planeta Ricaom, o meu destino final, que da Terra tive o prazer de captar a sua localização através de contatos telepáticos com Anerom, uma inteligente mulher, que além de me ensinar a construir a minha nave, a “Imaginação I”, me orientou a produzir o seu combustível. Pronta a nave, fiz algumas evoluções na Terra, tendo muita gente confundido-a com um disco voador por ter a sua forma oval. As pessoas que trabalharam comigo nesse projeto não quiseram empreender essa viagem alegando que seria sem volta, porém guardaram o segredo a sete chaves. Resolvi fazer a viagem sozinho e agora já vejo o planeta Ricaom se aproximando de mim, me deixando deslumbrado e aguardando ansiosamente a recepção de Anerom. Com certeza ela estaria me esperando em um ponto determinado do seu planeta.
    A beleza do planeta Ricaom era exuberante, semelhante a da Terra, com árvores, montanhas e clima agradável. Movido pela telepatia meu cérebro recebia todas as informações necessárias para a aterrissagem, que ocorreu magnificamente. Um ser feminino bem vestido, apesar das vestes estranhas, rodeado  por outros seres, lá estava. Abri a porta da nave e desci sem proteção alguma, indo ao encontro de Anerom, que me estendeu a mão. Peguei-a suavemente e a beijei, sentido a maciez da sua pele. Palavras não existiam ali, não eram pronunciadas, apesar de se ver bocas aparentemente iguais as dos humanos da Terra. Telepaticamente ela me convidou para meus aposentos, onde confortavelmente me instalei.
    Todos sumiram de repente e eu me vi depois com Anerom em uma sala com equipamentos de última geração, bastantes avançados, onde era possível observar e estudar todo o universo, inclusive o planeta Terra. Era possível ver em todos os detalhes as cidades e os demais pontos de todo o planeta Terra (éramos espionados e não sabíamos). Visitei os pontos importantes de Ricaom em uma nave própria de lá, com o auxílio de Anerom, em evoluções que me deixaram maravilhado, conhecendo as suas cidades, seus rios e suas florestas, um lugar perfeito para qualquer terrestre sobreviver. Eu fui um privilegiado ao conhecer Ricaom e suas belezas, além da simpatia de uma mulher chamada Anerom, de uma pela morena e macia, além de uma beleza encantadora. Toda a comunicação em Ricaom é feita telepaticamente, sendo desnecessária a utilização de aparelhos, que são usados apenas para visualização de imagens locais e de todo o universo.
    Faltavam poucos dias para o meu retorno à Terra e Anerom me garantiu que o combustível era suficiente sim para eu chegar tranquilamente. Durante o tempo que estive em Ricaom a minha vida mudou muito, senti emoções que não conhecia na Terra, vivi momentos que não consigo explicar com detalhes, devido a sua sensibilidade magnífica. Tive vontade de ficar para sempre, esquecer o planeta Terra, mas Anerom não permitiu que eu deixasse as minhas raízes, que estava ali apenas por merecimento momentâneo, que o meu lugar era junto aos terrestres, pois tinha uma missão a cumprir, missão essa designada por Deus.

 (Aguarde a segunda parte desta história: A FANTÁSTICA VIAGEM AO PLANETA RICAOM – PROJETO RICAOM – A GRANDE MISSÃO – O RETORNO – II Parte)

O PAR DE CHINELOS


    O dia amanheceu e Lia deu graças a Deus, sentindo-se aliviada por ter despertado de um sonho pra lá de horrível. Estava ensopada de suor e a primeira coisa que fez foi correr para o banheiro, tomar uma chuveirada para refrescar a mente. Sonhara com um par de chinelos que fora deixado na porta de sua casa e um aviso de que lhe traria muitas infelicidades, motivo que a deixou perturbada.
    Lia tomou seu banho, fez a sua primeira refeição do dia e até esqueceu o sonho, coisa que não queria mais saber. Morava sozinha e não teve nem com quem comentar o maldito sonho, indo para o terraço olhar a rua e dar umas baforadas de cigarro, um vício que alimentava. Qual não foi o seu espanto quando viu um par de chinelos na entrada da casa, em frente ao portão. Refeita do susto pegou os chinelos e jogou no meio da rua, entrando em seguida, intrigada com isso. O dia passou e ela se distraiu com leitura, passando depois a ouvir música, já que era um final de semana e não precisava trabalhar. À noite foi dormir normalmente, lembrando do sonho, mas não quis se importar.
    No dia seguinte acordou tranquilamente, fez o café e se alimentou. Era domingo e tencionava pegar uma praia. Quando ia saindo viu os malditos chinelos na sua porta, deixando-a assustada. Pronto, perdeu o dia, se perturbou, mas pegou os chinelos e jogou-os em outra rua, voltando para casa e desistindo de ir à praia. Preferiu ouvir música e ler alguma coisa, o que mais gostava.
    A noite chegou e Lia já se preocupava com esse fato, com o sonho que perturbou a sua vida, não sabia o que fazer, indo dormir já pensando em encontrar o par de chinelos novamente. Por ter jogado longe imaginou que eles não viriam sozinhos lhe importunar.
    Acordou na segunda-feira tranquila, era dia de branco e precisava sair para o trabalho que a esperava. Levantou e ganhou a sala, deparando-se com o par de chinelos na porta, na parte de dentro. Lia quase perdia os sentidos mas teve coragem e com bastante raiva pegou os chinelos e cortou-os de faca, jogando os pedaços num saco e colocando na rua, pronto para o caminhão do lixo levá-lo. Saiu para trabalhar constrangida, tendo sido esse o pior dia da sua vida, pois nem se concentrou direito no seu trabalho.
    A sua noite foi bastante agitada, não conseguindo dormir, virando-se pra lá e pra cá na cama. Levantou-se, tomou água e voltou para a cama, até que conseguiu finalmente pegar no sono. Sonhou novamente com o maldito par de chinelos e dessa vez teve a nítida impressão de ter ouvido uma voz que dizia se ela calçasse os chinelos morreria. Isso a deixou apavorada na manhã seguinte quando acordou. Levantou-se e dirigiu-se para a sala, esperando encontrar os chinelos, mas não os viu. Esboçou uma certa satisfação, porém teve a sensação de que se sentia leve, que parecia flutuar e ao baixar a cabeça viu que estava com os chinelos nos pés, em vez dos seus. Teve um mal súbito e caiu pesadamente na sala, como se estivesse sido jogada do alto. Lia morreu conforme dissera a estranha voz do sonho.

domingo, 26 de agosto de 2012

A SOMBRA DA MORTE


......Os galhos de árvores pararam de repente, à toA
..........A falta de ventos deixaram eles sem movimentoS

........A noite desceu rapidamente e tudo ficou no escurO
Na estrada entre as árvores sem vida apenas um homeM

