No quarto bem arejado e claro
Raíssa passava praticamente o dia todo, não saía para nada, exceto para algumas
atividades necessárias, como tomar banho, alimentar-se e satisfazer necessidades
fisiológicas. Não frequentava colégio, mas tinha aulas particulares, os pais
lhe davam a devida atenção tendo em vista o seu desequilíbrio mental, apesar de
ter momentos de perfeita razão, demonstrando capacidade de raciocínio. Dormia
com as luzes acesas por não suportar a escuridão e em caso de falta de energia
já existia no quarto um lampião à sua disposição.
Ao cair da tarde ela deixava o
quarto e se dirigia até a varanda, onde existia um banco de madeira pintado de
branco, o seu local preferido para firmar seu olhar no horizonte, bem além de
uma estrada, onde no final existia um ponte. Aguardava pacientemente a noite
cair para “assistir” a um espetáculo que só ela tinha a capacidade de ver,
segundo afirmava, estava convicta disso. Quando a noite caía ela se animava,
ficando um bom tempo extasiada, numa admiração fictícia. Raíssa dizia que
alguém a tinha orientado para que visse essa cena diária, brilhos misteriosos,
luzes que mais pareciam estrelas piscando. Ela ficava tão serena apreciando,
sob o olhar curioso dos pais, que ficava se perguntando de onde seriam essas
luzes. Seus olhos brilhavam de tanto prazer e depois de um certo tempo ela voltava
calmamente para o seu quarto demonstrando uma imensa satisfação. Os pais sabiam
que no final da tarde seguinte seria a mesma coisa, a mesma encenação de Raíssa
com o suposto espetáculo das luzes, o seu passatempo predileto e diário.
(Conto baseado no poema RAÍSSA E AS LUZES, deste autor, já publicado
aqui)
Nenhum comentário:
Postar um comentário