quinta-feira, 29 de março de 2012

ALUCINAÇÃO

    A chuva fina no final da tarde fez Wagner parar embaixo de uma marquise. Estava a poucos metros do estacionamento onde deixara o carro. No prédio defronte uma jovem também se protegia da chuva, usava um xale e com certeza sentia frio. Seus olhares se cruzaram e Wagner se entusiasmou quando ela esboçou um leve sorriso. Um sorriso que pareceu hipnotizá-lo, fazendo-o nem perceber que a chuva cessara. Consultou o relógio e olhou o céu, as primeiras estrelas começavam a brilhar.
    Antes de seguir seu caminho fitou o outro lado da rua, para o prédio onde a moça lhe oferecera um sorriso. O local estava deserto, nem sinal dela. Ficou curioso e procurou localizar seu paradeiro. O prédio estava fechado e seria impossível ter se desviado para outro local. Teria sido ilusão de ótica? Saiu intrigado e se dirigiu para o estacionamento onde pegaria o carro.
    A chuva voltou e a noite caiu rápido. Dessa vez a chuva estava mais forte e na estrada teve que dirigir devagar, pois os veículos em sentido contrário o ofuscavam com faróis altos. A escuridão o preocupava e de repente um vulto na estrada deu com a mão. Ao aproximar-se viu que era aquela mesma moça que passava a chuva no prédio defronte. Ficou impressionado e, quase parando, olhou pelo retrovisor, percebendo que estava tendo uma alucinação. Como poderia aquela jovem estar ali se a viu bem atrás? Acelerou o carro, se arriscando com o trânsito complicado, os faróis altos e a chuva grossa.
    Chegou em casa finalmente, a chuva dava sinais de que diminuía, mas o seu semblante era de admiração. Estacionou o carro na garagem e entrou na residência, ainda com cara de espanto.
    Não conseguiu dormir naquela noite, ficando até altas horas pensando naquela figura misteriosa, no seu sorriso e na possibilidade de encontrá-la novamente.
    No dia seguinte Wagner trabalhou normalmente, mas não esqueceu a imagem da moça que o deixou impressionado. Largou do trabalho e percorreu o mesmo caminho do dia anterior, já preocupado com aquela pessoa. Dessa vez não chovia, o horário era o mesmo e a frente do prédio onde a vira estava vazia. Respirou aliviado, poderia seguir tranquilamente para o estacionamento em busca do carro. Lá chegando, teve uma grande surpresa, quase perdendo o fôlego. Ali estava a moça, com o mesmo xale, aquele mesmo corpo magro e o mesmo sorriso que entusiasmou ele.
    Fechou os olhos, não querendo  acreditar no que via. Estaria tendo uma alucinação? Visivelmente abalado, olhando atentamente para o carro, constatou que ali não havia ninguém, tendo sido vítima de imaginação. Quase não conseguiu dirigir imaginando que a qualquer momento ela poderia surgir do nada. Em casa tomou um calmante e foi dormir, porém o sono não veio. Começou a ouvir batidas na porta, sons estranhos e vozes que pronunciavam seu nome, tudo fruto da sua imaginação.
    No consultório médico, bastante nervoso, Wagner fora orientado para tirar umas férias, viajar, descansar e aproveitar alguns dias em ares diferentes, tomando os remédios prescritos.
    Fechou o apartamento onde morava só e viajou para a casa de seus pais, em outra cidade. Depois de alguns dias voltou à sua rotina. Aparentemente tudo estava normal para Wagner, não mais viu aquela moça estranha, procurando sempre uma companhia para afastá-lo da solidão, talvez sendo ela a responsável por suas alucinações.

Um comentário:

  1. Realmente a solidão nos faz ver coisas onde não existe nada. E também, assim como o álcool, distorce a nossa percepção da realidade.

    Bom conto sr. Moacir, abração!

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