..O medo tomou conta dele, seu caminho era aquele, saBia
....Gelou o seu corpo, de pernas bambas temia desfaleceR

.Não tinha como recuar, estava no meio daquela estradA
Algo anormal acontecia, lhe fez falta agora a claridaDe

.......Precisava caminhar ligeiro, sair dali sem demorA
Súbito a lua presenteia com luz prateada, ele diz améM

........Por entre as árvores uma sombra, ele vê um vultO
..........Em seguida um grito forte se ouve naquele lugaR

....Tendo a sombra envolvido seu corpo e deixado inerTe
.......Ninguém viu nada, só um corpo na manhã seguintE

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

A MORTE SÓ QUER UMA DESCULPA


    Áurea voltou apressada da cartomante, precisava chegar em casa antes que o marido saísse para o aeroporto. A madame não tinha lhe dado boas notícias a respeito da viagem que Alfredo faria, tinha visto algo anormal em sua bola de cristal, algo que comprometia a vida dele, não era para fazer essa viagem, seria melhor deixar para outro dia. Áurea se perturbou, motivo pelo qual saiu correndo para casa com o intuito de evitar que o marido fosse para o aeroporto. Mas era tarde, ele já havia tomado um táxi e se dirigido para o local de embarque. O carro estava na garagem e rapidamente ela pegou as chaves e foi ao seu encontro, talvez desse tempo de evitar que entrasse no avião.

    Estacionou o carro e com a rapidez de um raio conseguiu alcançá-lo no saguão, já no momento de apresentar o bilhete de embarque. Alfredo ficou surpreso com a chegada da esposa, com o seu desespero, não querendo que ele embarcasse. Atônito com aquela situação, Alfredo pediu que tivesse calma, que nada iria acontecer e que precisava viajar, afinal era uma viagem de negócios e a sua presença era indispensável nessa reunião. Por mais que ele insistisse ela argumentava que não poderia viajar, que ele estava correndo um grande risco e que ela não pretendia ficar viúva tão cedo. Enfim Alfredo se convenceu e desistiu da viagem, cedendo aos apelos da esposa tão preocupada com o seu bem estar.

    Já dentro do carro, profundamente abatido, lamentando ter que faltar a uma reunião tão importante para a empresa em que trabalhava, Alfredo consolou Áurea, que agora estava bastante calma, suspirando de alívio por ter evitado uma desgraça na família. Gostava muito do marido, era o homem a quem se dedicara nos últimos dez anos, sentia-se bem ao seu lado e não imaginava como seria a sua vida sem ele. Mesmo a contragosto ele a abraçou e a beijou, ligando em seguida o carro e pegando a estrada, tomando o destino de casa, onde em poucos minutos eles chegariam.

    A pista estava livre, com pouca movimentação de veículos, o que o fez dirigir a uma velocidade razoável, afinal não tinha pressa para chegar e quando isso acontecesse trataria de tomar um banho e seguir depois para o escritório, onde arranjaria uma desculpa para justificar não ter viajado. Na sua retaguarda vinha uma carreta que desenvolvia  grande velocidade e Alfredo achou prudente deixar que o motorista o ultrapassasse, o que de fato já acontecia, só que um carro em sentido contrário achou de ultrapassar outro, justamente no momento em que a carreta já estava ao seu lado. Para evitar um choque frontal com esse veículo, o motorista da carreta foi forçado a jogar o pesado veículo para a direita, colidindo com o carro de Alfredo, que foi arremessado para fora da pista, capotando várias vezes. Alfredo teve morte imediata, enquanto Áurea teve algumas fraturas e escoriações, escapando milagrosamente.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

MEDO DA MORTE


   Quando eu era menino, uma criança ainda, podia ter meus oito a dez anos, tinha muito medo da morte, não gostava nem de ouvir falar nesse assunto. Para mim era como se fosse uma coisa fora do comum, uma coisa sobrenatural e que só os adultos deveriam tocar nesse assunto. Quando uma pessoa morria, geralmente pessoas mais velhas, era aquele clima de tristeza, o respeito no ambiente onde o defunto ficava, normalmente em suas casas, era de silêncio, com alguém rezando.
   Hoje as crianças já não pensam assim como eu pensava, já encaram a morte como uma realidade e também pelo fato de se lidar muito com ela, ou seja, a televisão mostra em suas reportagens policiais os crimes acontecidos, os cadáveres estirados nas ruas ou nas próprias residências, o que acostuma as mentes infantis, fazendo-as ver que a morte não é coisa do outro mundo.

