domingo, 5 de maio de 2013

O CARACOL



    Era uma vez um caracol, um bichinho pequeno que ninguém dar valor. Esse era um caracol mais esperto, mais cheio de desejos, com vontade pra tudo. Já foi responsável por vários outros caracóis que por aí ainda devem estar, vivendo suas vidas cada um à sua maneira.
    Durante suas várias caminhadas por aquele terreno quase deserto, com algum mato, o pequeno molusco terrestre descobriu que por ali passava uma estrada, mas pouco via um automóvel passar, apesar de ser pavimentada. O caracol também viu que do outro lado  da estrada existia uma casa, diga-se de passagem, uma bela casa. E na parede dessa casa deu para ele vislumbrar que existiam muitos caracóis, alguns até chegando perto da estrada. Nosso amigo caracol do lado de cá ficou admirando por vários dias aquela paisagem e com uma vontade louca de ir para lá, mas tinha medo de atravessar a estrada, temia não dar tempo de atravessar e vir um carro doido e esmagá-lo. O molusco ficou impaciente vendo o dia passar, a noite chegar e ele naquela concha, sua casa própria, querendo satisfazer esse grande desejo e sem coragem. Não conhecia essa estrada e ouviu falar de relatos sobre vários caracóis que se aventuraram na travessia e se deram mal, foram esmagados por pneus em alta velocidade. Agora ele estava ali, na beira da estrada que acabara de descobrir, além daquela bela casa que avistara do lado de lá. Queria atravessar mas faltava coragem, temia ter o mesmo fim dos outros.
    Mais alguns dias se passaram e o molusco tomou uma decisão: iria atravessar a estrada e ir ao encontro dos outros caracóis, lá do outro lado. Reuniu forças e partiu para a aventura esperando obter êxito nessa caminhada lenta que, segundo seus cálculos, duraria uns dez minutos mais ou menos. Avançou na estrada deixando aquele rastro pegajoso, carregando aquela concha-casa que agora parecia pesar bastante. Engraçado, antes ela nunca havia lhe dado essa impressão e logo agora quando decidiu se aventurar a desbravar o outro lado, esse peso na sua consciência. Esqueceu o problema e seguiu adiante, observando que ao longo daquela estrada de piche tinham várias carcaças machucadas de caracóis que tentaram passar e foram esmagados. Pelo menos não via nenhum carro o nosso molusco medroso, poderia seguir tranquilo em sua aventura. Mas de repente ouviu uma buzina, era um carro com certeza, que azar! Lá vem o danado, ele viu e foi sua última visão. Mais um corpinho foi esmagado por um automóvel que cismou de passar por ali logo agora.

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