O carro parou em
frente da casa em estilo colonial e dele desceram cinco pessoas. Um senhor de certa
idade apresentava um semblante triste como se aquele lugar não lhe agradasse,
diferente das demais pessoas que sorriam ao adentrarem o imóvel. Parado ali,
enquanto todos se divertiam com aquela chegada, o homem deixou cair algumas
lágrimas numa clara demonstração de que ali não gostaria de estar. Chamava-se
Rubens e essa casa era dele e as pessoas que chegaram com ele eram seus
familiares. Alguns minutos se passaram e Rubens continuava ali próximo ao
carro, absorto em seus pensamentos, talvez querendo desistir de entrar na casa,
arranjando uma desculpa qualquer para voltar, mas foi chamado por Rute, sua
filha mais nova:
- Pai, venha! Entre.
Um mundo de preocupações pareceu cair sobre sua cabeça
deixando-o sem saber o que fazer, porém atendeu ao apelo da filha e entrou.
Sentiu seus nervos se agitarem e uma dor a martelar sua cabeça. Raquel, a filha
mais velha, perguntou:
- Tá se sentindo bem, pai?
Rubens acenou a cabeça afirmativamente e procurou esquecer
o que lhe afligia. Segurou a bengala com firmeza e percorreu os cômodos da
casa, tentando não demonstrar nada que perturbasse as filhas e os dois netos
que o acompanhavam. Estavam felizes, lamentavam somente a ausência de d.
Aurora, a esposa de Rubens, que segundo ele desaparecera misteriosamente sem
deixar vestígios, deixando todos sem uma explicação lógica, sem um motivo que
justificasse esse sumiço.
Para entendermos
melhor esta história, vamos voltar no tempo, há exatamente vinte anos, quando
as filhas eram ainda crianças e moravam nessa casa. Rubens e Aurora brigavam
frequentemente por causa de suas aventuras amorosas e na última briga Aurora
levou a pior. Rubens teve o desplante de levar uma amante para o próprio lar
aproveitando a ausência da esposa, que chegou repentinamente e o flagrou em
colóquio amoroso na cama do casal. Isso foi demais para Aurora, que se
enfureceu e partiu para cima de ambos com uma faca na mão. Rubens tentou evitar
o golpe e segurou-a com força, mas por infelicidade a faca cravou-se no peito
da esposa que caiu esvaindo-se em sangue. As meninas estavam na escola e ele
apavorou-se com a situação, sem condições de socorrê-la naquele momento, visto
que a casa ficava em área rural e não dispunha de transporte para levá-la a um
hospital de imediato. Mas seria impossível lhe devolver a vida, pois ali mesmo
Aurora expirou. Diante do fato Rubens decidiu sepultar a esposa ali mesmo, nos
fundos do imóvel, onde cavou um buraco e colocou o corpo com a ajuda da amante,
que após o fato sinistro sumiu da vida de Rubens.
O marido infiel
justificou depois para as filhas que a mãe havia desaparecido por conta das
divergências dele e escondeu a verdade durante vinte anos. Mudou-se para outra
residência do casal e deixou o imóvel rural ao abandono. As dívidas cresceram e
a casa foi tomada por falta de pagamento da hipoteca, obrigando-o a voltar para
a antiga casa na zona rural.
Rubens começou a
fraquejar e caiu, sendo amparado pelas filhas, que exigiam uma explicação para
tal acontecimento. Um pai que iniciou um choro convulsivo tinha que dar
explicação pelo que estava acontecendo e o remorso tomou conta dele, que contou
toda a verdade e pediu perdão. Raquel e Rute choraram muito quando foram
informadas pelo pai do desaparecimento da mãe e agora, vinte anos depois,
repetiram o mesmo gesto, tiveram um duplo sentimento de tristeza e de perda,
quando do “desaparecimento” e depois com a revelação do pai.
Voltaram a residir
ali, depois da retirada dos ossos de Aurora e um sepultamento digno. Mas Rubens
perdeu toda a vontade de viver e adoeceu gravemente, vindo a falecer dias
depois.
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