A LEMBRANÇA DE UMA PESSOA MARCANTE


    Embarquei no trem na estação da minha cidadezinha e me aventurei a enfrentar uma viagem de algumas horas para uma outra cidade muito conhecida por mim, um lugar onde frequentei há muitos anos atrás, da qual eu guardo doces recordações, momentos de alegrias vividos com uma pessoa que nem sei se ainda existe, devido a sua faixa etária ser a mesma minha. Não sei explicar o que se passou na minha cabeça, não sei dizer o motivo pelo qual me fez realizar essa viagem, ir à procura de alguém que talvez nem reconheça, que talvez tenha já a sua família formada, com filhos e netos. Sinceramente, é uma coisa que até me deixa confuso, me deixa a questionar o que devo fazer se por acaso encontrar esse alguém que parece ser tão especial a ponto de me fazer percorrer tantos quilômetros em um trem para procurá-lo. Talvez nem seja eu que esteja me guiando e sim o destino, uma força que me conduz para uma nova realidade, procurar algo que possa estar faltando em minha vida.
    Já se passou uma hora desde que saí de minha cidade, o trajeto é o mesmo que fiz há longos anos, a paisagem não é a mesma por conta do desenvolvimento, com construções em locais onde antes não existiam. Eu via apenas o mato, pequenas e humildes habitações, o gado pastando e uma grande extensão de terras desabitadas. Pareço ter pressa em chegar ao meu destino, olho o relógio constantemente, às vezes me bate a saudade, o sentimento de não ter levado a frente essa amizade que poderia ter se transformado em amor. Penso também em desistir ou, quem sabe, chegando lá apenas dar uma volta, relembrar os locais por onde passei, apesar de já ter sofrido mudanças com certeza.
    Adormeci um pouco durante a viagem e sonhei com a chegada, com essa pessoa me esperando na estação, com aquele sorriso que só eu conhecia, com aquela gentileza natural em me tratar bem, de me dar um abraço bem afetuoso. Peguei minhas bolsas e me dirigi para a pensão onde sempre ficava, com ela do meu lado, me acomodava lá e depois ia para sua residência, onde era recepcionado por seus familiares. Saímos para dar uma volta, nos demos as mãos, apesar de não haver compromisso formal entre nós, mas era como se existisse, era como se fôssemos namorados, desfrutando de momentos prazerosos pela cidade, visitando as praças e sentando num banco para que pudéssemos conversar mais tranquilamente. Foi nessa hora que juntei meu rosto ao dela, estava ansioso para dar-lhe um beijo gostoso, provar da maciez dos seus lábios. Jamais eu havia tentado dada a minha timidez. Mas reuni coragem e quando realmente o beijo ia se concretizar... acordei nessa viagem tão demorada.
    Olhei o relógio pela centésima vez, pelos meus cálculos faltava menos de uma hora para a chegada ao destino final, faltava pouco para eu saber se teria alguém, não à minha espera, mas no mesmo local onde residia, se é que ainda morava por lá, o que eu estava achando difícil.
    Desci do trem meio sem jeito, parecendo um adolescente tentando encontrar a primeira namorada. Meu coração estava aos pulos, eu não conseguia controlar a minha emoção, me sentia como um estranho naquela terra onde visitei inúmeras vezes, onde conheci o que era a felicidade, onde existia uma pessoa que marcou a minha vida. A pensão não mais existia, dera lugar a um prédio de dois andares onde funcionavam algumas lojas e escritórios. A casa onde ela morava era a mesma, de estilo colonial, bem conservada e pintada. Me deu coragem e bati palmas, tentando chamar alguém. Uma senhora atendeu e com um largo sorriso perguntou o que desejava. Era ela! Tinha certeza que era ela. Fiquei parado como a esperar que ela me reconhecesse, contei mentalmente alguns minutos, até que ela novamente me perguntasse o que desejava. Nesse momento surge também um senhor meio calvo, bem forte, olhar penetrante e diz: “Quem é, querida? O que esse senhor quer?” Aquilo me fez procurar terra nos pés e não achar, me fez sentir um desprezado. Reuni forças e consegui falar, disse que procurava uma pessoa de nome Nara, que morava nessa residência em tempos idos. Ela então respondeu que era sua irmã, mas que residia em outra cidade, estava casada, tinha filhos e netos. Vislumbrei melhor, era realmente sua irmã, se pareciam muito naquela época. Ela me reconheceu e convidou para entrar. Relembramos os velhos tempos, conversamos sobre os fatos passados, as festas que costumávamos frequentar na cidade, os velhos conhecidos dali, alguns nem lembrava mais. Tomei um cafezinho gostoso com biscoitos, aquele mesmo que costumava tomar quando de minhas visitas. Necy me olhou discretamente e imaginou que eu gostaria de ouvir outra resposta a respeito de Nara, mas o destino quis assim, pelo menos tive notícias, sabia agora como ela estava.
    Regressei para minha cidade um tanto decepcionado, mas reconhecia que a vida não é como a gente quer e que cada um tem o seu caminho a percorrer. Talvez tivesse faltado de minha parte a iniciativa naqueles tempos de antes, quando a cortejava, quando desfrutava de momentos ao seu lado, de falar abertamente o que eu desejava. Sua timidez talvez tenha sido também uma resposta de que somente a amizade lhe interessava.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

POR UM PUNHADO DE REAIS

60
    Cíntia caminhou triste pela praia, estava sem rumo, carregando uma bolsa com alguns pertences. Estava decidida a não voltar mais para casa após uma discussão com seu pai por considerá-la uma moça vulgar, de viver de namoricos, de não gostar de estudar. Sua mãe era neutra, por ela não sairia de casa, alimentava a esperança de um dia mudar, criar juízo, ser gente. Ela chorou bastante com a sua saída de casa, já o pai ficou até satisfeito, ela que se virasse. Mas ela não estava ali na praia por acaso, tinha um propósito. Sabia que encontraria alguém ali, alguém que pudesse até lhe dar a mão, dar uma força para resolver seu problema. Hélio estava sempre ali, ora jogando vôlei, ora tomando uma com amigos ou mesmo só, meditando sobre a vida, pois tinha seus momentos de tristeza.

    A tarde já estava findando e Cíntia não vira Hélio, achando até estranho a sua falta, já que costumava estar sempre ali naquela área. Sentou-se na areia, decepcionada, já se arrependendo de ter saído de casa, deveria ter ouvido os conselhos de sua mãe, mas já tinha decidido, ia ver no que ia dar. Estava tão distante no pensamento que não viu uma pessoa sentar ao seu lado. Já o tinha visto por ali, sabia que aliciava garotas para turistas estrangeiros, resolveu dar atenção para ele. Conversaram bastante até que a noite caiu, tendo ele a convidado para um drink, tendo ela aceitado. Dirigiram-se a um restaurante das proximidades e sentaram em uma mesa reservada, onde foram servidos com bebida. Comeram alguns petiscos e até dançaram um pouco, até que sentindo-se cansada aceitou o convite dele para irem até seu apartamento.

    Cíntia entrou no quarto e se deslumbrou com o luxo, mas como estava exausta deitou-se e nada mais viu. Acordou quase pela manhã, totalmente despida, nos braços do desconhecido, que se chamava Marcelo. Sentiu-se envergonhada mas acabou se acostumando. Até aí ele tinha sido legal com ela, apesar de ter feito sexo com ela sem o seu consentimento, mas agora era tarde para questionar esse assunto. Fizeram sexo novamente e ela gostou, tendo ele prometido que daria tudo que precisasse, era só cumprir algumas ordens suas e se tornaria uma rainha ali.

    Marcelo precisou sair e deixou-a só, porém advertindo-a de que receberia uma visita. Cerca de uma hora depois a cigarra tocou e um homem bem vestido entrou, era a visita de que falara Marcelo. O estranho a abraçou e convidou-a para a cama onde rolou sexo por algum tempo. Ao sair deixou uma boa quantia com ela, que começava a gostar da situação. À tarde ele recebeu mais duas visitas e sua bolsa foi ficando recheada de dinheiro, o que a deixou feliz, não imaginando que chegasse a tanto. À noite Marcelo chegou e explicou-lhe a situação: as visitas eram agendadas por ele, que recebia a sua parte e a outra era entregue a ela pelo cliente. Foram para a cama e fizeram sexo a noite inteira, o que ela aceitava com prazer.

    Os dias se passaram e Cíntia já pousava de madame, tendo ganho um carro de Marcelo, além das comissões de cada homem com quem transava. Esse agora era o seu “trabalho”, o seu modo de ganhar dinheiro e ao mesmo tempo se divertir, pois a maioria dos seus clientes eram gringos e empresários, pessoas de alto poder aquisitivo.

    Cíntia passou a visitar os pais, dissera que estava vivendo com uma pessoa e passou a ajudá-los, já que eram pessoas simples. Sua conta bancária estava sempre sendo abastecida de reais e o padrão de vida se assemelhava ao de uma rainha, uma realidade que hoje em dia é normal na vida de muitas mulheres.

