a velha locomotiva adentrou o pátio
o local era espaçoso e servia de
oficinas
existiam ali alguns prédios em
ruínas
e também máquinas antigas paradas
seu Pacífico era um maquinista
antigo
se orgulhava da Rede Ferroviária do
Nordeste
matuto das brenhas, se achava cabra
da peste
era a última viagem de um dia
cansativo
puxou o cordão e a máquina apitou
era como se fosse o último suspiro
da “Maria Fumaça” que tanto admiro
ali ficaria para ter o seu fim
o velho ferroviário também parava
já era certa a sua aposentadoria
guardaria pra si toda sua sabedoria
afinal foi quase meio século na Rede
conhecia todo o sistema e estações
manteve um padrão de vida honesto
trabalhou com dedicação, foi modesto
e quase beirando os setenta iria
descansar
antes de sair olhou a máquina
comovido
não queria desprezá-la mas era o
jeito
já vinha com problemas, tinha algum
defeito
e era preciso ser trocada por outra
lembrou dos momentos viajando com
ela
com “Maria Fumaça” distâncias
percorrendo
lágrimas nos olhos do velho
escorrendo
são lembranças que jamais se
apagarão
deixou o local e se despediu dos
colegas
grande mudança agora em sua vida
um ferroviário parado, uma máquina
esquecida
ele para o descanso, ela para a
ferrugem