terça-feira, 22 de julho de 2014

JOCA, O PREGUIÇOSO

   Oito horas da manhã, Joca acordou com o sol batendo na cara e levando carão da velha mãe, dona Sebastiana, já com seus sessenta e quatro anos de lutas, de cuidados com a casa, mesmo caindo aos pedaços.
   - Levanta, bicho véi, vê se faz alguma coisa na vida, disse ela cutucando o filho com o cabo de vassoura. Pense num cabra preguiçoso que não serve pra nada!  É esse Joca, que só serve pra comer, dormir e tomar cachaça.
   - Não, mãe, deixa eu dormir! Essa foi a sua resposta e em tom de fúria. Dona Sebastiana já estava acostumada e nada podia fazer e não tinha coragem de botar o próprio filho pra correr, pra pelo menos arrumar um emprego decente. Aguentava essa bucha há muitos anos, desde que o marido morreu e que era linha dura botando o cabra para ajudá-lo na carpintaria. O moleque trabalhava com seu Pedro desde os treze anos e parecia que ia ser gente, mas foi o pai bater as botas para ele desandar na vida. Ele estava já com seus vinte e poucos anos e passou a fazer biscaites, pois não teve competência para assumir o lugar do pai na carpintaria, que fechou pouco tempo depois da morte do velho.
   A vida era dura e dona Sebastiana vivia de uma pequena pensão deixada pelo marido, fazendo também uns bicos lavando roupa de ganho e fazendo uns bolos para vender na feira. Pensam que Joca ajudava? O cara queria era boa vida, roupa lavada e comida na hora certa. Pense numa mãe besta!
   Já era  mais de nove da manhã quando o engraçadinho resolveu se levantar, nem banho tomava, enchia o rabo e ia pra rua. Às vezes arrumava algum serviço como armar móveis, consertar um cano quebrado ou fazer uma instalação elétrica, mas nesse último ele não era muito bom, pois sempre dava problemas. Vez ou outra chegava em casa cheio do quequéu e a velha mãe era obrigada a tolerar. Seu único lado bom é que nunca se envolveu com drogas e nem deu pra roubar.
   A noite caiu e dona Sebastiana já preparava o jantar quando Joca chegou. Trazia uma sacola na mão e cambaleava. Ela viu logo que o filho estava bêbado e o que fez foi ajudá-lo a se deitar para curtir a cachaça.
   - Eita vidinha desgraçada essa minha, resmungou a pobre mãe. Ele não trouxe nenhum dinheiro, o que indicou que se ganhou algum gastou na bebedeira e ainda trouxe algumas latinhas de cerveja para tomar em casa.
   Passou-se algum tempo e a vida naquela casa continuava a mesma, com o Joca sempre se esquivando do trabalho, dando valor somente para a farra e vivendo praticamente às custas da mãe que jamais ousou desprezá-lo. O único jeito era pedir a Deus que um dia ele se consertasse e deixasse essa vida de preguiçoso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário