quinta-feira, 8 de março de 2012

RETRATO NA PAREDE

na sala, sentado na cadeira de balanço
o velho Tião despertava de sono profundo
estava cansado, maltrapilho, um pouco imundo
vivia sozinho, pouco ligava para a higiene
a solidão era sua velha companheira
desde que Anastácia, inconformada, foi embora
era sua esposa, dona de casa, bela senhora
que não aceitava os desmandos do marido
o tempo passou, vinte anos de separação
não teve notícias, um só consolo sequer
apenas um retrato na parede daquela mulher
que olha desconsolado, sem nada dizer
levantou da cadeira, olhou o retrato
tirou da parede, afagou com a mão
apertou no peito sob forte emoção
duas lágrimas desceram pelas faces
recolocou na parede, ficou a olhar
uma imagem em preto e branco sorrindo
um amor que aos poucos foi se destruindo
e hoje é somente lembrança do passado

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