terça-feira, 18 de setembro de 2012

ESTRANHA PAIXÃO

    Era uma noite fria de agosto e eu me debrucei na janela da minha casa para olhar a rua, não especificamente a rua, mas uma casa que ficava quase em frente a minha. A minha casa ficava numa parte alta e eu tinha o privilégio de ver toda a movimentação da rua, inclusive das casas vizinhas e uma delas era o meu foco de observação. Ali morava uma garota que havia se mudado há pouco tempo e havia despertado a minha atenção, inexplicavelmente eu havia me apaixonado por ela sem ao menos conhecê-la, sem ao menos ter um contato. Simplesmente eu havia decidido que gostava dela, que ela seria a minha escolhida e nada ou ninguém iria impedir que esse meu desejo se realizasse. Eu ainda nem sabia o seu nome, não sabia nada sobre ela, apenas uma garota era o que sabia e que só olhou para mim uma única vez e foi esse o momento que despertou o meu estranho interesse. Da janela dava para observar atentamente os seus movimentos, apesar de não serem frequentes, pois muitas vezes eu não a via por ali, não sabia se estava em casa, se havia saído, porém o simples fato de visualizar o seu lar já me satisfazia um pouco, pois mentalizava ela ali no jardim ou na janela, olhando para mim e respondendo aos meus acenos.
    No dia seguinte lá estava ela, sentada no terraço e eu esperando que olhasse na minha direção, mas nada, parecia que eu não existia no seu campo de visão. Com o passar dos dias descobri o seu nome: Kátia. Achei lindo esse nome, como tudo era lindo vindo dela, até mesmo a sua teimosia em não olhar para mim. Eu nem quis imaginar a possibilidade dela ser comprometida e talvez isso nem me interessasse muito, pois de qualquer forma eu já a tinha, eu já dominava os seus passos na sua casa, já a tinha sob o meu poder, mesmo sendo um poder ilusionário.

    Certo dia eu a vi sair sozinha e resolvi segui-la. Meu coração estava aos pulos, dava a impressão que iria saltar pela boca, estando eu em seu encalço. Tentei aproximar-me mas ela foi mais rápida e apanhou um táxi. Foi embora a minha grande oportunidade de conhecê-la de verdade, quem sabe de poder tocar suas mãos e olhar de perto o seu sorriso. Éramos jovens e eu calculava ela ter a mesma idade minha. Assim como eu descobri o seu nome através de vizinhos, iria tentar outra investida e com certeza outra oportunidade haveria de surgir. Com efeito, na tarde do dia seguinte eu ficara propositadamente nas proximidades da sua casa, dava algumas voltas, ia lá e cá, até que Kátia saiu, dirigindo-se a uma padaria que ficava na esquina. Aproximei-me rapidamente e criei coragem para dizer um “olá!”. Ela me olhou um tanto assustada e dirigiu-me suas primeiras palavras, dizendo que não falava com estranhos. Aquilo me deixou um pouco sem jeito e me abalou profundamente, pois eu não esperava que reagisse dessa maneira. Mas eu a perdoei, já que na realidade ela não deixava de ter razão. Voltei para casa decepcionado, me sentindo um fracassado, sem querer novamente tentar outra investida.

    Passaram-se mais alguns dias e eu continuava a observá-la da minha janela, imaginando suas palavras a mim dirigidas, mesmo sem o sorriso que era esperado. Era a segunda vez que Kátia me olhava e a primeira vez que me dirigia palavras, mesmo não sendo o que eu queria ouvir. Não a via com a mesma frequência que via antes, parecia que estava se escondendo de mim e eu fiquei bastante enciumado quando vi um rapaz entrar em sua casa e abraçá-la, na minha vista, no terraço da sua casa. Fiquei constrangido e não fiquei mais na janela, preferindo uma leitura qualquer no meu quarto. Dias depois fiquei mais triste ainda quando percebi que Kátia havia se mudado repentinamente. Nunca soube o motivo.

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