quinta-feira, 1 de maio de 2014

LEMBRANÇAS DO TRABALHO

   Me acostumei com essa vidinha de um pobre trabalhador que fazia questão de chegar cedo no batente, de dar de cara com aqueles que chegavam mais cedo ainda. Puxa, eu ficava pensando se eles não dormiam no trabalho, pois acho que saíam de casa de madrugada, nem tomavam o café da manhã. E realmente não tomavam, muitos iam até a lanchonete ou traziam o pão com queijo ou o pacote de bolachas e mais alguma coisa para completar. O café era da própria empresa, era cortesia para os empregados. Eu também fazia isso algumas vezes, deixando para me alimentar no local de trabalho, coisa rotineira para muitos, era até mis interessante, pois saía um pouquinho mais cedo do que o habitual. Tinha tempo para um papinho gostoso com os colegas antes que o expediente começasse. Falávamos de tantas coisas, do dia a dia da gente, de política, de futebol e até de intimidades familiares. Era tudo dentro do respeito, da conversa sadia e que só terminava quando dava 07:30h., horário quando todos se dirigiam às suas salas de trabalho.
   O dia amanhecia e eu já me preparava para a jornada diária, tomando o meu banho, escovando os dentes, trocando de roupa, tomando o café matutino e partindo para o meu ganha pão. Era uma maravilha, eu adorava essa rotina. Tomava o ônibus que geralmente vinha lotado e aguardava ansioso a hora da chegada, não admitindo que tivesse engarrafamento no trajeto. Porém sempre tinha, um carro batido aqui, uma obra ali e a minha indignação por não aceitar chegar atrasado no trabalho. Algumas vezes me acordava no sábado imaginando ser um dia comum, com o pensamento na rotina, mas aí caia a ficha e eu me ligava, voltando a dormir mais um pouco.
   Os anos se passaram e a rotina acabou com a minha aposentadoria. Acordava e não tinha o que fazer, tomando o café da manhã e fazendo hora para o dia passar logo. Perdi as contas de quantas vezes me acordei pensando em ir trabalhar, mas logo me lembrava que estava aposentado e que não tinha mais esse compromisso, o que me deixava de certa forma triste. Não teria mais a convivência com os camaradas de trabalho, não teria mais aqueles papos agradáveis, só algumas vezes quando fazia uma visita ou dava um telefonema, coisa que foi se tornando escassa. Fiquei com pena dos meus amigos, dos papos, sonhava ainda no trabalho inúmeras vezes. A vida muda, tudo se transforma e a gente passa a encarar uma nova realidade, boa ou ruim, dependendo do nosso comportamento. No meu caso foram 37 anos na mesma empresa, vendo as mesmas pessoas, fazendo o mesmo trabalho. Tudo agora é apenas passado.

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