Lenira era o tipo de garota que causava sensação pelo seu jeito de
viver, de ser comunicar com as pessoas, pela alegria que contagiava todos do
seu grupo de amigos. Era muito bonita, ostentando um visual de causar inveja e
despertando o interesse de alguns rapazes do bairro, principalmente de Paulo, o
que mais se aproximava dela. Mas ela não dava bolas para nenhum, parecia
perdida num mundo de fantasias, queria apenas viver a vida, sentir emoções,
bater um papo com um, com outro, nunca demonstrando uma atenção especial para A
ou B, pois para ela todos eram iguais, todos eram seus amigos e frequentavam o
mesmo colégio.
A aula terminou naquela manhã nublada de uma sexta-feira e Paulo a
convidou para tomarem um sorvete ali perto, pretendendo com isso tentar
conquistá-la, mostrar para os demais amigos que era possível acontecer entre
eles um clima romântico. Era o seu grande desejo, já do conhecimento geral.
Lenira abriu um largo sorriso, ficou em dúvida, mas aceitou o convite. Paulo
sentiu o coração palpita bem mais forte, teve receio de que aquela imensa
alegria transbordasse a ponto de causar risos e comentários nos colegas, que já
balbuciavam algumas palavras que não eram ouvidas por ele. Chegou na sorveteria
como um cavalheiro, puxando a cadeira para que ela sentasse, impressionando-a.
Lenira se sentia a mesma garota de sempre e tomando o sorvete com delicadeza,
olhou bem nos olhos de Paulo e perguntou se ele era feliz. Ele ficou sério com
a pergunta e respondeu imediatamente para não perder essa grande oportunidade,
afirmando que naquele momento era o homem mais feliz do mundo, simplesmente por
estar ali cortejando-a. Chegou mais perto do seu rosto e tentou beijá-la, mas
ela pediu que tivesse calma. Paulo então pegou suas mãos e beijou-as
suavemente, sentindo o seu perfume agradável, aquele que costumava sentir nos
dias de aula ou quando estavam no intervalo das mesmas.
Saíram da sorveteria alegres. Paulo se sentia um “Dom Juan”, mesmo sem
ter conseguido beijá-la, indo cada um para sua residência. Em casa Paulo pensou
o tempo todo naqueles momentos da sorveteria, guardando na mente cada imagem
que não mais se apagariam, faria sempre parte do seu viver.
Chegaram as férias e o grupo de amigos se preparava para um passeio, uma
viagem que eles sempre faziam para uma fazenda. Era normal todo ano esse
passeio, oportunidades quando tiravam bastante fotografias. Todos estavam
prontos, faltavam apenas dois dias para o início da viagem, quando uma notícia
triste abalou o grupo: um trágico acidente de carro ceifou a vida de Lenira. Paulo
foi quem mais sofreu com isso e o evento fúnebre ocorreu no cemitério da
cidade.
Chegou o dia da viagem, todos estavam transtornados, mas não tinham como
cancelar a viagem, já programada antecipadamente. Os amigos se reuniram na
fazenda mas não houve alegria, não teve as brincadeiras que sempre faziam,
apenas momentos de reflexão e algumas fotos do grupo. Final da viagem,
antecipada por motivos óbvios em face do desaparecimento prematuro de Lenira.
As fotos foram reveladas e todos se juntaram na biblioteca do colégio para
verem. Todos se assustaram com uma cena que nunca mais sairá de suas mentes: em
todas as fotos lá estava a figura de Lenira, alegre e sorridente no meio do
grupo. Essa será uma lembrança inesquecível da sua alegria.
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