sábado, 5 de outubro de 2013

REVELAÇÃO E REMORSO

   O carro parou em frente da casa em estilo colonial e dele desceram cinco pessoas. Um senhor de certa idade apresentava um semblante triste como se aquele lugar não lhe agradasse, diferente das demais pessoas que sorriam ao adentrarem o imóvel. Parado ali, enquanto todos se divertiam com aquela chegada, o homem deixou cair algumas lágrimas numa clara demonstração de que ali não gostaria de estar. Chamava-se Rubens e essa casa era dele e as pessoas que chegaram com ele eram seus familiares. Alguns minutos se passaram e Rubens continuava ali próximo ao carro, absorto em seus pensamentos, talvez querendo desistir de entrar na casa, arranjando uma desculpa qualquer para voltar, mas foi chamado por Rute, sua filha mais nova:
- Pai, venha! Entre.
Um mundo de preocupações pareceu cair sobre sua cabeça deixando-o sem saber o que fazer, porém atendeu ao apelo da filha e entrou. Sentiu seus nervos se agitarem e uma dor a martelar sua cabeça. Raquel, a filha mais velha, perguntou:
- Tá se sentindo bem, pai?
Rubens acenou a cabeça afirmativamente e procurou esquecer o que lhe afligia. Segurou a bengala com firmeza e percorreu os cômodos da casa, tentando não demonstrar nada que perturbasse as filhas e os dois netos que o acompanhavam. Estavam felizes, lamentavam somente a ausência de d. Aurora, a esposa de Rubens, que segundo ele desaparecera misteriosamente sem deixar vestígios, deixando todos sem uma explicação lógica, sem um motivo que justificasse esse sumiço.
   Para entendermos melhor esta história, vamos voltar no tempo, há exatamente vinte anos, quando as filhas eram ainda crianças e moravam nessa casa. Rubens e Aurora brigavam frequentemente por causa de suas aventuras amorosas e na última briga Aurora levou a pior. Rubens teve o desplante de levar uma amante para o próprio lar aproveitando a ausência da esposa, que chegou repentinamente e o flagrou em colóquio amoroso na cama do casal. Isso foi demais para Aurora, que se enfureceu e partiu para cima de ambos com uma faca na mão. Rubens tentou evitar o golpe e segurou-a com força, mas por infelicidade a faca cravou-se no peito da esposa que caiu esvaindo-se em sangue. As meninas estavam na escola e ele apavorou-se com a situação, sem condições de socorrê-la naquele momento, visto que a casa ficava em área rural e não dispunha de transporte para levá-la a um hospital de imediato. Mas seria impossível lhe devolver a vida, pois ali mesmo Aurora expirou. Diante do fato Rubens decidiu sepultar a esposa ali mesmo, nos fundos do imóvel, onde cavou um buraco e colocou o corpo com a ajuda da amante, que após o fato sinistro sumiu da vida de Rubens.
   O marido infiel justificou depois para as filhas que a mãe havia desaparecido por conta das divergências dele e escondeu a verdade durante vinte anos. Mudou-se para outra residência do casal e deixou o imóvel rural ao abandono. As dívidas cresceram e a casa foi tomada por falta de pagamento da hipoteca, obrigando-o a voltar para a antiga casa na zona rural.
   Rubens começou a fraquejar e caiu, sendo amparado pelas filhas, que exigiam uma explicação para tal acontecimento. Um pai que iniciou um choro convulsivo tinha que dar explicação pelo que estava acontecendo e o remorso tomou conta dele, que contou toda a verdade e pediu perdão. Raquel e Rute choraram muito quando foram informadas pelo pai do desaparecimento da mãe e agora, vinte anos depois, repetiram o mesmo gesto, tiveram um duplo sentimento de tristeza e de perda, quando do “desaparecimento” e depois com a revelação do pai.

   Voltaram a residir ali, depois da retirada dos ossos de Aurora e um sepultamento digno. Mas Rubens perdeu toda a vontade de viver e adoeceu gravemente, vindo a falecer dias depois. 

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