O caminho deserto e escuro não me fez temer
de percorrê-lo, pois estava decidido a chegar ao meu destino. Imaginava mil
coisas durante o trajeto, mas não me preocupava com o que poderia acontecer,
queria mudar a minha rotina, sair daquela mesmice, provar algo diferente, que eu
pudesse depois até me vangloriar, apesar de não ser do meu feitio.
Bati na porta daquela casa humilde sentindo
o coração bater em descompasso, percebendo que as minhas pernas tremiam. Logo
ela se abriu e aquela figura que eu havia visto há alguns dias na cidade, em
pleno movimento do comércio, me fitou quase assustada, talvez não esperando a
minha visita. Aquele mesmo olhar malicioso, cheio de mistérios, aquela mesma boca
carnuda que tive vontade de beijar, aquele sorriso alucinante de quem faz um
convite para o amor, tudo isso me fez estremecer mais ainda.
Laura era seu nome. Conversamos por algum
tempo na cidade e marcamos depois esse encontro. Tivemos pouco tempo para
trocarmos palavras pelo fato do local não ser apropriado e ela estar com
pressa. O desejo de conhecê-la melhor era demais, pois ela havia me cativado
nesse encontro, com esse olhar e esse sorriso.
Mas ali estava eu, diante daquela beleza
feminina, diante daquele mesmo semblante de mulher sensual. Toquei levemente o
seu rosto e senti que reagia com estímulos que me fizeram sentir enorme tesão.
Nos abraçamos, apesar dela se sentir insegura, com algum receio. Em seguida foi
o momento ideal para beijá-la com ardor, com toda volúpia. Laura nada falava,
nem mais ria, pois estava envolvida num clima misterioso, talvez tentando
entender o que estava acontecendo. Eu também assim me sentia, sem querer
acreditar nesse momento mágico. Fechei a porta e procurei controlar meus
movimentos, esse estado de ação que me perturbava. A noite estava linda e
precisávamos aproveitar, apesar do silêncio que ali reinava. Bocas que quase
não pronunciavam palavras, olhos que apenas se olhavam, mãos que se tocavam suavemente
e dois corpos juntos a sentirem desejo. Não durou muito e já estávamos na cama
fazendo amor gostoso, com toda vontade, parecíamos um vulcão em erupção.
Enfim o dia raiou e o sol atravessou a
brecha da janela nos acordando para a realidade. Ela me pediu que fosse embora,
que a deixasse em paz. Eu também não queria que aquilo tivesse acontecido, mas
aconteceu. Eu já estava gostando dela, do seu jeito especial, bem misterioso,
que me fez correr um risco que poderia ser evitado. Vi suas lágrimas rolarem
pelo rosto, lágrimas de arrependimento, fruto de um momento impensado. Juro que
não queria gostar tanto assim, de me expor em uma situação difícil, mas a vida
tem certas armadilhas que nos fazem cair, que nos perturbam emocionalmente. Saí
dali entre feliz e infeliz. No dia seguinte nos cruzamos na cidade mas não nos
falamos, ela estava acompanhada do marido. Assim decidimos, não dar vazão a um
amor louco, sem futuro. Deixei-a viver sua vida.
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