(Esta é uma história fictícia, porém baseada em fatos reais. Qualquer
semelhança terá sido mera coincidência)
Edilene olhava através da janela do seu
quarto a chuva fina que caía e uma criança que brincava alheia ao tempo.
Conhecia de vista aquele menino, podia ter entre seis e oito anos, adorava
perambular pela rua apesar de ter uma mãe, moradora de um casebre na mesma rua,
mas que não ligava para ele. Diziam que não tinha a razão perfeita, algumas
vezes era levada ao hospital público por conta de uma doença que a afligia. O
menino ficava solto, algumas pessoas “olhavam” enquanto a mãe voltava.
Alguns dias depois Edilene voltava da
cidade quando se deparou com ele. Era conhecido como Janinho, não estudava e
levava a vida praticamente só, sem a companhia da mãe, que vivia enfurnada no
casebre. Os vizinhos ajudavam na alimentação quando podiam e muitas vezes
passavam fome e sede. Diziam que ela já viveu muito bem, até que o marido a
abandonou grávida, época em que entrou em depressão e se tornou uma catadora de
material reciclável, adoecendo em seguida e até deixando de cuidar do filho.
Convidou o menino para ir até sua casa para comer alguma coisa, falando em
seguida com sua mãe, que consentiu. Janinho fez um lanche reforçado, conversou
bastante com Edilene e em seguida voltou para seu casebre, acompanhado por ela.
Chegando lá Edilene teve uma surpresa ao constatar que a mãe do menino não
estava. Depois de procurar pelas redondezas e não obter êxito, decidiu levar o
garoto para sua casa, passando a cuidar dele como se fosse um filho.
O tempo passou e Janinho se viu sem a
presença de sua mãe, que levou sumiço. Agora, já com doze anos, estudava e
tinha uma vida confortável. Quando completou 18 anos já estava na faculdade
cursando Medicina. Edilene tinha o maior orgulho de seu filho adotivo, sempre
tratando-o com o maior carinho e sendo correspondida.
Um certo dia, quando já formado como médico
cardiologista, o Dr. Jânio, assim era então conhecido, foi convidado para
atender uma senhora idosa que passava mal em um abrigo próximo do seu
consultório. Como bom cristão e sem interesse financeiro, se dispôs a atender a
velha senhora. Uma força estranha parecia querer apressá-lo a chegar ao local,
o que não demorou muito. Pegou as mãos da mulher e mediu a sua pressão,
examinando-a com cuidado. Ela o olhava firme e às vezes sorria. O médico ficou
impressionado com aquele comportamento e indagou dela o que estava acontecendo,
tendo como resposta o seguinte: “Eu pedi muito a Deus para lhe dar um futuro
brilhante e Ele me atendeu. Deixei aquele casebre na certeza de que minhas
preces seriam ouvidas e agora, à beira da morte, pedi novamente a Deus, um
último pedido, o de ver meu filho antes de partir para a eternidade. Mais uma
vez Ele me ouviu e aqui está você, MEU FILHO”.
Lágrimas rolaram dos olhos do Dr. Jânio,
que reconheceu a sua mãe desaparecida, a sua mãe biológica. Minutos depois ela
fechava os olhos para sempre, antes pronunciando o seu nome na infância:
Janinho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário