quarta-feira, 1 de agosto de 2012

RECOMPENSA



   Tirei do bolso algumas moedas e entreguei para um menino que me estendera a mão. Próximo a ele estava uma senhora idosa, maltrapilha, com uma sacola onde continha alguns mantimentos, frutos de esmolas. Após esse ato de caridade procurei seguir meu caminho, pensando na situação que aquelas criaturas enfrentavam. Parei adiante e olhei para trás, eu tinha observado que o menino mostrava uma cicatriz na testa, tendo vontade de perguntar o que fora mas me detive. Talvez não fosse oportuno fazer essa pergunta, já tinha feito a minha caridade, nada importava mais.

   Entrei numa casa lotérica para fazer o jogo que havia marcado e coloquei a mão no bolso para pegar as moedas para pagar. Não tinha entregue ainda o bilhete e me dei conta que faltavam R$ 0,25, exatamente o valor das moedas que havia dado ao menino na rua. Naquele momento eu não dispunha de nenhum outro dinheiro.  Resolvi não fazer o jogo e fui para casa, guardando o bilhete no bolso.

   Dois dias depois eu passava em frente da lotérica e algo me fez entrar para conferir o jogo, mesmo sem ter jogado. Qual não foi a minha surpresa quando vi que os números batiam e era um prêmio de valor vultoso. As pessoas me olharam desconfiadas dado o meu estado de perplexidade e de um desespero momentâneo que me bateu. Mas consegui me controlar e saí, chegando em casa bastante abatido, chegando ao ponto de derramar algumas lágrimas, que foram logo contidas quando me lembrei que havia feito uma caridade e que talvez o destino estivesse a me testar. Passaram os dias e eu decidi esquecer o assunto.

   Decorreram muitos anos, fui residir em outra cidade e desfrutava de uma vida pacata em uma pequena vila do município. Estava triste porque não conseguia pagar em dia o aluguel da pequena casa onde morava, dado os parcos recursos de que dispunha como um simples vendedor ambulante. Tinha dias que a alimentação era resumida, preferindo que a esposa e os dois filhos menores se alimentassem melhor.

   Certo dia um senhor bateu em minha porta e pediu para entrar. Vi que estacionou o seu carro luxuoso bem na frente, o que despertou a atenção de vizinhos. Ele entrou e começamos a conversar quando ele perguntou o meu nome. Me entregou um cheque pedindo para que abrisse uma conta, sem dar maiores explicações, mas eu fui insistente e indaguei sobre a sua atitude, tendo em vista o valor altíssimo do cheque que estava em minhas mãos. Quando ele tirou o chapéu eu pude reconhecer uma cicatriz em sua testa, o que me fez voltar ao passado e lembrar daquele menino a quem havia dado algumas moedas na rua. Ele me contou que tivera um sonho, avisando que deveria procurar uma certa pessoa e lhe devolver o que lhe era de direito. Fora informado no sonho onde deveria exatamente bater na porta e foi o que fez. Com aquelas moedas que havia recebido de mim, resolvera completar um dinheiro que tinha e fazer um jogo na loteria, tendo sido o único ganhador do valioso prêmio. Passou a ter uma vida de rico, sempre lembrando da pessoa que lhe dera as moedas que o fez jogar. Procurou muito essa pessoa sem sucesso, só encontrando quando teve esse sonho revelador, acalmando a sua necessidade de achar o alguém que mudara a sua vida. E esse alguém era eu.

   Aquele menino pobre era hoje um rico empresário, tendo usado o dinheiro num bom investimento com a ajuda de sua avó, aquela senhora idosa e maltrapilha que eu havia visto ao seu lado, atualmente falecida. Deixei de ser pobre e agora gozo de uma vida confortável em uma casa de luxo, me tornando empresário e sócio daquele senhor que se tornou meu amigo, tendo a idade de ser meu filho. Essa foi a recompensa que o destino me deu, aquele mesmo destino que prorrogou uma situação que poderia não ser benéfica naquela época.

Nenhum comentário:

Postar um comentário