Denis despertou em um local estranho, fétido e silencioso, se vendo
sentado e todo sujo, onde nunca imaginaria poder estar. Estranhou aquela
situação, logo ele, um homem fino e requintado, de bom gosto, apreciador de
lugares exóticos, de boa comida, que tinha diversos empregados à sua disposição
e ali naquela imundície. Que estaria acontecendo para ele estar ali? Não
conseguia entender ou talvez recordar o que teria ocorrido para se ver naquele
local imundo, com aquela massa nojenta li perto que mais parecia fezes humanas.
Uma espécie de riacho corria próximo a ele, mas a água era escura e cheirava
mal, nem dava para aliviar a sede enorme que sentia. Imaginou que estava
sonhando, um sonho macabro que o atormentava, tentando acordar a todo custo,
mas nada acontecia, aquilo era real, ele estava vivendo aquele momento cruel
que tanto o transtornava. Denis não teve outra alternativa senão esperar e além
disso ter que aguentar aquele fedor insuportável, pois não tinha sequer forças
para erguer-se e deixar aquele lugar. Não sabia distinguir se era dia ou se era
noite, a luminosidade ali era pouca, via alguns arbustos e ao longe montanhas e
caminhos entre árvores, algumas rasteiras e outras bastante altas.
Depois de horas a meditar, a querer saber o porquê daquilo tudo, Denis
conseguiu reunir forças e levantar-se. Caminhou um pouco sem rumo certo e pela
primeira vez chorou. A partir desse momento sua mente foi clareando, já
conseguia lembrar alguma coisa da sua vida, até então envolta em uma cortina de
esquecimento. Era um homem de atitudes severas, gostava de dar ordens aos
empregados da enorme fazenda que possuía, onde os mantinha em cárcere privado.
Lembrou-se dos vários que ele mesmo eliminou quando desobedeciam suas ordens e
de outro tanto que mandara os capangas matar. Realmente ele foi muito cruel com
seres humanos, com pessoas afastadas de suas famílias e agora sentia uma
pontinha de remorso e não tinha coragem de pedir perdão pelos seus atos, achava
que não era merecedor. Tarde demais para Denis, muito tarde para voltar atrás,
principalmente por se encontrar naquele lugar impuro, deserto, com as
características de um verdadeiro inferno, só faltando o fogo. Já imaginava o
que teria acontecido com ele e a certeza veio logo, quase que imediatamente. O
seu cérebro já funcionava normalmente, já lembrava de tudo. Havia amarrado um
empregado seu, melhor dizendo um escravo. Estava a caminho de matá-lo
pessoalmente e de forma cruel. O mesmo estava amarrado e não oferecia risco
algum para Denis, que o arrastou com uma corda montado em seu elegante cavalo.
Iria jogá-lo de um despenhadeiro, queria ver seu corpo caindo de uma enorme
altura e ria debochadamente. O pobre homem bastante machucado já estava pronto
para ser lançado no vazio mas o atrito do chão nas cordas fez com que as mesmas
arrebentassem quase totalmente e o deixaram praticamente livre. No momento em
que Denis, sozinho, descia do cavalo, seu empregado levantou-se e o empurrou em seu lugar. De nada adiantou o
grito do patrão perverso, pois seu corpo se projetou no espaço vazio do
despenhadeiro e a morte foi certa. Montado no cavalo do ex-patrão o pobre
coitado fugiu para bem longe em busca de sua família.
Nenhum comentário:
Postar um comentário