FELICIDADE

   

Vamos fazer de conta que está tudo bem, vamos viver a vida (afinal só temos essa), vamos cumprimentar as pessoas (sejam elas falsas ou não). Um sorriso, sim, um sorriso é importante, ele mostra que seu coração está alegre, mesmo que ninguém perceba a sua tristeza (quem não sente tristeza?). Em casa, onde tudo começa, disfarce a irritação, sorria, faça o que for possível para que todos percebam que vai tudo bem (difícil um lar só de alegrias). No trabalho faça o melhor, aceite sugestões, mesmo que não lhe agrade. Termine o dia na paz, sinta-se alegre e volte para casa com ar de felicidade (apesar dela não ser para todos).

FATALIDADE

Foi-se uma vida, ficou a saudade

Aconteceu inesperadamente

Todos estão imensamente

Acometidos de uma dor justificável

Lei da vida, dela não podemos fugir

Impressiona muito quem não sabe agir

Dando valor a esse bem impagável

Adentrando caminhos de vícios

Deixando a honra de lado

Exercendo o mal descontrolado

PARAÍSO COLORIDO

o verde das folhas me alegrava

os raios amarelos do sol nelas pousavam

o dia claro e o tempo me conquistavam

eu apreciava o azul lindo do céu

e as brancas nuvens quase paradas

outras nuvens cinzas se via no horizonte

logo nuvens negras se via além monte

meus olhos castanhos acharam que ia chover

mas um arco-íris no céu então surgiu

e a mente do meu corpo moreno deduziu

que o dia escuro não ia ficar

era um verdadeiro paraíso colorido

esse mundo de cores que eu apreciava

ficaria vermelho de raiva e até desafiava

quem mudasse meu mundo cor de rosa

CHÔRO SEM MOTIVO

chorei copiosamente sem motivo algum

nada justificava esse meu comportamento

nada que mexesse com meu sentimento

foi uma coisa que veio de repente

e assim me pegou desprevenido

fiquei assustado, talvez até deprimido

como se alguém se apossasse de mim

um espírito, alguém desencarnado

com problemas e também entediado

chorei sem motivo aparente, eu sei

não sei o que então justificar

coisas estranhas? nem quero acreditar

arte do demônio, tudo pode acontecer

estava desprevenido, isso acontece

eu também não esperava, ninguém merece

não quero ninguém se apossando de mim

um morto querendo dominar minha vida

tenho que sair dessa situação sofrida

O QUARTO ESCURO

   Às vezes me vem a lembrança dos meus tempos de menino, das peraltices, das brincadeiras sadias com os amigos, das escolas onde estudei e que me fazem rir e até sonhar com esses momentos tão inesquecíveis. São muitas informações armazenadas em meu cérebro, mas uma delas me faz refletir e até me perguntar onde foi que eu errei. Sempre fui um aluno exemplar, sempre gostei de estudar e até servi de espelho para alguns colegas de classe de cuja escola passo a dizer um fato que ocorreu comigo. Eu não sei exatamente o que teria feito para ser castigado da forma que vou relatar. Existia nessa escola particular um quarto ou dependência onde se guardavam alguns objetos e só tinha uma porta de entrada. O aluno que fazia algum mal feito ou dava a lição errada era colocado de castigo nesse quarto, que era escuro, por alguns minutos pela professora. Alguns tinham medo, choravam, mas eu nesse dia me comportei heroicamente, sem receio algum, pois já era bem grandinho.

   O famoso quarto escuro era temido por todos, ninguém desejava passar por esse castigo, mas se não desse a lição direito ou cometesse algum tipo de deslize, não tinha escapatória, ia direto para o quarto escuro. Ainda hoje tento me lembrar do que eu teria feito, porém o tempo é muito longo e nada pode reavivar a minha memória.

