quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

DE VOLTA A CIDADE NATAL


    Voltei àquela cidade de onde eu parti um certo dia, sentia vontade de rever velhos amigos e conhecidos, queria saber como estava o lugar onde morei por muitos anos, onde trabalhei, onde conquistei o meu futuro. Passei por dificuldades, o que é natural no ser humano, aprendi coisas que hoje poucos se interessam, como o respeito e a honra, amei e construí a minha família, filhos que atualmente vivem suas vidas independentes da minha presença, mas que sabem que existe um pai que os ama.

    Parei o carro numa praça, onde outrora não existia e vi que minha cidade mudara e muito, estava em pleno desenvolvimento. As antigas ruas sem calçamento agora estavam pavimentadas, com lojas e armazéns onde antigamente eram simples residências, tendo sido reformadas para tal. Abracei antigos conhecidos, velhos amigos que brincaram comigo nos idos anos de minha adolescência, relembrando assuntos que nos faziam rir. O menino Tião era dono de uma padaria, aquele mesmo menino que sempre me pedia um pedaço de pão quando eu estava sentado na porta de casa, depois do café da manhã. O Pedrinho, aquele pestinha que me infernizava nas peladas de futebol, dando dribles e rindo de mim, era o dono de um armazém de construção. Leda era uma garota bem sapeca com quem tive um namorico, nunca gostou de mim e estava sempre à procura de um novo namorado que apreciasse os seus gostos. Hoje era uma senhora viúva, morando com uma filha que tinha um salão de beleza.

    Foram momentos de alegria e prazer, revivendo um passado que me fez voltar a ser criança, deslumbrado com as belezas da cidade modificada pelo progresso. A impressão era de que eu nunca tinha saído dali, principalmente quando me vi na frente da casa onde morei desde o nascimento. Me deu uma tristeza danada quando adentrei aquela residência, um pouco modificada e com novos donos. A saudade me abalou profundamente, tive vontade de não mais deixar essa cidade, de reviver esses momentos com mais intensidade, mas eu tive de acordar para a realidade, pois o meu mundo agora era outro, precisava aceitar isso.

    Antes de partir me lembrei de Samuel, um rapaz arrogante, bem mais velho que eu. Ele costumava arranjar encrenca com todo mundo, gostava de tomar as namoradas dos conhecidos e era tido como um “Don Juan” da cidade, sempre ostentando um colar de prata que não tirava do pescoço. Perguntei por ele e me disseram que se encontrava enfermo, sem família, num leito de hospital. Resolvi visitá-lo, o que pouca gente fazia, preferiam até que ele morresse, pois na época não era bem quisto e nem a própria mãe o aguentava. Cheguei ao hospital e me dirigi até o quarto onde estava internado, ficando triste com a cena que presenciei. Samuel demorou para me reconhecer e até chorou junto comigo, pois não me contive. Apesar das maldades que ele praticara, o tempo se encarregou de puni-lo e eu, sinceramente, o perdoo pelos seus atos. Naquele momento ele não reunia as mínimas condições de recuperação, só Deus poderia fazer algo por ele. A doença o consumia diariamente, os médicos já o tinham desenganado. A doença afetara seus pulmões por conta do uso demasiado de cigarro e o álcool comprometera seu fígado.

    Naquele mesmo dia voltei para casa levando boas lembranças da minha cidade natal, com exceção da situação de Samuel, de quem me compadeci muito.

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