Tirei do bolso algumas
moedas e entreguei para um menino que me estendera a mão. Próximo a ele estava
uma senhora idosa, maltrapilha, com uma sacola onde continha alguns
mantimentos, frutos de esmolas. Após esse ato de caridade procurei seguir meu
caminho, pensando na situação que aquelas criaturas enfrentavam. Parei adiante
e olhei para trás, eu tinha observado que o menino mostrava uma cicatriz na
testa, tendo vontade de perguntar o que fora mas me detive. Talvez não fosse
oportuno fazer essa pergunta, já tinha feito a minha caridade, nada importava
mais.
Entrei numa casa
lotérica para fazer o jogo que havia marcado e coloquei a mão no bolso para
pegar as moedas para pagar. Não tinha entregue ainda o bilhete e me dei conta
que faltavam R$ 0,25, exatamente o valor das moedas que havia dado ao menino na
rua. Naquele momento eu não dispunha de nenhum outro dinheiro. Resolvi não fazer o jogo e fui para casa,
guardando o bilhete no bolso.
Dois dias depois
eu passava em frente da lotérica e algo me fez entrar para conferir o jogo,
mesmo sem ter jogado. Qual não foi a minha surpresa quando vi que os números
batiam e era um prêmio de valor vultoso. As pessoas me olharam desconfiadas
dado o meu estado de perplexidade e de um desespero momentâneo que me bateu.
Mas consegui me controlar e saí, chegando em casa bastante abatido, chegando ao
ponto de derramar algumas lágrimas, que foram logo contidas quando me lembrei
que havia feito uma caridade e que talvez o destino estivesse a me testar.
Passaram os dias e eu decidi esquecer o assunto.
Decorreram muitos
anos, fui residir em outra cidade e desfrutava de uma vida pacata em uma
pequena vila do município. Estava triste porque não conseguia pagar em dia o
aluguel da pequena casa onde morava, dado os parcos recursos de que dispunha como
um simples vendedor ambulante. Tinha dias que a alimentação era resumida,
preferindo que a esposa e os dois filhos menores se alimentassem melhor.
Certo dia um
senhor bateu em minha porta e pediu para entrar. Vi que estacionou o seu carro
luxuoso bem na frente, o que despertou a atenção de vizinhos. Ele entrou e
começamos a conversar quando ele perguntou o meu nome. Me entregou um cheque
pedindo para que abrisse uma conta, sem dar maiores explicações, mas eu fui
insistente e indaguei sobre a sua atitude, tendo em vista o valor altíssimo do
cheque que estava em minhas mãos. Quando ele tirou o chapéu eu pude reconhecer
uma cicatriz em sua testa, o que me fez voltar ao passado e lembrar daquele
menino a quem havia dado algumas moedas na rua. Ele me contou que tivera um sonho,
avisando que deveria procurar uma certa pessoa e lhe devolver o que lhe era de
direito. Fora informado no sonho onde deveria exatamente bater na porta e foi o
que fez. Com aquelas moedas que havia recebido de mim, resolvera completar um
dinheiro que tinha e fazer um jogo na loteria, tendo sido o único ganhador do
valioso prêmio. Passou a ter uma vida de rico, sempre lembrando da pessoa que
lhe dera as moedas que o fez jogar. Procurou muito essa pessoa sem sucesso, só
encontrando quando teve esse sonho revelador, acalmando a sua necessidade de
achar o alguém que mudara a sua vida. E esse alguém era eu.
Aquele menino
pobre era hoje um rico empresário, tendo usado o dinheiro num bom investimento
com a ajuda de sua avó, aquela senhora idosa e maltrapilha que eu havia visto
ao seu lado, atualmente falecida. Deixei de ser pobre e agora gozo de uma vida
confortável em uma casa de luxo, me tornando empresário e sócio daquele senhor
que se tornou meu amigo, tendo a idade de ser meu filho. Essa foi a recompensa
que o destino me deu, aquele mesmo destino que prorrogou uma situação que
poderia não ser benéfica naquela época.
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