terça-feira, 3 de abril de 2012

A VINGANÇA DE NILO


    Nilo parou diante de uma vitrine. Através do vidro podia ver as pessoas no interior da loja. Um sujeito bem vestido lhe chamou a atenção, trouxe um lembrança para sua memória já tão congestionada por milhões de informações as mais diversas, tal qual um computador de última geração. Não restava dúvida de que aquela era a pessoa que tanto procurara, que tanto se empenhou para localizá-la e agora o destino lhe dava de presente. Estava ali, na sua frente, pronto para ser justiçado pelo mal que causou a sua família.
    A casa era enorme, comportava uma família composta de sete pessoas. Nilo tinha seus dezesseis anos e morava com os pais, além de três irmãos e um cunhado, companheiro de uma irmã sua. Seu cunhado, Hélio, era o tipo do sujeito aproveitador que conseguiu conquistar o coração de sua irmã Nélia, a mais velha dos irmãos. Brigavam com freqüência, brigas que eram amenizadas com a interferência de seu pai, que tolerava aquele homem em seu lar para que a filha ficasse em suas vistas, temendo um mal maior se ela fosse morar fora. Nélia gostava muito do companheiro, apesar das constantes discussões, sendo ele uma pessoa bastante violenta e apreciador da vida boêmia.
    Certo dia Hélio chegou em casa e não encontrou Nélia, que tinha ido a casa de uma amiga. Mais ninguém estava na residência e ele esperou a mulher bastante irritado. Nilo chegara da rua e tinha se dirigido para seu quarto, onde se dedicou aos estudos. O cunhado não percebeu sua chegada e em poucos minutos Nélia chegou, quando teve início uma discussão que terminou em agressão por parte do truculento Hélio, cobrando ciúmes dela. Em dado momento ele empurrou-a com força, indo ela projetar-se ao chão, batendo com a cabeça, fazendo o sangue jorrar em abundância. Com os gritos Nilo saiu do quarto e viu aquela cena degradante, percebendo que o cunhado fugia apressado, após pegar alguns pertences. Correu para pedir ajuda, conseguindo socorrer a irmã que infelizmente não resistiu aos ferimentos, vindo a falecer antes de chegar ao hospital. Os pais ficaram bastante abalados, ficando sob o efeito de calmantes. Hélio tomou sumiço e nunca mais foi visto.
    Diante daquela figura, daquele homem truculento que tirou a vida de sua irmã, Nilo tremeu, não teve condições de imaginar o que poderia fazer naquele momento. Cinco anos se passaram deixando uma angústia na família, principalmente nele, que jurara um dia encontrá-lo e esse dia chegou. Aguardou ele sair, disfarçando-se, e o seguiu. Andou alguns quarteirões e entrou em um hotel. Fingindo ser um amigo, Nilo procurou saber o quarto e para lá se dirigiu. Simulando ser uma entrega de encomenda do hotel, bateu na porta. De óculos escuros e boné não foi reconhecido, entrando no quarto. Fingiu que tirava algo de uma bolsa que carregava e manuseou alguns papéis, depositando tudo sobre uma mesinha, onde apanhou um cinzeiro de vidro e desferiu rapidamente um golpe na cabeça de seu ex-cunhado, tendo o mesmo perdido os sentidos. Amarou e amordaçou Hélio, aguardando que ele recobrasse a memória. Quando tornou a si Hélio, ainda sentindo dores, reconheceu Nilo, que afirmou taxativamente que iria eliminá-lo. Colocou uma substância corrosiva em seus olhos, que já andava sempre com ela, pois sabia que não teria coragem de matar aquele homem. Em seguida soltou-o e se retirou do local, antes avisando que se dissesse alguma coisa a respeito, ele o denunciaria como o assassino de Nélia, já que a polícia nunca o havia localizado.
    Os funcionários do hotel foram chamados por ele, que pediu ajuda, não explicando o que tinha havido, receoso de ser preso, pois sabia que era um foragido da lei.
    Do lado de fora Nilo observava a movimentação no hotel e viu que uma ambulância levou Hélio para um hospital. Seguiu até lá e informou a um policial a situação daquele paciente, que foi logo identificado e custodiado, aguardando ser medicado para depois prestar contas a justiça.

4 comentários:

  1. Boa tática do Nilo! Pensei que o outro acabaria cego, mas pelo jeito havia tratamento.

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  2. A idéia inicial era essa, cegá-lo mesmo, mas deixei uma dúvida no ar. Pode até alguém pensar que ele ficou cego mesmo.

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  3. É isso que deixa bonita a crônica. O leitor participa imaginando o que aconteceu. Parabéns, Moacir.

    Um abraço! Feliz Páscoa!

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  4. Maravilhoso texto Moacir. Gostei muito, é uma delícia para ler, a gente se envolve bastante.
    bjs

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