quarta-feira, 14 de agosto de 2013

SOBREVIVENTE

   Me senti como o sobrevivente de um pouso forçado numa área totalmente desconhecida, onde eu nada conseguia entender com perfeição, onde tudo era confuso nos primeiros momentos. Agarrado nas asas da amargura, o olhar perdido no horizonte da incerteza, ali estava, sozinho, sem noção do que poderia acontecer, sem saber exatamente o que fazer. Pelo menos estava vivo, podia raciocinar, dar um tempo até o cérebro dar o sinal verde para começar a agir. Me livrei das asas que ali me deixaram, que me proporcionaram um voo cheio de turbulências, com quedas no vazio, me sentindo ameaçado e sem perspectivas de uma tranquilidade que tanto almejava, mas enfim tudo passou e agora só resta saber o que fazer, quais serão os meus passos seguintes.
   Uma nuvem de desejos misturados com frustrações povoavam a minha mente ainda desorientada, esperando uma resposta, uma ação mesmo que seja de momento para eu poder prosseguir, pois ali parado não resultaria em nada. Mas eu tinha que dar tempo ao cérebro, deixar ele agir e me dar ciência da meta a ser estabelecida, já que sem ele eu não conseguiria sobreviver. Em hipótese alguma eu poderia colocar o carro à frente dos bois e a partir desse pensamento vi a poeira desse desastre mental ir baixando aos poucos, ir se dissipando como a fumaça de um incêndio apagado. Tudo começou a se reorganizar, a tomar os seus devidos lugares. A rua estava clara, pessoas circulavam me olhando com uma certa inquietação e nesse momento me senti sóbrio, como se estivesse despertado de um sonho grotesco, que tinha me deixado em pavor. Fiz de conta que estava tudo bem, me levantei daquela relva fresquinha onde me deitei praticamente sem perceber, sem me dar conta do que estava fazendo.

   As horas se passaram e agora me sinto bem, depois de um banho quente relaxante, de alguns goles de um suco gostoso e gelado, de alguns biscoitos com manteiga e um café bem quente para avivar a memória. Do meu lado Laura, a mulher da minha vida, aquela a quem nunca deveria menosprezar, deixar só, saindo pelas noites e voltando nas madrugadas frias, poucas vezes conseguindo chegar em paz ao meu destino, a minha casa, o meu lar confortante e cheio de amor. Por que eu não compreendia isso? Por que eu necessitava tanto procurar na bebida uma válvula de escape para os meus problemas se o problema era exatamente eu? Eu agradecia depois quando uma alma bondosa me deixava em casa, depois de me recolher na rua ou numa mesa de bar, são e salvo. Até agora eu tenho sobrevivido, tenho tido a sorte de permanecer na paz do meu lar, mas até quando? Será que vou conseguir sobreviver por mais tempo? Será que vou conseguir deixar essa vida de notívago e viver na companhia de quem só me dar carinho? Aguarde, Laura, eu vou conseguir.

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