sábado, 1 de dezembro de 2012

JANINHO



(Esta é uma história fictícia, porém baseada em fatos reais. Qualquer semelhança terá sido mera coincidência)

    Edilene olhava através da janela do seu quarto a chuva fina que caía e uma criança que brincava alheia ao tempo. Conhecia de vista aquele menino, podia ter entre seis e oito anos, adorava perambular pela rua apesar de ter uma mãe, moradora de um casebre na mesma rua, mas que não ligava para ele. Diziam que não tinha a razão perfeita, algumas vezes era levada ao hospital público por conta de uma doença que a afligia. O menino ficava solto, algumas pessoas “olhavam” enquanto a mãe voltava.

    Alguns dias depois Edilene voltava da cidade quando se deparou com ele. Era conhecido como Janinho, não estudava e levava a vida praticamente só, sem a companhia da mãe, que vivia enfurnada no casebre. Os vizinhos ajudavam na alimentação quando podiam e muitas vezes passavam fome e sede. Diziam que ela já viveu muito bem, até que o marido a abandonou grávida, época em que entrou em depressão e se tornou uma catadora de material reciclável, adoecendo em seguida e até deixando de cuidar do filho. Convidou o menino para ir até sua casa para comer alguma coisa, falando em seguida com sua mãe, que consentiu. Janinho fez um lanche reforçado, conversou bastante com Edilene e em seguida voltou para seu casebre, acompanhado por ela. Chegando lá Edilene teve uma surpresa ao constatar que a mãe do menino não estava. Depois de procurar pelas redondezas e não obter êxito, decidiu levar o garoto para sua casa, passando a cuidar dele como se fosse um filho.

    O tempo passou e Janinho se viu sem a presença de sua mãe, que levou sumiço. Agora, já com doze anos, estudava e tinha uma vida confortável. Quando completou 18 anos já estava na faculdade cursando Medicina. Edilene tinha o maior orgulho de seu filho adotivo, sempre tratando-o com o maior carinho e sendo correspondida.

    Um certo dia, quando já formado como médico cardiologista, o Dr. Jânio, assim era então conhecido, foi convidado para atender uma senhora idosa que passava mal em um abrigo próximo do seu consultório. Como bom cristão e sem interesse financeiro, se dispôs a atender a velha senhora. Uma força estranha parecia querer apressá-lo a chegar ao local, o que não demorou muito. Pegou as mãos da mulher e mediu a sua pressão, examinando-a com cuidado. Ela o olhava firme e às vezes sorria. O médico ficou impressionado com aquele comportamento e indagou dela o que estava acontecendo, tendo como resposta o seguinte: “Eu pedi muito a Deus para lhe dar um futuro brilhante e Ele me atendeu. Deixei aquele casebre na certeza de que minhas preces seriam ouvidas e agora, à beira da morte, pedi novamente a Deus, um último pedido, o de ver meu filho antes de partir para a eternidade. Mais uma vez Ele me ouviu e aqui está você, MEU FILHO”.

    Lágrimas rolaram dos olhos do Dr. Jânio, que reconheceu a sua mãe desaparecida, a sua mãe biológica. Minutos depois ela fechava os olhos para sempre, antes pronunciando o seu nome na infância: Janinho.

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