domingo, 1 de abril de 2012

O SEGREDO DO PORÃO

    A velha casa de campo estava abandonada há anos, desde que seu antigo proprietário falecera, vítima de um mal súbito naquele imóvel imenso, em terras outrora cultivadas, com empregados e hoje entregue a herdeiros que não dão a devida atenção. Fazem algumas visitas muito raras apenas para se certificarem de que está tudo em ordem. Nessa manhã, Jair resolveu entrar na velha casa, em busca de algo que um sonho havia lhe revelado. Não sabia o que, mas tinha a impressão que era coisa de valor.
    Tinha sido um dia normal para Jair e à noite, um pouco cansado, resolveu se deitar cedo. O sono não tardou e ele se viu na frente da casa de campo abandonada. Sonhava que estava ao lado de um senhor que pedia para pegar algo que lhe pertencia e que estava guardado no porão. Entrou e se dirigiu ao local indicado. Quando tentou levantar a tampa que dava acesso ao mesmo, uma viga de madeira se desprendeu do alto e lhe atingiu na cabeça, deixando-o prostrado no chão. Acordou nesse momento de um sonho ruim. Passou a mão na cabeça para se certificar se fora realmente um sonho.
    Diante da casa Jair hesitava, não estava muito a fim de entrar para procurar o que lhe fora revelado em sonho, mas por impulso adentrou a casa e parou diante da tampa do porão. Viu que tinha bastante poeira, mas pôs a mão na tranca para levantá-la. Um estalo se ouviu e uma viga de madeira, como no sonho, se desprendeu do alto, quase o atingindo na cabeça. Por um triz escapou da morte, visto que a viga era grossa e pesada. Saiu ileso, apenas com pequenos arranhões. A entrada do porão ficou obstruída e ele sozinho não podia fazer nada. Voltou para casa sem mais se preocupar com o assunto.
    Durante o jantar Jair comentou o ocorrido com os familiares, falando também do sonho que tivera e todos pediram que ele tivesse cuidado. Chegou a hora do sono e ele foi dormir sem se lembrar mais do fato. Sonhava agora com o falecido pai, que lhe pediu para não mexer em seus pertences lá no porão. Acordou um tanto assustado, já que nunca sonhara com o pai desde que falecera, naquele mesmo local, quando passou mal, ali expirando.
    Passaram-se alguns meses e a família resolveu vender a propriedade. Uma imobiliária se encarregou da venda, que em poucos dias foi consumada. O novo proprietário, após uma reforma na casa, devolveu os pertences que se encontravam no porão, entre eles alguns documentos e objetos de estimação.
    Decorridos três meses da ocupação, a casa já apresentava um novo visual, estava mais arejada e com pessoas morando e trabalhando na plantação. Jair passava pelo local e teve uma boa impressão da antiga casa de campo mas ficou curioso com o sonho que tivera por duas vezes. No primeiro um senhor queria resgatar algo que lhe pertencia e no segundo o pai lhe pedira par não mexer em seus pertences. De repente viu uma movimentação de policiais na casa e que saiam com um saco, onde continha alguma coisa estranha. Procurou se certificar e soube que se tratava de uma ossada que fora encontrada na parede, em uma espécie de gaveta no porão, onde iniciavam uma pequena reforma.
    A família de Jair foi então intimada para prestar depoimento, mas ninguém soube informar nada, já que a única pessoa que tinha acesso ao porão já era falecida e o caso foi encerrado.
    À noite, depois do jantar, Jair ficou pensativo com aquela situação e foi dormir com aquilo na cabeça. Não conseguia imaginar o que acontecera. Deitou e entrou em sono profundo. Começou a sonhar com aquele senhor que queria algo que se encontrava no porão. No entanto ele estava agora mais tranqüilo e lhe dizia que o que queria já foi retirado de lá. Jair ficou intrigado e acordou assustado, lembrando da ossada que a polícia encontrara. Pouco tempo depois foi vencido pelo sono e novamente sonhou, dessa vez com o pai, que lhe dizia que aquele era um antigo desafeto, referindo-se a ossada, que tentara lhe roubar, sendo morto em legítima defesa. Seu pai então resolvera emparedar seu corpo numa gaveta aberta e cuidadosamente fechada, nunca despertando suspeitas. Fizera isso para evitar complicações sem revelar nada para ninguém.

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