sábado, 10 de agosto de 2013

RAÍSSA – O ESPETÁCULO DAS LUZES

   No quarto bem arejado e claro Raíssa passava praticamente o dia todo, não saía para nada, exceto para algumas atividades necessárias, como tomar banho, alimentar-se e satisfazer necessidades fisiológicas. Não frequentava colégio, mas tinha aulas particulares, os pais lhe davam a devida atenção tendo em vista o seu desequilíbrio mental, apesar de ter momentos de perfeita razão, demonstrando capacidade de raciocínio. Dormia com as luzes acesas por não suportar a escuridão e em caso de falta de energia já existia no quarto um lampião à sua disposição.
   Ao cair da tarde ela deixava o quarto e se dirigia até a varanda, onde existia um banco de madeira pintado de branco, o seu local preferido para firmar seu olhar no horizonte, bem além de uma estrada, onde no final existia um ponte. Aguardava pacientemente a noite cair para “assistir” a um espetáculo que só ela tinha a capacidade de ver, segundo afirmava, estava convicta disso. Quando a noite caía ela se animava, ficando um bom tempo extasiada, numa admiração fictícia. Raíssa dizia que alguém a tinha orientado para que visse essa cena diária, brilhos misteriosos, luzes que mais pareciam estrelas piscando. Ela ficava tão serena apreciando, sob o olhar curioso dos pais, que ficava se perguntando de onde seriam essas luzes. Seus olhos brilhavam de tanto prazer e depois de um certo tempo ela voltava calmamente para o seu quarto demonstrando uma imensa satisfação. Os pais sabiam que no final da tarde seguinte seria a mesma coisa, a mesma encenação de Raíssa com o suposto espetáculo das luzes, o seu passatempo predileto e diário.


(Conto baseado no poema RAÍSSA E AS LUZES, deste autor, já publicado aqui)

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