A noite estava fria quando Pablo chegou em casa, vindo da casa de sua
quase noiva Elza. Amavam-se profundamente e já pensavam em casar, ter filhos e
formarem uma família maravilhosa. Mas algo estava perturbando ele, um fato que
poderia por tudo por água abaixo e acabar de vez com esse sonho. Não gostava
nem de pensar no dia que isso viesse a acontecer, podendo até causar a ruína de
seus negócios, pois era um grande comerciante da cidade, representando produtos
que vinham do exterior, como tecidos e tapetes. Os pais de Elza pretendiam
viajar para a Europa, onde residem outros parentes, por não estarem muito de
acordo com esse futuro casamento. O gosto deles era que a filha se casasse com
Túlio, filho de um sócio seu que para lá se mudara e que era apaixonado por
Elza. No início ela chegou a gostar dele, apesar de sua arrogância, mas quando
conheceu Pablo o seu coração palpitou por ele, iniciando então um romance que
desagradou seus pais.
No dia seguinte Pablo chegou na casa de Elza e a encontrou triste,
notando que ela havia chorado. Abraçou-a com carinho e a beijou, demonstrando o
seu afeto e sendo retribuído. Ela dependia muito dos pais e não queria
desagradá-los e vivia um tempo em que os filhos deviam obediência aos mesmos.
Contou para ele a decisão tomada pelos genitores de que se mudariam para a Europa
e ela teria que acompanhá-los. Pablo enrubesceu diante dela, porém nada poderia
fazer naquele momento, seus negócios estavam prosperando e era necessária a sua
presença no Brasil para administrá-los, a fim de não terem uma queda vertiginosa.
Os pais de Elza nem sequer davam-lhe atenção, preocupando-se apenas com o seu
ramo de negócios, que era a frota de vapores que faziam o transporte para a
Europa.
O vapor deixou o cais levando Elza e os pais rumo à Europa onde
residiriam definitivamente. Pablo acompanhou a partida discretamente, já que
eles não permitiram que a filha o visse. Lágrimas desceram dos olhos desse
homem apaixonado que prometeu que tudo faria para tê-la de volta. Seu grande
medo era Túlio reconquistá-la e tê-la nos braços, coisa que não suportaria se
acontecesse. Lutaria com unhas e dentes para que o seu amor não fosse ferido,
principalmente pelo fato de saber que Elza o amava, aguentando resignado essa
fase que o destino se encarregou de fazê-lo viver.
Passaram-se alguns meses sem Pablo ter notícias da amada e ele fazendo
tudo para manter seus negócios sempre em crescimento. Raras eram as vezes que
recebia uma correspondência de Elza, o que deixava ele mais tranquilo. Sabia
que ela o amava e planejou tudo para que ela voltasse e se casassem o mais
breve possível e esse dia estava próximo.
Após uma discussão com os pais, que queriam o seu casamento com Túlio,
que não parava de importuná-la, Elza tomou uma decisão: quando eles se
ausentaram, preparou suas malas e tomou o primeiro vapor com destino ao Brasil.
Após alguns dias em alto mar, finalmente chega em terra firme, pronta para
viver seu amor com Pablo, que a esperava no cais. Desembarcou alegre, jogando
as malas no chão, abrindo os braços e correndo para os braços dele. Usava
lindos óculos azuis e um vestido muito elegante. Ficaram abraçados por um longo
tempo como para recuperar os momentos perdidos, podendo agora desfrutarem de um
amor sem fim.
(Este conto é o mesmo conteúdo da poesia CORPOS QUE SE ABRAÇAM, deste autor).
Nenhum comentário:
Postar um comentário