UM BRINDE AO PRAZER


      A aproximação de um homem fez Dalva ficar trêmula e inquieta. Ao seu lado um corpo sem vida numa poça de sangue. Era o mesmo que a sequestrara, junto com o que agora estava morto.
    Lembrou-se do ocorrido, quando voltava sozinha para o rancho e fora surpreendida por dois indivíduos, os quais, de arma em punho, a dominaram e levaram para uma cabana no meio do mato. Dalva foi então amarrada a uma cama onde posteriormente seria seviciada, satisfazendo os instintos bestiais deles. Ambos tomaram alguns goles de vinho e um deles foi em busca de madeira para alimentar a lareira, pois pretendiam passar a noite ali e ela seria a diversão. O que ficou com ela, quando o outro saiu, resolveu logo admoestá-la, tentando beijá-la e apalpando seus seios. Foi impedido por Dalva, que mesmo amarrada foi espancada, levando uns tapas no rosto. Com as duas mãos amarradas nada podia fazer, tendo que aguentar o assédio do elemento e ouvir  suas gargalhadas sarcásticas. Ela então fingiu colaborar com ele, pedindo para que soltasse uma de suas mãos, no que foi atendida. Ele a abraçou com o seu consentimento, mas não percebeu que ela tirou da roupa um canivete, aplicando-lhe um certeiro golpe na garganta, tendo o sangue começado a jorrar. Cortou então a corda que a prendia na cama e já ia fugir quando viu que o outro se aproximava.
    Dalva correu para os fundos da cabana, para tentar a fuga, mas o elemento parece ter percebido a sua estratégia. Deu a volta por trás e a surpreendeu já se embrenhando no mato, fazendo-o segui-la. Mais a frente ela caiu e viu a sua frente um cobra já pronta para lhe dar um bote, porém um tiro esmigalhou a cabeça do animal. Dalva foi arrastada então para a cabana e novamente amarrada a cama. O corpo do comparsa foi arrastado para fora para depois ser enterrado. O truculento homem preparou dois copos de vinho, tomou um bom gole e ofereceu também para ela, que recusou. Tentou beijá-la mas ela virou-se, o que o obrigou a esbofeteá-la. O elemento tomou mais um gole, oferecendo para Dalva o seu copo, sendo novamente recusado, fazendo-o jogar o líquido em seu rosto. Voltou para a mesa e encheu o copo, sorvendo em seguida, já aparentando embriaguez. Ela então teve a mesma ideia, pedindo para que soltasse uma de suas mãos e assim colaboraria com ele. Assim ele fez e Dalva teve que suportar aquele bafo nojento e o fungado no seu pescoço. De posse do canivete aplicou-lhe um golpe no pescoço fazendo seu sangue jorrar em abundância. O corpo do indivíduo tombou em uma poça de sangue e ela imediatamente cortou a corda que a prendia. Dirigiu-se até a mesa, encheu um copo de vinho e levantou a mão, como a brindar pela façanha. Em seguida jogou a bebida sobre o corpo do indivíduo. Estava feita a justiça com as próprias mãos.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

EM OUTRO PLANO FÍSICO


castelo9.jpg
   O salão era amplo e dava a impressão de ser um lugar suntuoso, onde apenas pessoas importantes frequentavam. As janelas deixavam entrar uma claridade abundante, os móveis tinham um estilo antigo e o piso parecia ser de mármore. Eu estava maravilhado com aquele ambiente nunca visto por meus olhos e ao mesmo tempo me perguntando o que fazia ali, naquele salão deserto, cheio de corredores, enormes janelas e um ar agradável. Sim, o que eu estava fazendo nesse local que mais parecia um castelo de contos de fadas? Sinceramente eu não sabia responder e daria tudo para que alguém me dissesse onde eu estava e o porquê dessa visita sem ao menos eu saber se fora convidado. Resolvi explorar o ambiente, conhecer mais esse lugar tão importante e tão misterioso. Percorri corredores, salas, abri portas e não vi ninguém, deduzindo então que poderia estar sonhando. Mas que sonho real era esse, tão claro e objetivo, tão material que me permitia tocar objetos, sentir aromas e andar tranquilamente sem ser incomodado? Não! Não era um sonho, eu estava bem acordado, eu ouvia os meus passos no chão de mármore, eu ouvia o canto de pássaros lá fora. Espere! Lá fora!

    Me vi agora na parte de fora daquele imenso imóvel, daquele que eu chamaria de castelo, onde pude vislumbrar altas paredes, janelas com vidros em várias cores, porém totalmente deserto. Eu estava perdido ali, não sabia o que fazer, não sabia como tinha chegado a tão encantador lugar, não via ninguém para perguntar e a única maneira foi parar um pouco e esperar. Sentei-me em um banco e fiquei a observar o que estivesse ao alcance dos meus olhos, as árvores, os pássaros nos galhos, o céu límpido e de um azul maravilhoso, diferente do da Terra. Ei! Espere um pouco, do da Terra? Eu mesmo estou dizendo isso e não sei por que o disse. Será que morri? Será que estou em outro plano físico? Não sei, não tenho certeza, não tem ninguém aqui para tirar a minha dúvida, só resta esperar.

    Adormeci ali, naquele banco aparentemente confortável. Mesmo adormecido eu pude vislumbrar vultos que me pegaram e me colocaram em uma espécie de maca e me levaram para um quarto. Não conseguia ver seus rostos, apenas suas vestes que eram alvas como a neve e que flutuavam ao sabor do vento. Mentalmente fui informado que ali agora seria o meu lar, a minha nova morada, que eu estava em outro plano físico, onde teria de seguir novas regras, novos ensinamentos. Realmente eu havia morrido e não sabia.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

DESPERTANDO PARA UMA NOVA VIDA


    Caetano despertou de um sono profundo e se viu em um quarto bastante aconchegante e higienizado. Tudo era bem conservado e limpo, o clima era agradável e dava para sentir o perfume das flores que via através de uma ampla janela, tendo ao fundo uma imagem que mais parecia um quadro pintado a pincel. Nunca imaginaria acordar em um ambiente assim tão acolhedor, tão confortável e apesar de estar sozinho sentia-se tranquilo. Ninguém ali para informar-lhe o que acontecera e o porque de se encontrar em uma cama, onde parecia um hospital. Não se lembrava de nada, sua mente estava confusa, não tinha a menor ideia do que possa ter ocorrido com ele.

    Passaram-se horas naquele ambiente sem que Caetano ao menos pudesse se mexer, também não podia, dado o estado de inércia em que se encontrava, com a mente ainda confusa e lentamente conseguindo lembrar alguma coisa sobre ele. Seu corpo estava paralisado, um só dedo não conseguia fazer qualquer movimento, pois tentara inutilmente, não tivera sucesso e se indagava a todo momento: o que teria acontecido? O silêncio era quebrado apenas pelo canto de pássaros, não os via mas sabia que através da janela, em algumas árvores, poderiam estar.

