segunda-feira, 2 de abril de 2012

O DESTINO DE MARION

   
    Os sinos da pequena igreja badalavam naquela alegre manhã de domingo. Da janela do primeiro andar de um casarão de estilo colonial, em cores suaves, a menina-moça Marion olhava o movimento das pessoas se dirigindo para a missa. Cavalheiros e senhoras, de braços dados, além de algumas crianças, atendiam o chamado do pároco. Todos adentraram a casa de Deus e a extensa e larga rua ficou praticamente vazia, vendo-se apenas alguns comerciantes expondo suas mercadorias nas calçadas.
    Marion ficou ali por certo tempo, já ia sair da janela quando uma charrete se aproximava. Um jovem bem vestido a guiava e parou quase na frente do casarão, descendo e instintivamente olhou para cima, como a observar o imóvel. Seu olhar cruzou com o de Marion que ficou perturbada. Ninguém jamais a olhara daquela forma, homem nenhum demorou tanto encarando uma beleza natural. Como que paralisada, Marion tentou desviar o olhar mas não conseguiu. Logo ela, uma moça pobre, sem nunca ter conhecido o amor, apesar de possuir uma beleza invejável. Achou estranho aquele comportamento e se afastou da janela, indo dar continuidade aos seus afazeres domésticos.
    Depois do almoço, quando deixou a cozinha em ordem, Marion saiu para o jardim e sentou-se num banco, pondo-se a pensar na sua vida, em como fora parar ali. Era ainda uma criança quando sua mãe viúva falecera e ela não tinha parentes próximos, vindo a ser adotada pela família Dantas, proprietária do casarão. Ali permanecia há mais de sete anos, ajudando nos serviços domésticos. Estava tão absorta em seus pensamentos que nem notou que alguém a observava. Era o rapaz da charrete, que se encantara com a sua beleza e queria conhecê-la. Marion tomou um susto e quase desmaiou quando ele se aproximou e disse um “oi” para ela. Mesmo envergonhada conseguiu trocar algumas palavras com o estranho, que se mostrou cortês, manifestando o desejo de voltar a vê-la. A conversa foi rápida e dona Creuza, sua tutora, vendo-a ali mandou que entrasse.
    O dia amanhecia quando Cláudio, instalado num imóvel ali próximo, tomava o seu café.  Ficara encantado com aquela jovem e sentia vontade de vê-la novamente. Ali estava em casa de parentes, havia chegado de outra cidade para tratar de negócios, onde demoraria poucos dias. Após a refeição pegou a charrete e se dirigiu para o centro, mas antes parou em frente ao casarão. Marion estava na janela como a esperá-lo. Trocaram olhares e ela respondeu ao seu aceno. Nesse momento dona Creuza observou a cena e proibiu a moça de dar atenção àquele moço.
    Cláudio já estava de partida e não mais vira Marion, percebendo que a janela estava sempre fechada e no jardim também não a via. Seguiu esperançoso de retornar em breve e encontrá-la de qualquer jeito.
    Dona Creuza precisou viajar mas ficou preocupada com Marion. Não queria que ela se iludisse com aquele rapaz, pois conhecia-o um pouco e sabia que não era partido para ela. Resolveu levá-la na viagem, que seria longa, e deixou a moça em uma fazenda de  um irmão, recomendando que cuidasse dela. Marion foi forçada a obedecer e passou a morar nesse novo lugar, sabendo que não mais veria o rapaz.
    Passaram-se alguns dias e dona Creuza voltou para sua cidade, deixando a menina-moça na fazenda, mesmo a contra gosto. Cláudio aparecia sempre na cidade para resolver seus negócios, mas não via Marion. Ficou sabendo que ela fora mandada embora, não tendo notícia do seu paradeiro.
    Na fazenda Marion estava se sentindo como uma prisioneira, mesmo tendo liberdade para sair. Certo dia, não mais querendo aquele tipo de vida, resolveu fugir, pegando alguns pertences e tomando o caminho que levava até o centro daquela cidade. Caminhou por cerca de uma hora, onde conseguiu carona numa charrete que a deixaria na cidade onde morava antes. Porém, antes de chegar na cidade cruzou com outra charrete e viu uma pessoa que passara a morar no seu pensamento. Ali na sua frente estava Cláudio, o moço da charrete, que se surpreendeu ao vê-la. Marion não conseguiu conter a emoção e desceu da charrete, agradecendo pela carona, embarcando então na charrete do homem que mexera com seu coração. Expôs os fatos para ele, que resolveu levá-la para sua cidade, pois estava se dirigindo para lá, vindo da cidade onde a conhecera e tentava inutilmente localizá-la. Ela aceitou o convite e ambos iniciaram um novo percurso, uma nova vida que talvez mudasse o destino dela.
    Chegaram na propriedade do rapaz, sendo recebidos pelos seus pais, que se surpreenderam com a atitude do filho, mas deram toda atenção, instalando a moça num aposento e sendo cientificados da situação dela.
    Morando na propriedade do rapaz a quem se dedicara, Marion nem percebeu o tempo passar e quando deu fé estava de casamento marcado, enviando convite para a família Dantas, que a criou. Todos ficaram surpresos na cidade e o casamento se realizou, tendo a felicidade sido companheira do casal por longos anos.

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