Um raio de sol bateu em meu rosto como querendo me acordar, conseguindo
então o seu intento. Olhei o relógio de pulso que descansava na cabeceira da
cama, eram pouco mais de oito da manhã. Percebi que dormira pouco levando em
conta que chegara em casa às quatro da madrugada, quando saí daquele baile,
depois de ter exagerado na bebida. Ficara
com Simone, uma garota chata que não me atraía, não tinha beleza e não
sabia fazer carinho. Ficara com ela apenas por ficar, por não ter outra opção.
Meu pensamento estava em Laura, uma garota moderna, com quem eu deveria ficar
nessa noite, varando a madrugada, talvez nem voltando para casa. Mas ela não
apareceu e eu me desesperei, já que estava necessitando da sua presença, do seu
carinho, pois íamos iniciar um namoro e combinamos para nos encontrarmos no
clube. Um único beijo era sua lembrança, quando nos encontramos pela
primeira vez, apesar de já nos
conhecermos de vista, um beijo que me deixou louco, imaginando nessa noite de
festa lhe dar milhares de beijos, fazendo planos e imaginando palavras para lhe
dizer. Mas Laura não apareceu, me deixou triste, pensativo, sem saber o que
fazer. Foi aí que apareceu Simone, que me tirou da solidão, daquela espera
melancólica.
Olhei o relógio mais uma vez, parecia que o tempo não passava, meu corpo
ainda cansado teimava em permanecer deitado, não querendo obedecer minha mente
para se dirigir ao chuveiro. O raio de sol já não batia mais no meu rosto, estava
um pouco adiante do travesseiro, esse sol chato que me acordou, me fazendo
pensar em Laura, me fazendo pensar também em Simone, que de certa forma não me
deixou só, até me ajudando a passar a noite, entre um trago e outro de cerveja.
Estava com ela, me divertia, mas o pensamento estava em Laura, essa sim me
despertou um grande desejo, me fez viajar em ilusões, em momentos que ficaram
apenas em pensamentos, que não se concretizaram. Eu desejava muito torná-los
reais, fazer de Laura uma garota amada, mas ela não apareceu. Foi Simone quem
me tirou desse tédio, dessa noite de espera em vão. Seus beijos não me
satisfaziam, a música que tocava quando dançávamos parecia ser chata, a cerveja
dava a impressão de não estar gelada, mas eu fiquei ali, com Simone, pensando
em Laura. Seu corpo roçava no meu, mas eu não sentia o que gostaria de sentir
com Laura, que não atendeu o meu desejo. Antes de amanhecer a deixei em casa e
fui dormir, tendo o raio de sol me despertado, me fazendo lembrar essa
decepção.
Enfim levantei, tomei uma chuveirada e me vesti. A cigarra tocou e eu me
assustei, pensando logo em Laura. Fui atender bem depressa, quase correndo. Era
Simone, com um sorriso nos lábios, me deixando atônito. Ela entrou e me abraçou
e eu não tive nenhuma reação, apenas me deixando abraçar. Ela me beijou com
carinho e nesse momento senti algo estranho, algo que não sentira na noite
anterior. Reagi então e abracei-a com força, quase lhe sufocando. Levei-a para
o quarto e nos amamos, dando vazão a essa fúria descontrolada que tomara conta
de mim. Seu corpo eu desejei como nunca, talvez para esquecer Laura, que me fez
esperar. Simone foi a faísca que fez surgir o fogo em mim, que despertou um
tesão que me fez penetrá-la novamente.
Após o café da manhã Simone se foi, precisava trabalhar e eu estava de
folga, iria descansar um pouco. Sentei no sofá para ver o noticiário da TV quando
a cigarra tocou. Pensei ser Simone que tivesse esquecido algo, indo atender.
Era Laura, que viera se desculpar, pois uma tia sua passara mal e ela teve que
socorrer. Me abraçou com carinho perguntando se eu fora ao baile. Menti forçado
pelas circunstâncias, pois a queria e essa era minha grande oportunidade. Conversamos
por um certo tempo e não esperei mais, levando-a para a cama e amando-a com
muito gosto. Agora estava numa sinuca, sem saber o que dizer para Simone. Laura
era o meu grande desejo e eu não queria perdê-la.