    Finalmente o silêncio foi quebrado com a presença de uma pessoa que adentrou o quarto, toda de branco, o que o fez pensar que realmente se encontrava em um hospital. Ela dirigiu-lhe um sorriso e lhe estendeu a mão, foi quando ele percebeu que podia também se mexer, estendendo-lhe a mão. Teve a sensação de sentir seu corpo estremecer e uma alegria momentânea tomou conta do seu ser. Caetano agora podia olhar ao seu redor, mesmo deitado, tendo a sua frente aquela moça que o fez mudar de comportamento. Ingeriu um líquido que lhe foi oferecido por ela, sentiu-se melhor da confusão mental e indagou sobre seus familiares, começando a se recordar de algo que não estava ainda bem claro no seu cérebro. Foi aconselhado a permanecer calmo, pois na hora devida seria cientificado de tudo. A possível enfermeira se retirou e o silêncio voltou a reinar, tendo Caetano permanecido em novo estado de letargia. Em pouco tempo adormeceu novamente em vista do efeito do que bebeu.

    Novo despertar, o mesmo ambiente que lhe fazia bem, desta vez com várias pessoas ao seu lado, com sorrisos alegres, de boas vindas, apesar de Caetano nada entender ainda. Sua mente reage, afloram informações que são do seu conhecimento e ele se sente triste, não imaginava que fosse parar naquele local, muito receptivo, é verdade, mas ele não queria. O que ele lamentou profundamente foi a velocidade que desenvolvia naquele automóvel conversível, de potência superior aos demais veículos, em uma rodovia deserta, tentando ser mais veloz que um companheiro que também corria, vindo ambos a colidir num curva em uma parede de rocha, nada mais se lembrando até acordar nesse quarto. Questionou sobre os parentes, mesmo já sabendo a resposta que iria ouvir, mas queria a certeza, poderia estar delirando em um quarto de hospital, moribundo, apesar de não sentir nenhuma dor, nenhum pedaço do seu corpo faltando. Se apalpou compulsivamente, sentia o seu corpo normal, sem ferimentos, nada que pudesse comprovar que estivesse morto. Estava consciente de suas faculdades mentais, estava agora se lembrando de tudo, da corrida na estrada, do acidente, enfim, sabia de tudo. E agora? Ouviu tranquilamente a resposta que não queria ouvir, mas estava consciente dos seus atos e não era hora de reverter a situação. Encontrava-se em outro plano físico, semelhante ao da Terra, onde as regras eram outras, muito diferentes e rígidas, só dependendo do próprio esforço para alcançar um nível melhor, sem nenhuma chance de retorno ao antigo plano físico.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

O CÃO QUE SALVOU DUAS VIDAS


    O trem desenvolvia uma certa velocidade que mal dava para Marlon observar a paisagem. Via-se mais as folhagens e árvores sem muita nitidez devido à proximidade, mas também ele não estava interessado nisso que nada representava. Estava abatido, triste e sem motivos para viver, com dois grandes problemas que o afligiam. Nesse momento estava voltando para casa, havia sido demitido do emprego onde trabalhava por vários anos e a alegação foi contenção de despesas na empresa. Sentiu-se um inútil e com dificuldade para arranjar outro emprego. O outro problema, o que mais o deixava depressivo, era com relação à fidelidade da esposa, quando fora advertido por pessoas bem próximas de que estava sendo traído. Marlon não quis acreditar, alimentava a esperança de que fossem apenas comentários maldosos e que tudo se resolveria com uma boa conversa com a esposa.

    Desceu cabisbaixo na estação e dirigiu-se para casa, onde a esposa não esperava que chegasse naquela hora. Poderia até tirar essa dúvida, chegando de mansinho, entrando pela parte de trás da residência, afinal ela achava que ele estaria no trabalho e não sabia da sua demissão. Entrou furtivamente pelo quintal, queria surpreendê-la com um abraço, um beijo, fazê-la pelo menos lhe dar um sorriso, porém o que viu deixou-o atônito, quase surpreso, pois queria acreditar que uma cena assim jamais veria. A esposa estava abraçada a um sujeito musculoso, sorridente, de vez em quando beijando-a ardorosamente, acariciando as suas partes íntimas. Parou e ficou a observar a lamentável cena, constrangido e em lágrimas, mas a esposa pressentiu a sua presença ali e o seu amante rapidamente fugiu. Mesmo surpresa ela o encarou, falou palavras duras e admitiu que não gostava mais dele. Ficou sabendo da sua demissão, o que a irritou mais ainda. Não houve violência nessa discussão devido a fragilidade emocional de Marlon, que se recolheu ao quarto. Ela juntou alguns pertences e saiu de casa, deixando-o bastante transtornado.

    Marlon deixou o quarto e ganhou a rua, dirigindo-se para um local ermo onde existia um precipício. Estava decidido a pular e acabar com a vida. Quando já intencionava dar início ao tresloucado ato, um latido chamou a sua atenção. Suspendeu o ato e olhou para trás, vendo que um cão latia insistentemente, indo até o local para ver do que se tratava, surpreendendo-se com uma criança em um cestinha envolta em panos. O pequeno cão parecia agradecer-lhe querendo subir em suas pernas, o que o sensibilizou bastante. Em seguida pegou a criança e levou para a cidade, comunicando o fato as autoridades, que em poucas horas identificou a mãe que havia abandonado a criança.

    O cão pertencia a mulher que se desfizera da criança e que agora estava detida. Marlon o adotou e agradeceu a ele por estar vivo nesse momento, sentindo-se um demente, um idiota que ia dar cabo da vida por coisas que poderiam ser resolvidas de outra forma. Aquela criancinha, aquele ser indefeso que fora abandonado, estava agora em uma creche onde Marlon sempre visitaria, sempre acompanhado do cão que salvou sua vida. Sentiu-se também responsável por salvar a vida de um ser inocente, que não tinha motivos para ser entregue à própria sorte.


(Texto extraído da poesia MARLON, O CÃO E A CRIANÇA).

