O mar agitado estava ali, diante dos olhos
de Rudy, um homem grosso e de atitudes estranhas. De pé na embarcação
contemplava aquele mundo de água salgada, ali estava o seu meio de vida como
embarcado, passando mais tempo no mar do que em terra. Jamais caíra uma única
lágrima de seus olhos por não possuir sensibilidade por outro ser humano, ria
muito pouco e estava sempre metido em confusões no navio. No entanto Rudy era
um excelente profissional, estava sempre disposto para o serviço, o que
agradava o seu chefe, o que evitava a sua punição. Não tinha família formada,
apenas um irmão que não sabia o paradeiro, motivo de mantê-lo mais tempo no
trabalho em alto mar, mesmo nas horas de folga.
O navio atracou no porto e Rudy desceu para
aproveitar a folga. Acostumou-se a bebericar nos bares da área portuária sempre
na companhia de prostitutas, dando um jeitinho de levar uma para o seu camarim
horas antes da partida do navio. Tinha a conivência de alguns companheiros para
essa empreitada, afinal teria pela frente uma viagem longa e uma mulher
escondida iria satisfazê-lo plenamente, fazendo inveja aos demais. Rudy
transava diariamente com a prostituta e quando aproximava-se o momento de
atracar novamente em outro porto, ele alegou para ela que iria trocar de
camarim, enfiando-a em um saco para que não fosse vista durante o trajeto. Era
o momento exato de jogá-la no mar, afinal
não lhe serviria mais. Ele a enganara com promessas de uma vida melhor
em outras terras, afogando-a dessa maneira. Inúmeras foram as vezes que Rudy
praticou esse crime, muitas foram as mulheres que se deixaram levar por falsas
promessas de uma vida decente e de mordomias e perderam suas vidas enfiadas em
sacos e indo parar no fundo do mar.
Certo dia Rudy se desentendeu com um
companheiro e foram às vias de fato. Bebiam discretamente e ele já se
encontrava quase bêbado. Aqueles que não se davam bem com Rudy aproveitaram a
ocasião para espancá-lo, já que ele mal conseguia ficar de pé. Com um soco
certeiro Rudy foi atingido e caiu, bateu a cabeça e ficou imóvel. O sangue
jorrou e foi constatado um corte profundo em sua fronte, o que o levou a óbito.
Preocupados com essa ocorrência seus companheiros, mais que depressa,
enfiaram-no num saco e o jogaram no mar, limpando o sangue que estava no
convés. Rudy já sem vida foi parar no fundo do mar e quando o navio atracou no
porto seguinte todos desceram e ninguém notou a sua falta. No retorno para a
embarcação todos pensaram que Rudy se perdera em terra e o seu desaparecimento
foi oficializado pelo comandante.
Rudy acordou imaginando ter passado um bom
tempo em estado de demência, não se lembrando claramente do que ocorrera. Sabia
que estava em alto mar e que havia entrado em luta corporal com companheiros de
serviço na embarcação, mas não lembrava o motivo e não sabia em que lugar se
encontrava agora. Sentia falta de ar como se algo ou alguém o sufocasse. E
lentamente foi recobrando a razão, vendo em seguida uma porção de mulheres ao
seu redor, rostos que ele identificou prontamente. Elas riam cinicamente da sua
situação e Rudy nada podia fazer, pois seu corpo parecia paralisado, ele não
conseguia fazer nenhum movimento.
- Onde estou?
– perguntou ele. As mulheres continuavam com a sessão de sadismo, debochando
dele, que já sentia vontade de chorar.
- Vocês
estão mortas! Eu as joguei no mar! Me deixem! – gritou. Tudo em vão, elas
apenas riam.
Rudy foi então colocado em um saco e
arrastado para um lugar distante onde existia um lago. As mulheres lhe disseram
que ele iria ter uma segunda morte, mais dolorosa, mais terrível. Jogaram então
ele de uma parte alta e Rudy se viu afundando em águas escuras, sentindo uma
horrível falta de ar, além da impossibilidade de qualquer reação. Pagou caro o
preço de seus crimes, pois além de ser jogado já morto no mar, foi novamente
jogado nesse lago misterioso e profundo. Nada mais ele viu após esse episódio.
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