Eu sempre fui uma pessoa de poucos recursos, saldando meus compromissos
com muita dificuldade, às vezes “descobrindo um santo para cobrir outro”, mas
nunca procurei levar vantagem em nada e nem subtrair aquilo que não me
pertencesse. Eu acreditava que a vida era para ser vivida da maneira como pudéssemos, não importando se a pessoa tivesse dinheiro ou não.
Certo dia eu estava na cidade fazendo alguns pagamentos e resolvendo
outros problemas quando o cansaço me bateu e para descansar as pernas me sentei
num banco de praça, ficando a meditar um pouco. Próximo a mim existia um
orelhão que começou a tocar. A praça estava quase deserta e eu fiquei desconfiado
se alguém não estava querendo pregar uma peça. Olhei atentamente as redondezas
e não vi ninguém suspeito, resolvendo atender ao telefone. Uma voz que não
consegui identificar se era masculina ou feminina me cumprimentou e perguntou
se eu estava disposto a cumprir uma tarefa. Achei engraçado e imaginei que se
tratava de um trote, já pensando em desligar, mas a voz era tão melodiosa que
decidi escutar. Me informou algumas dezenas me pedindo para fazer um jogo na
loteria mais próxima. Como não estava com lápis e papel na mão, anotei na
agenda do celular. Como para confirmar a voz me pediu que repetisse os números,
o que fiz prontamente. “Agora tem uma coisa”, disse a voz intrigante, “você vai
ganhar e ficar com apenas 10% do prêmio, devendo doar os 90% a uma instituição
de caridade idônea”. Aquele fato me deixou bastante intrigado, porém resolvi
atender. Entrei numa loteria e fiz o jogo solicitado. A voz não havia se
identificado e fiquei no aguardo dos acontecimentos.
Quando conferi o jogo quase caí de costas, foi um susto muito grande,
pois eu achava que aquilo tinha sido uma brincadeira. Os números conferiam com
o resultado e o prêmio foi fabuloso, apesar de outras duas pessoas também terem
acertado. A voz da ganância soprou no meu ouvido mas não dei importância, quis
mostrar que cumpriria a minha palavra, mesmo sob os protestos da minha esposa.
Fiz o que a misteriosa voz pedira, procurando uma instituição séria que ajudava
pessoas e fiz a doação. Os 10% a mim destinados foram suficientes para resolver
meus problemas financeiros, sobrando uma pequena reserva que depositei na
poupança.
Passaram-se algumas semanas e lá estava eu circulando naquela mesma
praça e vendo o bendito orelhão, que coincidentemente começou a tocar. Já fui
imaginando que era aquela voz, aquela pessoa que me dera a sorte. Com efeito,
para minha surpresa era a mesma voz, que novamente me informou novos números,
novas dezenas para serem jogadas na loteria. Desta vez não impôs nada, apenas
disse que tudo me pertenceria, o prêmio seria só meu, não precisaria fazer
doação alguma. Fiz o jogo já esperando ganhar novamente na loteria, o que
realmente aconteceu. Mesmo que aquela voz de anjo dissesse que o prêmio seria
todo meu, decidi doar uma parte para outra instituição de caridade. Até hoje
agradeço àquele anjo bom que mudou a minha vida e me fez ser uma pessoa muito feliz.
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