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

TRIÂNGULO AMOROSO


Texto extraído da poesia TRAIÇÃO E DILEMA, deste autor.
    O vento frio fez com que Laura levantasse da cama e fechasse a janela do quarto, mostrando o seu belo corpo sensual, de curvas perfeitas, uma morena jambo pra ninguém botar defeito. Ela se orgulhava disso, fazia questão de exibi-lo com roupas curtas ou transparentes. Voltou para a cama onde se encontrava um belo rapaz com menos de trinta anos, tinha a idade de ser seu filho. Faziam amor com bastante frequência na mesma cama onde o marido também a possuía. A noite já dava sinais de que se aproximava e ela o apressou para ir embora. Ele morava a poucos quarteirões dali e estava sempre à disposição quando ela chamava. Davi vestiu a roupa e saiu, tendo o cuidado de não ser visto por vizinhos. Laura tinha uma grande afeição por ele, não querendo que arranjasse namorada em hipótese alguma, tinha advertido-o.
    Jesse chegou do trabalho ao cair da noite, era um marido pontual e sem defeitos. Amava a esposa e era correspondido, fazendo amor com ela sempre que necessitava e ela o cobria de carinhos, dedicava um amor que pouca gente sabia dar. Era uma perfeita esposa, não tinha filhos e nem quisera adotar algum, vivendo apenas para o marido, assim demonstrando. Mas ele tinha suas desconfianças, sabia que ela poderia o estar traindo, mas a amava loucamente e não queria desapontá-la, não queria perder a oportunidade de ficar naqueles braços, de usar aquele corpo sensual e majestoso. Queria penetrá-lo várias vezes por dia, sentir o seu perfume, beijar aquela boca carnuda de Laura que nunca vira igual em  lugar nenhum. Sentia-se seduzido por essa mulher, essa poltranca que não conseguia domesticar. Ela o dominava, lambia-lhe todo, deixava-o exausto de tanto gozo. Jesse jamais ousou olhar para outra mulher, só via a esposa Laura na sua frente e seria capaz de tudo por ela. Antes mesmo de jantar levou-a para a cama e amou-a perdidamente, vendo-a delirar em baixo dele, sussurrando palavras doces nos seus ouvidos.
    Na manhã seguinte, após o café da manhã, Jesse saiu para o trabalho, como costumeiramente fazia, beijando a esposa com ternura. Nem chegou na esquina e parou para observar sua casa de longe. Passaram-se alguns minutos e Jesse viu Davi se aproximar do seu portão. Escondeu-se atrás de um poste e ficou a olhar. O rapaz entrou e fechou o portão, deixando-o irado. Sabia o que iria acontecer a partir daquele momento mas se conteve, sempre pensando em voltar, mas não queria ferir a esposa, não desejava maltratá-la e seguiu para o trabalho tranquilamente. Pensaria numa forma de conversar com ela, de resolver essa situação. Chegou no trabalho e ligou para casa, tendo ela atendido carinhosamente e dizendo estar ansiosa pelo seu retorno logo mais à noite. Laura desligou o telefone e voltou para a cama onde Davi a esperava, ansioso para usar o seu belo corpo.
    Certo dia Jesse tomou uma decisão para tentar solucionar o seu grave problema, apanhando uma arma sem que Laura desconfiasse desse ato e partiu para determinado local. Conhecia bem Davi, sabia onde encontrá-lo e estava disposto a tirar sua vida. Já o vira algumas vezes em sua casa com outras pessoas, por ocasião de festas e comemorações, tinha certeza que era traído por ele. Chegou ao local bastante tenso, vendo logo Davi em uma mesa de bar. Jesse estava por trás de algumas folhagens, ninguém o percebia, teria a oportunidade de eliminá-lo sem ser visto. Apontou a arma, o dedo estava firme no gatilho, apesar de trêmulo. Mirou o jovem como um desafeto que não merecia viver. Meditou um pouco, pensou nas consequências, poderia ser descoberto e preso, poderia também perder o amor de Laura, aquela que tanto amava e não suportaria viver sem ela. Baixou a arma e escondeu no bolso. Voltou para casa de consciência tranquila, sabendo que iria continuar a usufruir do amor da esposa, de se deliciar do seu corpo majestoso, embora sabendo que outro fazia isso também. Aceitaria essa situação por Laura, pela esposa querida, pelo amor que sentia por ela. Quando abriu o portão de casa ela estava na porta esperando, ostentando um sorriso que só ele conhecia. Abraçou-a carinhosamente e beijou-a com desejo, levando-a para a cama.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O FANTASMA DO PRIMEIRO ANDAR



    A casa era antiga mas estava bem conservada e a placa de “vende-se” estava sendo retirada. Pedro foi quem se encarregou disso, tendo o seu pai de lado e uma irmã pequena. Compraram o imóvel onde passariam a residir, já que o Sr. Félix havia se aposentado e investido suas economias nesse novo lar. Pedro ocupou um quarto no primeiro andar, já os pais e a irmã pequena preferiram ficar no andar de baixo por ser mais confortável.

    À noite, após o jantar, Pedro encontrava-se no jardim quando notou alguém no seu quarto, vislumbrando uma imagem através da cortina da janela. Correu para ver de quem se tratava, já que todos estavam no terraço. Entrou no quarto, vistoriou e não encontrou ninguém. As coisas estavam todas em seus lugares, o que causou uma confusão em sua mente. Teria sido imaginação? Deixou pra lá mas ficou impressionado com o fato. Mas tarde, quando se preparava para pegar no sono, escutou passos no quarto, o que fez ele pensar que era alguém da família. Desceu e constatou que todos já estavam recolhidos. Ficou intrigado mas deitou-se, deixando a porta do quarto aberta. Não conseguia dormir, o sono não chegava, até que uma imagem de menina apareceu na porta assustando-o. Não era a sua irmã. Assustado, gritou acordando os pais. Foi dormir junto com a irmã no quarto dela.

    No dia seguinte, durante o café da manhã, o assunto não foi outro senão a aparição da menina. Como eram estranhos no lugar procuraram informações com os vizinhos. Foram cientificados de que naquela casa morou uma família por vários anos e que uma garota de 13 anos fora estuprada e morta. Essa garota havia se recusado a abandonar a casa quando os pais pretendiam viajar. Trancara-se no quarto de onde não saía, recebendo as refeições por uma janelinha que dava para o corredor e esse era justamente o quarto que Pedro ocupava. Os pais decidiram viajar deixando uma governanta olhando a menina enquanto eles estivessem fora. Dias depois souberam que a governanta desaparecera e que a menina fora encontrada morta no quarto, além de ter sido estuprada. Disseram que ela era sempre vista na janela do quarto, o qual não pretendia abandonar.

    Todas as noites Pedro era acordado com barulhos estranhos e sempre presenciando o fantasma da menina que pedia para que deixasse o seu quarto. Pedro desocupou o quarto e passou a dormir num dos quartos do andar térreo. À noite ele sempre via a menina na janela do primeiro andar que o agradecia e prometia que não mais o importunaria. A convivência com o fantasma dela no andar de cima tornou-se natural, mas os donos do imóvel já falaram em deixar o lugar.

AMOR VERDADEIRO



    Era uma tarde linda quando Fred e Bete se encontraram numa praça arborizada da cidade. O amor entre ambos era intenso, prenúncio de um casamento cheio de emoções e de grandes felicidades. Um beijo selou esse encontro com sorrisos estampados em suas faces. Depois de alguns momentos de conversas sobre coisas triviais, Bete entrou no carro e seguiram para um motel, local onde curtiam esse amor maravilhoso com frequência, onde debatiam assuntos relacionados ao futuro de ambos.

