Era uma vez um
caracol, um bichinho pequeno que ninguém dar valor. Esse era um caracol mais
esperto, mais cheio de desejos, com vontade pra tudo. Já foi responsável por
vários outros caracóis que por aí ainda devem estar, vivendo suas vidas cada um
à sua maneira.
Durante suas várias caminhadas por aquele
terreno quase deserto, com algum mato, o pequeno molusco terrestre descobriu
que por ali passava uma estrada, mas pouco via um automóvel passar, apesar de
ser pavimentada. O caracol também viu que do outro lado da estrada existia uma casa, diga-se de
passagem, uma bela casa. E na parede dessa casa deu para ele vislumbrar que
existiam muitos caracóis, alguns até chegando perto da estrada. Nosso amigo
caracol do lado de cá ficou admirando por vários dias aquela paisagem e com uma
vontade louca de ir para lá, mas tinha medo de atravessar a estrada, temia não
dar tempo de atravessar e vir um carro doido e esmagá-lo. O molusco ficou
impaciente vendo o dia passar, a noite chegar e ele naquela concha, sua casa
própria, querendo satisfazer esse grande desejo e sem coragem. Não conhecia
essa estrada e ouviu falar de relatos sobre vários caracóis que se aventuraram
na travessia e se deram mal, foram esmagados por pneus em alta velocidade.
Agora ele estava ali, na beira da estrada que acabara de descobrir, além
daquela bela casa que avistara do lado de lá. Queria atravessar mas faltava
coragem, temia ter o mesmo fim dos outros.
Mais alguns dias se passaram e o molusco
tomou uma decisão: iria atravessar a estrada e ir ao encontro dos outros
caracóis, lá do outro lado. Reuniu forças e partiu para a aventura esperando
obter êxito nessa caminhada lenta que, segundo seus cálculos, duraria uns dez
minutos mais ou menos. Avançou na estrada deixando aquele rastro pegajoso,
carregando aquela concha-casa que agora parecia pesar bastante. Engraçado,
antes ela nunca havia lhe dado essa impressão e logo agora quando decidiu se
aventurar a desbravar o outro lado, esse peso na sua consciência. Esqueceu o
problema e seguiu adiante, observando que ao longo daquela estrada de piche
tinham várias carcaças machucadas de caracóis que tentaram passar e foram
esmagados. Pelo menos não via nenhum carro o nosso molusco medroso, poderia
seguir tranquilo em sua aventura. Mas de repente ouviu uma buzina, era um carro
com certeza, que azar! Lá vem o danado, ele viu e foi sua última visão. Mais um
corpinho foi esmagado por um automóvel que cismou de passar por ali logo agora.
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