domingo, 29 de julho de 2012

UM CONTATO COM O ALÉM



    Conheci Dalva quando visitava um amigo enfermo em um hospital da cidade. O mesmo se recuperava de uma cirurgia e no seu quarto havia mais três pacientes. Um dos pacientes era um senhor de seus 60 anos mais ou menos, que tinha ao seu lado Dalva, essa pessoa que só vim a conversar com ela no segundo dia da visita, após perceber que ela ficava ao lado daquele senhor quase imóvel, observando ele e às vezes rezando com as mãos juntas. Nunca lhe dirigiu uma palavra e quando indaguei à respeito ela simplesmente disse que ele precisava de repouso. Troquei algumas palavras com Dalva e ela me falou que era sua filha e que o amava muito. Conversamos coisas triviais e me dirigi para junto do meu amigo.

    No dia da alta do amigo falei com Dalva me despedindo, desejando boa recuperação para seu pai. Ela fez o mesmo com relação ao meu amigo. Saí do hospital e não mais vi Dalva, porém cerca de dois dias depois precisei passar pelo local do hospital e resolvi entrar para ver se a encontrava, bem como para saber da saúde do seu pai. O paciente ainda se encontrava lá, mas seu estado não era dos melhores, apesar de estar lúcido. Sorri para ele e lhe desejei que se recuperasse o mais breve possível, indagando sobre sua filha, por que não estava ali. Notei que ele ficou surpreso e me respondeu com toda simplicidade:

   - Ninguém nunca veio me visitar e a filha a quem você se refere já   faleceu há dois anos. Era minha filha única e deixou muita saudade.

    Aquilo me surpreendeu muito e fiquei sem saber o que dizer. Ele iria achar que eu estava delirando. Saí do hospital bastante pensativo, fiquei muitos dias com aquele pensamento martelando em minha cabeça.

    Algumas semanas depois faleceu um antigo companheiro de trabalho, uma pessoa com quem convivi por muitos anos, me vendo na obrigação de comparecer ao sepultamento. O cemitério ficou repleto de amigos, familiares e pessoas que trabalharam com ele. Foi uma comoção muito grande por se tratar de uma criatura muito querida, vitimada por uma doença pulmonar.

    Antes de sair do cemitério resolvi visitar o túmulo de um familiar que partira há cerca de dois anos. Me aproximei da lápide e deslizei a mão suavemente sobre sua foto. Em seguida algo me fez olhar ao lado, para um outro túmulo onde tinha a foto de uma mulher. Olhei atentamente para ela e achei muito parecida com aquela senhora que conheci no hospital em visita ao seu pai. Era Dalva, eu tinha certeza, confirmando isso ao ler o seu nome na lápide do túmulo. Saí do cemitério bastante emocionado.

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