segunda-feira, 24 de março de 2014

SOMBRAS DO PASSADO

   Raul estava inquieto naquela noite de sexta-feira, parecia estar adivinhando que algo de mal poderia acontecer. A noite esfriara bastante e o casebre onde morava não lhe dava a mínima condição de sobrevivência digna, mas ele permanecia ali, solitário, pensando em como escapar de uma situação que criara há alguns anos, quando ceifou covardemente a vida de uma pessoa honesta simplesmente pelo prazer de matar, subtraindo-lhe os pertences em seguida. Abandonara a esposa a quem maltratava durante suas bebedeiras, vivendo de bicos, o que não lhe rendia um bom dinheiro, passando então para a vida bandida.
   Acomodou-se nesse casebre levando uma vida de fugitivo, sendo procurado pela esposa para reconciliação, o que durou pouco tempo, pois durante uma briga de casal Raul a atingiu com uma facada no peito, desferindo em seguida outras pelo corpo já ensanguentado. Removeu o cadáver para um matagal onde o enterrou secretamente. Os anos se passaram e ele se manteve tranquilo até perceber que algumas sombras o acompanhavam no casebre.
   Sem forças para reagir, pouco saindo e com dificuldades para se alimentar, acabou preso a uma cama e sendo perseguido por sombras que o atormentavam dia e noite. Chegava a ouvir vozes cobrando justiça pelos seus atos do passado, pedia clemência mas não era atendo. As sombras surgiam nas paredes, pelo corredor e davam gargalhadas como se debochassem dele, até que não mais resistiu devido a enfermidade. Seu corpo ali permaneceu por vários dias e já em estado de decomposição foi descoberto por caçadores.

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