sábado, 14 de abril de 2012

LIGIA, EXEMPLO DE AMOR

    
    O avião desceu suavemente no aeroporto de Salvador. Da mirante de uma área superior Nélio ficou observando a aeronave taxiar na pista até chegar ao local de desembarque de passageiros. Sabia que dele desceria sua irmã Lígia, que tanto admirava, apesar de não ser filha de sua mãe, pois seu pai casara-se novamente com a morte da primeira esposa, a mãe de Lígia. Correu até a saída de passageiros para encontrar a irmã. Ao vê-la abraçou-a carinhosamente, já que fazia anos que não a via, por conta de desavenças familiares. Lágrimas nos olhos dela demonstravam a sua tristeza nessa viagem, vinda do Recife para o enterro de seu pai que falecera devido a uma enfermidade grave.
    Na sua cidade, Lígia já estava muito preocupada com o agravamento da doença de seu pai e com a notícia do falecimento comprou imediatamente uma passagem para Salvador com a finalidade de dar o último adeus a quem lhe dera a vida, apesar de furtar-se em várias ocasiões de apoiá-la, satisfazendo assim a vontade de sua segunda esposa, que nunca gostou dela.
    Chegaram a uma residência próxima da casa onde morava a viúva, já que Lígia não poderia ficar na casa da madrasta. Ali morava uma família que gostava de Nélio e que se prontificou a hospedar sua irmã pelo tempo que ela quisesse. Apesar de separados por muitos anos, os irmãos pareciam nunca terem estado longe um do outro, pois conversavam apenas por telefone, tendo eles uma grande afeição mútua. Quando Nélio deixou o Recife junto com o pai, tinha apenas dez anos e Lígia catorze, ocasião em que permaneceu no Recife, indo morar com uma tia. Fazia mais de dez anos que a mãe dela falecera e a convivência com a madrasta era insuportável, mas Lígia levava a vida numa boa sem dar atenção às provocações da madrasta.
    Lígia ficou imaginando o dia em que sua mãe faleceu, vítima de complicações pulmonares, doença que a penalizou por vários anos. O pai, em pouco tempo, arranjou outra mulher, com quem se casou três meses depois. Lúcia era uma mulher arrogante e que não foi muito com Lígia. Dessa união nasceu Nélio, que conviveu com ela até o dia de Lúcia, não mais querendo a companhia dela, resolveu morar em Salvador, sua cidade natal. Os irmãos se gostavam e continuaram se comunicando por telefone.
    No velório de seu pai Lígia chorava baixinho, ao lado do irmão Nélio, que não a largava, despertando ciúmes em Lúcia que não a tolerava. Após o sepultamento Nélio pediu para que Lígia ficasse por mais uns dias, pois sentia bastante saudade dela depois da separação. Ela ficou por mais dois dias, porém tinha de voltar para o Recife para continuar seus estudos.
    Na hora da partida Nélio estava ao lado de sua irmã no aeroporto e a abraçou com carinho, prometendo voltar a vê-la. Agora sem seu pai voltaria para o convívio com a tia e ele continuaria com a mãe em Salvador.
    Passaram-se alguns anos sem se ver, apenas se comunicando por telefone. Nélio era sempre criticado pela mãe quando conversava com a irmã, mas ele não dava atenção, apenas respeitando-a como filho.
    Certo dia Lígia recebeu uma ligação do irmão comunicando que a mãe se encontrava bastante doente, sendo internada em estado grave. Era uma doença que necessitava de transfusão de sangue e estava difícil conseguir o tipo sanguíneo que a salvaria. Ela procurou saber o tipo e por ironia do destino era o mesmo tipo seu. Imediatamente se prontificou a viajar para Salvador e se deslocou até o hospital onde Lúcia estava internada. Foram feitos os procedimentos de praxe e o sangue de Lígia foi doado para Lúcia, completando uma quantidade mínima que existia no hospital. A madrasta, ao ver Lígia, ficou espantada e chorou bastante.
    No dia seguinte Lígia estava ao lado da madrasta no leito do hospital, confortando-a e desejando a sua melhora. Nélio ficou bastante emocionado com essa situação, vendo sua mãe sendo salva pelo sangue da enteada que tanto desprezara. Ao saber que Lúcia já se encontrava fora de perigo, ela beijou carinhosamente a testa daquela que nunca soube odiar e se despediu, prometendo voltar para vê-la recuperada.
    Um mês depois Lígia recebeu uma visita inesperada. Era Lúcia que chegava em sua residência, onde morava com a tia. Abraçou-a carinhosamente e convidou-a para morar junto com o irmão, um grande desejo dele. Poucos dias depois essa nova família, unida e feliz, comemoravam a nova vida em Salvador.

2 comentários:

  1. Gostei da história. Um belo exemplo de uma pessoa que não guardou rancor. Ou guardou e conseguiu superar e fazer a coisa certa.

    Sr. Moacir, estou participando de um site que promove "concursos" semanais de poesias e contos. Não ganha nada, apenas a divulgação, mas acho bacana. Caso interesse:

    http://bloinques.blogspot.com.br/

    (Eles publicam os temas lá pela Terça-feira mais ou menos).


    Grande abraço.

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  2. Ok, Fábio, vou entrar no site. Obrigado pela informação.
    Abraços,
    Moacir.

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