    Bete chegou em casa bastante feliz, afinal a tarde fora emocionante, de muitos carinhos e suspiros de prazer. Fred a acompanhou até a porta e voltou para o carro. A noite já anunciava que estava chegando e ele tinha alguns negócios para resolver.

    Os dias se passaram com rapidez, assim como as nuvens do céu. A felicidade deles era grande e Bete tinha todos os motivos para ser uma mulher realizada, afinal também tinha o seu trabalho, tinha o seu jeito de viver sozinha em um apartamento no centro da cidade, já que os pais residiam no interior.

    Bete largou do trabalho e foi convidada por uma amiga para tomarem um drink em um restaurante próximo a praia, local frequentado por executivos e turistas. Sua amiga dirigia o carro e estacionou em frente ao restaurante, tendo Bete se surpreendido ao perceber que o carro de Fred ali estava, ela o reconheceria em qualquer lugar. Com certeza ele estava ali, quem sabe até acompanhado. Ela imaginava que ele estivesse trabalhando. Qual não foi sua nova surpresa quando o viu abraçando uma mulher bonitona, bem vestida e estampando um largo sorriso. Dirigiu-se imediatamente para a mesa onde estavam e questionou a atitude dele. Por mais que ele explicasse ela não lhe deu razão, chorou amparada pela amiga e se retirou do local.

    No dia seguinte Fred a procurou e explicou que se tratava de uma executiva e que o abraço fora simplesmente por estarem firmando um contrato valioso para a empresa onde trabalhavam. A mulher em questão era gerente da mesma empresa que teria vindo à cidade com esse intuito. Mas mulher tem essas desconfianças, não aceita certas demonstrações de intimidades e Bete viu uma cena que qualquer mulher reprovaria: o abraço de seu homem com outra mulher. Esse foi motivo suficiente para ela ficar magoada a ponto de não considerar suas explicações. Ficaram sem se falar e Fred precisou viajar representando a empresa em uma reunião de executivos em outro estado, onde demoraria alguns dias.

    Sentada na sala, pensativa, Bete aparentava uma tristeza sem fim. Havia rompido com Fred da última vez que telefonou, não queria mais vê-lo, mas não era isso o que seu coração queria. Nem pensava mais nele com frequência, achava que o tempo iria acalmar a situação. Nesse momento a campainha tocou e um rapaz lhe entregou um buquê de flores muito lindas e da sua preferência. Agradeceu e fechou a porta, sorrindo levemente. Encontrou no buquê um cartão onde tinha uma mensagem de Fred dizendo que a amava e que reconsiderasse o seu pedido de volta para os seus braços, pois a amava demais e não queria perdê-la. Ela riu mais abertamente, colocando as flores em um jarro, imaginou que tudo voltaria ao normal e resolveu que o perdoaria, afinal também amava aquele homem e não queria ficar remoendo um ciúme besta. A campainha tocou novamente e ela correu para abrir a porta. Era Fred. Dois braços abertos a esperavam com alegria e um beijo selou o encontro.

(Texto extraído da poesia FLORES PARA BETE, deste autor)

terça-feira, 14 de agosto de 2012

VENCEU O AMOR



    A noite estava fria quando Pablo chegou em casa, vindo da casa de sua quase noiva Elza. Amavam-se profundamente e já pensavam em casar, ter filhos e formarem uma família maravilhosa. Mas algo estava perturbando ele, um fato que poderia por tudo por água abaixo e acabar de vez com esse sonho. Não gostava nem de pensar no dia que isso viesse a acontecer, podendo até causar a ruína de seus negócios, pois era um grande comerciante da cidade, representando produtos que vinham do exterior, como tecidos e tapetes. Os pais de Elza pretendiam viajar para a Europa, onde residem outros parentes, por não estarem muito de acordo com esse futuro casamento. O gosto deles era que a filha se casasse com Túlio, filho de um sócio seu que para lá se mudara e que era apaixonado por Elza. No início ela chegou a gostar dele, apesar de sua arrogância, mas quando conheceu Pablo o seu coração palpitou por ele, iniciando então um romance que desagradou seus pais.

    No dia seguinte Pablo chegou na casa de Elza e a encontrou triste, notando que ela havia chorado. Abraçou-a com carinho e a beijou, demonstrando o seu afeto e sendo retribuído. Ela dependia muito dos pais e não queria desagradá-los e vivia um tempo em que os filhos deviam obediência aos mesmos. Contou para ele a decisão tomada pelos genitores de que se mudariam para a Europa e ela teria que acompanhá-los. Pablo enrubesceu diante dela, porém nada poderia fazer naquele momento, seus negócios estavam prosperando e era necessária a sua presença no Brasil para administrá-los, a fim de não terem uma queda vertiginosa. Os pais de Elza nem sequer davam-lhe atenção, preocupando-se apenas com o seu ramo de negócios, que era a frota de vapores que faziam o transporte para a Europa.

    O vapor deixou o cais levando Elza e os pais rumo à Europa onde residiriam definitivamente. Pablo acompanhou a partida discretamente, já que eles não permitiram que a filha o visse. Lágrimas desceram dos olhos desse homem apaixonado que prometeu que tudo faria para tê-la de volta. Seu grande medo era Túlio reconquistá-la e tê-la nos braços, coisa que não suportaria se acontecesse. Lutaria com unhas e dentes para que o seu amor não fosse ferido, principalmente pelo fato de saber que Elza o amava, aguentando resignado essa fase que o destino se encarregou de fazê-lo viver.

    Passaram-se alguns meses sem Pablo ter notícias da amada e ele fazendo tudo para manter seus negócios sempre em crescimento. Raras eram as vezes que recebia uma correspondência de Elza, o que deixava ele mais tranquilo. Sabia que ela o amava e planejou tudo para que ela voltasse e se casassem o mais breve possível e esse dia estava próximo.

    Após uma discussão com os pais, que queriam o seu casamento com Túlio, que não parava de importuná-la, Elza tomou uma decisão: quando eles se ausentaram, preparou suas malas e tomou o primeiro vapor com destino ao Brasil. Após alguns dias em alto mar, finalmente chega em terra firme, pronta para viver seu amor com Pablo, que a esperava no cais. Desembarcou alegre, jogando as malas no chão, abrindo os braços e correndo para os braços dele. Usava lindos óculos azuis e um vestido muito elegante. Ficaram abraçados por um longo tempo como para recuperar os momentos perdidos, podendo agora desfrutarem de um amor sem fim.
(Este conto é o mesmo conteúdo da poesia CORPOS QUE SE ABRAÇAM, deste autor).

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

O SEGREDO DE LEA


Esta história é parte do conto LEA, CRIME E MISTÉRIO, com o desvendamento de um segredo. É como se a mesma história fosse desmembrada em duas.


