sábado, 1 de setembro de 2012

O FANTASMA DO POÇO


    Trinta e dois anos se passaram depois que deixamos o sítio onde morávamos, eu, meus pais e uma irmã, além de uma empregada que nos servia há anos. Era uma vida pacata, sobrevivíamos com o que era plantado, pois o salário do meu pai como funcionário de uma usina de açúcar era muito pequeno e mal dava para as despesas. Joana, a empregada, recebia uma pequena mesada por mês, já que meu pai se compadeceu de sua situação como rejeitada da família e a convidou para morar conosco, pelo menos ajudaria minha mãe nas tarefas domésticas.
    O tempo ali no sítio parecia parado, como criança eu pouco tinha o que fazer, além de frequentar uma escolinha nas redondezas junto com minha irmã no horário da manhã e à tarde passava o tempo brincando no largo terreiro na frente da enorme casa de estilo antigo, herança da minha avó materna. Além das tarefas domésticas Joana gostava de bordar, atividade que ensinou para minha mãe. Meu pai saía cedo para a usina e voltava no final da tarde, sempre trazendo um pouco de açúcar para o nosso consumo.

    Certo dia encontrei Joana meio chorosa, o que preocupou minha mãe, porém o motivo nunca foi descoberto. Uns dois dias depois Joana sumiu misteriosamente, o que nos deixou bastante preocupados. Nunca mais soubemos notícias dela e sua família pouco se interessou pelo assunto. Com o passar dos anos começaram a surgir boatos de vizinhos de que uma mulher era vista nas proximidades de um poço que existia no quintal de nossa casa. Carregava uma criança nos braços e sempre desaparecia na escuridão. “Me tirem daqui!” era a frase que sempre repetia, o que assustava as pessoas que se recusaram a pegar água no poço depois que anoitecia. Esse poço servia aos nossos vizinhos e era uma água de boa qualidade, perdendo esse sabor depois que esse fato passou a ocorrer em nossa propriedade.
    Algum tempo depois os vizinhos dos lados, amedrontados com as aparições, resolveram se mudar e nós ficamos praticamente isolados, já que os outros vizinhos ficavam a uma certa distância e isso estava preocupando minha mãe. Já meu pai aparentava uma calma que me deixava pensativo, achava eu que ele era um homem destemido, não tinha medo de assombração. Com o passar dos dias ele veio a adoecer repentinamente, não podendo mais trabalhar, o que dificultou muito a nossa situação financeira. Meses depois ele veio a falecer, o que nos deixou numa situação bem pior. Minha mãe decidiu vender o imóvel e nos mudamos para outra cidade onde tínhamos parentes e que recebemos total apoio.

    Depois de tantos anos resolvi voltar ao local movido tanto pela beleza ali existente como para saber se o fantasma ainda assustava as pessoas. De fato, os comentários eram os mesmos e isso me intrigava bastante, eu faria tudo para desvendar esse mistério, saber o que realmente havia acontecido e o porquê do sumiço de Joana. Será que ela tem alguma coisa a ver com isso? Será ela o fantasma que assusta o povo daquele lugar tão pacato e agora abandonado se encontra? Procurei investigar e depois de vários contatos com pessoas que residiam na localidade e conheciam a nossa família, ninguém soube me informar nada, dar alguma pista que me levasse a solucionar esse problema. Eu já ia me retirando do sítio depois de cansativas investigações, sem êxito algum, quando um senhor idoso aparentando uns 80 anos, sentado em uma pedra, me chamou e indagou o que eu queria. Depois de algumas explicações minhas ele me prometeu contar a verdade sobre esses fatos no sítio. Trabalharam juntos na usina e estavam sempre papeando a respeito de assuntos diversos, conhecia todo mundo daquele encantador lugar. Disse ele que meu pai havia se engraçado de Joana, na época uma mulher formosa, que veio a engravidar dele e como não queria assumir o filho, orientou-a a cometer aborto, o que foi negado por ela. Não querendo que esse assunto chegasse aos ouvidos da esposa resolvera eliminar Joana, jogando-a no poço amarrada a uma pedra. Nunca mais ela fora vista e foi dada como desaparecida. Esse fantasma que as pessoas veem próximo ao poço é Joana pedindo para tirarem seus ossos de lá, concluindo que a frase “Me tirem daqui!” é com relação a isso, disse ele.
    No dia seguinte, por solicitação minha, foi feita uma busca minuciosa no fundo do poço e um esqueleto lá se encontrava, preso a um cabo pelo pescoço. Estava então desvendado o mistério do sumiço de Joana e o motivo de sua morte. Meu pai adoecera talvez por conta desse crime, não suportando a angústia, culminando com o falecimento.
  
   Nunca mais surgiram comentários a respeito do fantasma do poço e a tranquilidade voltou ao lugar.

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