sexta-feira, 13 de abril de 2012

MAYRA, AMOR E ARREPENDIMENTO

    Mayra passou as mãos nos cabelos diante do espelho e viu uma realidade nua e crua, ensaiou um ar de melancolia mas percebeu que era em vão. O tempo foi o grande responsável por essa transformação na sua vida, por essa imagem que agora parece querer assustá-la, mostrando algumas mechas brancas tão naturais em seus cabelos. Tentou chorar, fez biquinho, mas imaginou que não iria resolver nada, apenas iria deixá-la chateada.  Se conteve e saiu da frente do espelho. Olhou o relógio na parede, passava das cinco da tarde, estava próximo de Lucas chegar, a estas horas ele já devia estar a caminho.
    Longe dali Átila manuseava alguns papéis no conforto do seu escritório. Parou um instante e olhou pela janela, percebendo que a noite já caía. Pegou o telefone e fez uma ligação. Falou algumas palavras de carinho mostrando um sorriso quase infantil.
    Lucas abriu a porta da casa e viu que a esposa falava com alguém ao telefone, mesmo assim abriu um sorriso e aproximou-se dela, beijando sua testa. Mayra ficou um pouco sem graça, pois não imaginava que aquele telefone fosse tocar naquela hora. Se despediu rapidamente e desligou.
    Durante o jantar Lucas perguntou com quem ela falava, isso na maior simplicidade. Ela fitou o marido com um largo sorriso e disse que uma amiga a havia convidado para um chá no dia seguinte à tarde, mas que ia pensar se iria. Casados há mais de dez anos esse casal vivia uma vida tranqüila, sem filhos e apenas ele trabalhando como funcionário público.
    No dia seguinte Lucas saiu para o trabalho, beijando Mayra e avisando que não viria para o almoço em casa por conta de uma reunião importante. Ela o acompanhou sorrindo até o portão, lamentando ter que almoçar sozinha. Entrou e foi ler alguma coisa, folheando algumas revistas sentada no sofá. Alguns minutos depois o telefone tocou, fazendo-a atender prontamente. Era Átila que lhe sussurrou algumas doces palavras, deixando-a sorridente. Esticou-se no sofá e ficou a conversar com ele, que estava na frente da casa e vira seu marido saindo para o trabalho. Perguntou se poderia entrar e ela meio receosa autorizou. Discretamente ele entrou e envolveu-a num abraço caloroso, seguido de um longo beijo. Pouco tempo depois estavam na cama trocando carícias, bem diferentes das de Lucas, um momento realmente de grande prazer para Mayra, que aceitava essa situação sabendo que estava errada, que tinha alguém que dava amor, não um amor tão apaixonante, cheio de doçuras, como as palavras de Átila, mas um amor cheio de respeito e de  responsabilidade, mas ela preferia um amor meio selvagem, às escondidas, com palavras doces.
    Na reunião Lucas conversava com várias pessoas no auditório da repartição, em meio aos chefes e diretores, sendo aplaudido em diversas ocasiões quando suas opiniões eram aceitas. Pouco mais das treze horas alguns diretores decidiram sair para um almoço em um restaurante da cidade, após a reunião, entre eles Lucas.
    Em casa Mayra foi convidada por Átila para saírem, aproveitarem a tarde, já que o marido dela não viria para o almoço. Ela não preparara nada já que a intenção dele era levá-la para um restaurante, onde tomariam um drink e almoçariam. Mayra mandou ele aguardar na sala enquanto se arrumaria. Dentro de um vestido elegante se olhou no espelho, passou as mãos nos cabelos e sorriu. Ficou séria repentinamente quando viu as mechas brancas sendo alisadas pelos seus dedos macios. Sentiu vontade de chorar, pensou no tempo que passou, no marido que estava no trabalho, na idade que estava avançando, pensou em nunca ter tido filhos e no desejo reprimido de tê-los. Agora não teve jeito, as lágrimas rolaram por suas faces, estava se sentindo uma inútil, uma pessoa falsa. Era uma traidora que não merecia perdão, imaginou que se Lucas soubesse alguma coisa a respeito não saberia o que poderia acontecer. Decidiu por fim a tudo isso, a todo esse sofrimento, afinal ela era uma mulher casada, tinha um marido amoroso que não merecia ser tratado dessa forma. Sentiu remorso e caiu em prantos, se sentindo a pior das mulheres, uma vagabunda. Tirou o vestido bonito e vestiu uma roupa simples, enxugou as lágrimas e despachou Átila quase o enxotando, que ficou sem entender nada. Não queria mais vê-lo, nunca mais, pediu que a esquecesse pois não voltariam mais a se verem. Tomou coragem, queria ser agora aquela mulher carinhosa para o marido, lhe dedicar todo amor que for possível. Talvez fosse esse o motivo dessa união não apresentar o resultado que ela esperava, fugindo então para outros braços em busca de algo que poderia estar ali perto dela, bem juntinho. Lucas sempre foi amoroso, se não dava o que ela queria talvez a culpa não fosse só dele, ela poderia colaborar, saber cativá-lo e era isso que faria daqui prá frente. Passaria uma borracha no seu passado, seria uma nova mulher, dedicada única e exclusivamente para seu marido, reconhecendo que esse amor poderia ser eterno, poderia proporcionar momentos de felicidades. Valeria a pena mudar esse comportamento vulgar, essa atitude mesquinha.
    Lucas chegou já à noite, cansado, se auto avaliando como um funcionário exemplar que fora elogiado pelos seus superiores. Recebeu um beijo carinhoso de sua esposa amada, que o abraçou com bastante emoção, como concordando com tudo que dizia, deixando-o surpreso. Seu sorriso era bastante nítido, sua euforia era grande e seu amor por Mayra era tudo que necessitava para ser um homem feliz. A noite foi maravilhosa para ambos e dois corpos nus se abraçaram varando a madrugada.

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