    Chovia forte quando Lea se preparava para sair, o trabalho lhe esperava em um escritório que ficava a poucos quarteirões, não necessitando de transporte para isso. Lígia, sua irmã, notara o seu abatimento durante o café da manhã, perguntando se ela estava com algum problema, já que se davam muito bem, respondendo Lea que estava tudo bem, ostentando um sorriso forçado, notado pela irmã. A chuva passou e Lea seguiu para o trabalho.

    À tarde, quando chegou do escritório, Lea estava aparentemente feliz, fazendo questão de mostrar isso para a irmã, que já andava desconfiada dela em suas atitudes. Lea tinha um problema sim, mas não queria que ela soubesse, afinal era adulta e saberia resolver os seus problemas. Namorava um homem que veio a descobrir que era casado depois de se envolver com ele três meses após, já demonstrando gostar bastante dele. Pensou em acabar mas desistiu, tinha uma coisa que ocultava de sua irmã, esperando um momento oportuno para fazê-la saber: estava grávida e não queria perder esse filho. Vicente, o pai, havia pedido que ela abortasse, pois poderia causar sérios problemas para ele, que tinha mulher e filhos, fato que escondeu dela mas acabou confessando, depois dela ter pesquisado com eficiência e ter sido ajudada por uma amiga.

    Clara, a amiga de Lea, chegou em sua casa logo após o jantar. Trancaram-se no quarto para uma conversa, o que deixou Lígia desconfiada, pois apesar de ser sua amiga, Clara nunca tinha vindo fazer uma visita, sendo portanto uma surpresa. Demoraram pouco mais de uma hora no quarto e saíram sérias. Clara se despediu de Lígia e prometeu voltar outro dia, pois o assunto da conversa não foi revelado, ambas afirmando que eram coisas triviais.

    No dia seguinte Lea chegou em casa bastante abatida, não tendo como esconder da irmã esse fato, só não disse o que estava acontecendo, prometendo a irmã que contaria tudo para ela assim que regressasse de uma visita que faria depois que jantasse. Jantou normalmente e saiu dizendo para a irmã que iria na casa de uma amiga. A noite avançou e Lea não retornou, deixando Lígia preocupada, que terminou cochilando na sala e não viu as horas passarem. Acordou repentinamente e olhou o relógio, percebendo que já passava das três da madrugada. A esta hora não era mais possível sair para procurá-la, esperando então o dia amanhecer.

    O dia amanheceu e Lígia saiu para procurar Lea, mas não sabia por onde começar. Não tinha ideia de onde poderia estar, não sabia qual o problema pelo qual ela estava passando, enfim Lea não havia lhe contado nada e Lígia sabia que algo de grave poderia estar acontecendo. Lembrou-se de Clara, sua amiga e confidente, decidindo ir até sua casa, apesar de não saber exatamente a rua, mas procurou e terminou achando. Só que para sua surpresa Lea não estava lá e nem ela sabia onde poderia estar. Mas Clara foi sincera e resolveu contar o problema que Lea esta enfrentando. Falou de Vicente, com quem namorava e que estava grávida, tendo sido orientada por ele para abortar, o que causou revolta nela, não aceitando esse crime. Saíram as duas então para uma delegacia onde prestariam uma queixa de desaparecimento. Fizeram o boletim de ocorrência e horas depois souberam de um corpo do sexo feminino encontrado em local ermo com ferimentos de bala. Era Lea. Ficaram horrorizadas com o fato e informaram à polícia sobre o possível suspeito, um homem casado que a namorava.

    A polícia se encarregou de efetuar investigações e identificou Vicente como principal suspeito, que terminou confessando o crime para esconder da mulher o romance com uma amante. Assim foi conhecido por Lígia o segredo que Lea guardava.

LEA, CRIME E MISTÉRIO


    Lea deixou o escritório um tanto preocupada, os próprios colegas de trabalho notaram que ela não estava em seu estado normal e até questionaram sobre isso, mas ela afirmou que estava tudo bem e que não se preocupassem. Aldo foi quem mais se preocupou com Lea, já que era uma garota desinibida, falante e de repente, num espaço de poucos dias percebeu sua transformação. Gostava dela, sentia até uma certa atração, mas não tinha coragem de revelar esse segredo. Enquanto o coração aguentasse ele ficaria apenas admirando-a, amando-a secretamente, até que um dia esse desejo explodisse.

    No dia seguinte Aldo percebeu Lea um pouco mais agitada, principalmente depois que recebeu um telefonema. Ela pediu ao chefe para sair mais cedo alegando mal estar e ganhou a rua. Aldo teve um impulso e decidiu segui-la discretamente, tendo avisado aos colegas dessa sua atitude. Viu que ela seguia apressadamente, parando em um determinado local, aguardando alguns minutos até que um carro parou próximo, tendo saído do mesmo um homem que se aproximou dela e a beijou na testa. Aldo assistiu aquela cena sendo acometido de ciúme, mas se controlou. Houve uma conversa ríspida entre eles e em seguida Lea entrou no carro que partiu imediatamente. Transtornado, Aldo voltou para o escritório e comunicou o fato aos colegas, que ficaram  imaginando mil coisas.

    Aldo não dormiu nessa noite pensando em Lea, naquela cena que o deixou enciumado e magoado. Mas não podia cobrar nada dela, não a namorava, não tinha motivos para lhe pedir satisfações. O seu coração estava sentido, amava secretamente aquela moça, tinha vontade de contar para ela o quanto a amava, porém a sua timidez impedia, mas ele iria tentar vencer esse medo e declarar o seu amor, custasse o que custasse.

    Na manhã seguinte Aldo chegou cedo no escritório, queria ver o semblante de Lea, queria ser o primeiro a saber o que acontecera. Ela não apareceu para trabalhar, o que deixou ele mais preocupado ainda. As horas se passaram e nada de Lea aparecer, deixando todos com uma interrogação devido ao fato do relato de Aldo e também por não conhecerem o tal homem que lhe dera carona.

    Os jornais do dia seguinte deram uma notícia trágica que abalou todo o pessoal do escritório. Um corpo de mulher fora encontrado sem vida em um local ermo, apresentando ferimentos provocados por arma de fogo. E esse corpo era o de Lea, aquela criatura que gozava do prestígio de todos os colegas, aquela moça alegre que conversava com todos e de repente se viu fora de si, abatida, preocupada com algo que não era do conhecimento desses amigos.

    O enterro teve o comparecimento de todos do escritório, além de familiares e amigos. Todos sentiram a falta dessa pessoa tão distinta, tão querida, que ficaram questionando qual seria o motivo da sua morte. Nesse dia o chefe do escritório decretou folga para os funcionários em homenagem ao evento fúnebre de uma integrante de seu quadro.

(Obs.: o mistério desta história será desvendado no próximo conto: O SEGREDO DE LEA. Aguardem).