segunda-feira, 16 de julho de 2012

PERSEGUIÇÃO MENTAL


   Décio teve a nítida impressão de que estava sendo seguido quando parou de cavalgar. Percorrera centenas de quilômetros, atravessando planícies, riachos e florestas, além de caminhos pedregosos. Estava exausto e o cavalo precisava descansar. Regressava de um vilarejo onde fora pegar uma encomenda de certo valor, o suficiente para despertar a cobiça. Tivera o devido cuidado para não despertar suspeitas a partir do momento que pegou as barras de ouro, colocando em uma bolsa o mais discreto possível. Escolheu um lugar estrategicamente bom para visualizar qualquer aproximação, pois todo cuidado era pouco. A tarde findava e os últimos raios de sol já começavam a desaparecer no horizonte. Ficaria ali para passar a noite e seguir viagem quando o sol despontasse.
   A fogueira foi acesa com gravetos colhidos nas redondezas, antes que a noite encobrisse tudo. Décio preparou um café quente e vestiu um casaco para se proteger do frio. Logo a escuridão tomou conta do local e uma cama improvisada se via junto da fogueira, que fora abastecida com mais gravetos. Nosso viajante ficou em ponto estratégico observando a cama, onde dava a impressão de alguém estar dormindo tranquilamente. Queria testar se seria atacado por algum vulto fortuito. O tempo passou e nada aconteceu, então Décio resolveu dormir.
   O dia amanheceu, ele levantou-se e olhou atentamente o lugar, viu que tudo estava em ordem. Pôs a mão debaixo do travesseiro para se certificar se sua arma ali estava. Lavou o rosto num riacho próximo e esquentou água para o café. Os mantimentos dariam para chegar em casa, poderia até caçar algum animal para o almoço. Arrumou as coisas e partiu, olhando para trás com a mesma impressão de antes de que alguém o seguia.
   O sol já estava alto quando decidiu parar debaixo de uma frondosa árvore, local ideal para um merecido repouso, podendo fazer um fogo e esquentar o almoço. Caçou um coelho para saborear sua carne, assada no fogo. Após matar a fome um descanso agora era necessário, pois muitos quilômetros de estrada ainda estavam pela frente. O sono não tardou, mas Décio acordava repetidas vezes assustado, seja por uma simples folha que caísse jogada pelo vento ou pelo barulho de alguma ave nos galhos das árvores. Observava atentamente para todos os lados, não desejava ver nenhum ser humano que fosse capaz de tentar lhe roubar. Estava sempre com a bolsa perto de si, bem segura, onde as barras de ouro estavam.
   Já passava das duas da tarde quando iniciou a longa jornada, após tomar alguns goles d’água, sempre olhando as redondezas. Queria estar certo de que uma viv’alma ali não existia. Já tivera oportunidade de percorrer esse mesmo caminho inúmeras vezes e em uma delas fora assaltado. Dois bandidos mascarados lhe tomaram os pertences, além do cavalo. Só não foi morto porque resistiu bravamente, tendo trocado tiros com os meliantes com uma arma que havia escondido nas costas, chegando a ferir um deles. O pior foi que teve que retornar à pé.
   A noite se aproximava e Décio viu a necessidade de parar para o devido descanso seu e do animal. Enquanto o cavalo saciava a sede em um riacho próximo, ele recolhia galhos secos para a fogueira. Súbito, um barulho lhe chamou a atenção, ficando imóvel e procurando a sua direção exata. Afastou as ramagens e nada detectou,  deixando sua mente confusa. Na posição onde estava não poderia ser visto por se encontrar agachado e em meio ao mato. Continuou investigando de onde partira o som que escutara, abrindo um sorriso ao ver um casal de coelhos em cópula. Decidiu não matá-los, pois ainda tinha um pouco dessa carne guardada, sendo só necessário esquentar.
   O sol foi quem acordou o viajante solitário, que abriu os olhos e espreguiçou-se, sentindo-se tão seguro como das outras noites. Pensou em não levantar logo, dormir mais um pouco, porém era bom apressar para chegar em casa o mais cedo possível.
   A viagem transcorreu tranqüila, sempre quando parava para descansar como para se alimentar. Mais duas noites se passaram e Décio já estava certo de que nessa tarde chegaria sem enfrentar obstáculos. Sua mente ainda não lhe deixava em paz, estava sempre atento em todas as ocasiões e as barras de ouro o preocupavam muito. Transportava-as com todo o cuidado, sempre com discrição, mas nessa vida nada impede que algum mal possa acontecer. Finalmente chegou ao destino em paz, agradecendo aos céus por essa aventura ter sido muito proveitosa.

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