quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O SONHO DA MORTE


     Rosana acordou assustada com a forte ventania durante a madrugada. O vento penetrava pelas frestas da janela, empurrando com a sua força a água da chuva que ora caía. O frio tomou conta do seu corpo e ela pensou em se cobrir quando um barulho forte se ouviu na cozinha, fazendo-a levantar-se para ver do que se tratava. Estava sozinha em casa, pois seu marido nessa noite estava trabalhando como médico plantonista em um hospital da cidade, devendo largar pela manhã. Já estava acostumada e não sentia medo algum, mas nessa noite ela apresentou um certo receio, como se estivesse imaginando que algo de ruim pudesse acontecer.

     Dias antes ela tivera um sonho estranho, quando uma mulher a convidava para um passeio em um lugar totalmente desconhecido para ela. Queria lhe mostrar algo interessante, mas não sabia do que se tratava. Levada pela curiosidade, Rosana aceitou o convite e acompanhou a mulher, mesmo morrendo de medo. Depois de andarem por um certo tempo, Rosana percebeu figuras estranhas ao seu lado que surgiram de repente e sem saber de onde. Aos poucos outras figuras grotescas foram aparecendo e ela começou a entrar em pânico. A mulher que a acompanhava sumiu como por encanto e Rosana começou a gritar, acordando molhada de suor. Contou o sonho para o marido que achou uma coisa natural e não mais se tocou no assunto.

     A chuva caía mais forte ainda, mas mesmo assim ela se dirigiu para a cozinha. Abriu a porta, já que a área externa era gradeada, caminhando alguns passos, sentindo a força da ventania. Nesse momento uma pesada telha se desprendeu do teto, partindo-se antes de atingir o chão, tendo um dos pedaços atingido Rosana na cabeça, derrubando-a. Sentiu a cabeça rodar e uma forte dor, permanecendo imóvel no solo por alguns minutos. Após esse tempo ela conseguiu se levantar e notou que nada sentia, a dor desaparecera instantaneamente, caminhando em direção ao quintal da casa, atravessando a grade sem sequer abri-la. Quase nem percebeu esse detalhe dado o estado de quase inconsciência em que se encontrava. Nem a chuva a molhava, o vento não a tocava, a dor desaparecera como por encanto. Passou a mão na cabeça para ver se havia algum ferimento e nada encontrou. Olhou para trás, em direção a cozinha e viu um corpo caído, todo ensanguentado. Era um corpo de mulher que se vestia exatamente igual a ela, o que a apavorou. Mas estava tão confusa mentalmente que não se preocupou muito, achando que não poderia ser ela própria, era impossível, pois estava ali, estava se sentindo bem, apesar da tontura e da perturbação em sua mente.

     Uma cortina de esquecimento envolveu Rosana e agora ela se via em um lugar desconhecido, caminhando lentamente, para onde não sabia. Ao seu lado uma mulher que ela não reconheceu, que a induzia a segui-la, que a levava para algum canto e que não tinha coragem de perguntar. Olhou fixamente para a mulher, tentou identificá-la, saber se a conhecia. Ficou imaginando se estava sonhando, tentando se beliscar, tentando por a mente para funcionar. Fez tanto esforço que acabou se lembrando. Sim, era ela mesma, era a mulher do sonho, daquele sonho estranho que seu marido achava que não era nada demais. Sentiu pavor e começou a estremecer, a sentir arrepios, principalmente quando viu aquelas figuras fantasmagóricas que a assustaram em seu sonho. A mulher ao seu lado lhe sorriu e agradeceu por ter aceito o seu convite, faz parte do seu mundo agora, esse mundo onde um dia todo ser humano irá fazer parte. Rosana começava então a aceitar aquela situação, tinha a plena certeza de que não mais pertencia ao mundo dos vivos e que teria que se acostumar com essa nova realidade que lhe fora antecipada em um sonho.

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