Conheci Dalva quando visitava um amigo enfermo em um hospital da cidade.
O mesmo se recuperava de uma cirurgia e no seu quarto havia mais três
pacientes. Um dos pacientes era um senhor de seus 60 anos mais ou menos, que
tinha ao seu lado Dalva, essa pessoa que só vim a conversar com ela no segundo
dia da visita, após perceber que ela ficava ao lado daquele senhor quase
imóvel, observando ele e às vezes rezando com as mãos juntas. Nunca lhe dirigiu
uma palavra e quando indaguei à respeito ela simplesmente disse que ele
precisava de repouso. Troquei algumas palavras com Dalva e ela me falou que era
sua filha e que o amava muito. Conversamos coisas triviais e me dirigi para
junto do meu amigo.
No dia da alta do amigo falei com Dalva me despedindo, desejando boa
recuperação para seu pai. Ela fez o mesmo com relação ao meu amigo. Saí do
hospital e não mais vi Dalva, porém cerca de dois dias depois precisei passar
pelo local do hospital e resolvi entrar para ver se a encontrava, bem como para
saber da saúde do seu pai. O paciente ainda se encontrava lá, mas seu estado
não era dos melhores, apesar de estar lúcido. Sorri para ele e lhe desejei que
se recuperasse o mais breve possível, indagando sobre sua filha, por que não
estava ali. Notei que ele ficou surpreso e me respondeu com toda simplicidade:
- Ninguém nunca veio me visitar e a filha a quem você se refere já faleceu há dois anos. Era minha filha única e
deixou muita saudade.
Aquilo me surpreendeu muito e fiquei sem saber o que dizer. Ele iria
achar que eu estava delirando. Saí do hospital bastante pensativo, fiquei
muitos dias com aquele pensamento martelando em minha cabeça.
Algumas semanas depois faleceu um antigo companheiro de trabalho, uma
pessoa com quem convivi por muitos anos, me vendo na obrigação de comparecer ao
sepultamento. O cemitério ficou repleto de amigos, familiares e pessoas que
trabalharam com ele. Foi uma comoção muito grande por se tratar de uma criatura
muito querida, vitimada por uma doença pulmonar.
Antes de sair do cemitério resolvi visitar o túmulo de um familiar que
partira há cerca de dois anos. Me aproximei da lápide e deslizei a mão
suavemente sobre sua foto. Em seguida algo me fez olhar ao lado, para um outro
túmulo onde tinha a foto de uma mulher. Olhei atentamente para ela e achei
muito parecida com aquela senhora que conheci no hospital em visita ao seu pai.
Era Dalva, eu tinha certeza, confirmando isso ao ler o seu nome na lápide do
túmulo. Saí do cemitério bastante emocionado.
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