SEDENTOS DE ORGASMO

lá fora a noite está maravilhosa

tem a lua com seus raios prateados

e um clima perfeito para enamorados

mas aqui dentro é mais excitante

no nosso quarto, nosso ninho de amor

onde o sexo rola solto sem nenhum pudor

é o desejo aflorando, o coito interminável

prazer de dois corpos que não tem fim

ouvindo os suspiros dela somente pra mim

gostosa, perfeita, sensual, um tesão

seios volumosos que minha boca procuram

mãos que percorrem meu corpo e me aturam

deslizando por todos os lugares possíveis

lábios que se encontram sem dizer nada

entranhas querendo gozo, abertura escancarada

esperando o vai e vem do que ela gosta

as horas se passam, não temos noção de tempo

não quero saber da noite lá fora

em nosso quarto somos eternos enamorados

perdidos num clima de apaixonados

reféns do orgasmo, um atrás do outro

até os corpos se cansarem e enfim

esperarmos outros momentos sempre assim

sedentos e desejosos do prazer carnal

V I D A S

flores viçosas no jardim

a vida vegetal em abundância

beleza natural de grande importância

no quarto um ser em letargia

abandono total, um olhar distante

criatura humana em plena agonia

o sol ilumina com fracos raios

pássaros gorjeiam em sinfonia

anunciando eles o início do dia

o homem doente dorme tranquilamente

parece saudável, a dor também dorme

acostumou-se a sofrer diariamente

a vida das flores é linda

tem o sol como companheiro

a lhe abraçar o dia inteiro

no quarto um moribundo sozinho

amargando a sua triste vida

apenas com a dor ali bem pertinho

VIAGEM AO FUNDO DO MAR

sorrisos na despedida

aeroporto em festa familiar

amigos se abraçam, alegria no ar

partida para negócios, passeios

o retorno era certo, previsto

ninguém haveria de se preocupar

e o avião enfim decolou

alguns pensamentos, alguém chorou

como se duvidasse dessa viagem

olhando o céu azul com tristeza

retorno aos lares, volta a rotina

enquanto a aeronave cruzava

o imenso mar e ninguém imaginava

que não mais haveria a volta

foi quando o grande cilindro metálico

em direção a água embicou

com certeza todo mundo se assustou

ao sentir o choque no oceano

choros na despedida

pedaços da fuselagem afundando

em pouco tempo gente chorando

depois o silêncio sepulcral submerso

a grande tristeza de uma viagem

que deixou órfãos no continente

e agora no fundo do mar ninguém sente

o prazer de rever seus familiares
(Homenagem aos passageiros do Boeing 777 da Malaysia Airlines que sumiu no dia 8/3/14 e que possivelmente pode ter caído no mar, com 239 pessoas a bordo).

ARCO – ÍRIS

A chuva fina cai, o céu se enfeita

R egistra uma beleza bem natural

C ores que deslumbram bem real

O lhos que apreciam o arco-íris

I negável espetáculo da natureza

R esultado do confronto sol e chuva

I nesperadamente mostrando sua beleza

S audando a todos com muita harmonia

SINCERIDADE

Sei que devo ser honesto

Ignorar o mal que me fazem e

Nunca retaliar por isso

Conseguirei ultrapassar barreiras

Erguendo as mãos para o céu

Realizar sempre o bem para todos

Independente de religião ou raça

Divulgando sempre os desejos divinos

Adiantando que cada um é dono de si

Detalhe importante: isso é sinceridade

E cada um deve fazer o melhor

SOMBRAS DO PASSADO

   Raul estava inquieto naquela noite de sexta-feira, parecia estar adivinhando que algo de mal poderia acontecer. A noite esfriara bastante e o casebre onde morava não lhe dava a mínima condição de sobrevivência digna, mas ele permanecia ali, solitário, pensando em como escapar de uma situação que criara há alguns anos, quando ceifou covardemente a vida de uma pessoa honesta simplesmente pelo prazer de matar, subtraindo-lhe os pertences em seguida. Abandonara a esposa a quem maltratava durante suas bebedeiras, vivendo de bicos, o que não lhe rendia um bom dinheiro, passando então para a vida bandida.

   Acomodou-se nesse casebre levando uma vida de fugitivo, sendo procurado pela esposa para reconciliação, o que durou pouco tempo, pois durante uma briga de casal Raul a atingiu com uma facada no peito, desferindo em seguida outras pelo corpo já ensanguentado. Removeu o cadáver para um matagal onde o enterrou secretamente. Os anos se passaram e ele se manteve tranquilo até perceber que algumas sombras o acompanhavam no casebre.

   Sem forças para reagir, pouco saindo e com dificuldades para se alimentar, acabou preso a uma cama e sendo perseguido por sombras que o atormentavam dia e noite. Chegava a ouvir vozes cobrando justiça pelos seus atos do passado, pedia clemência mas não era atendo. As sombras surgiam nas paredes, pelo corredor e davam gargalhadas como se debochassem dele, até que não mais resistiu devido a enfermidade. Seu corpo ali permaneceu por vários dias e já em estado de decomposição foi descoberto por caçadores.

TRISTE PARTIDA

o trem partiu

partiu também meu coração

ficou apenas a emoção

de ver alguém indo embora

partiu o trem

deixando lágrimas de sofrimento

vai ficar a lembrança desse momento

a me torturar por muito tempo

o trem se foi

mas espero que um dia ele volte

e da minha garganta um grito se solte

anunciando uma grande alegria

a imagem do trem

com essa triste partida

será sempre uma ferida

que vai doer no meu coração

PORQUE HOJE É DOMINGO

o dia amanheceu, o sol brilha

faço questão de estar sorrindo

nesse dia que é muito lindo

porque hoje é domingo

posso dormir até mais tarde

o café da manhã é bem especial

é um dia feliz e fora do normal

porque hoje é domingo

passeio no parque com as crianças

futebol, praia, muito divertimento

eu só quero aproveitar esse momento

porque hoje é domingo

chega a noite, a lua clareia

um bom restaurante, boa comida

já chega a hora da despedida

porque hoje é domingo

BOSQUE DE LEMBRANÇAS

o vento sopra entre as árvores do bosque

num sussurro que me leva bem distante

para mim é o único som ali reinante

a me proporcionar um clima agradável

lembranças felizes afloram e me alegram

me transportando para um passado

onde meu pensamento havia determinado

que nada mudaria a minha vida

mas o tempo passou, as coisas mudaram

e agora nesse lugar que marcou tudo

fico a relembrar como tudo se passou

nesse bosque foi quando tudo começou

onde o amor surgiu, onde pude compreender

que a vida não é somente de flores

acabou a paixão, vieram os dissabores

mas tudo se encaixou como eu queria

o vento que sopra é o mesmo de antes

as árvores e o silêncio são importantes

para meu deleite necessário nesse bosque

ACAMPAMENTO FANTASMA

A noite fria de uma sexta-feira

Combinada com uma chuva fina

Alimentava a mente sádica de alguém

Manipulando movimentos bem estranhos

Prendeu-se a se satisfazer como ninguém

Articulando ruídos em um acampamento

Moças e rapazes em tumultuado momento

Entraram em pânico gritando assustados

Numa excursão promovida na cidade

Todos passariam essa noite nesse local

Objetivando uma noite diferente

Fantasiou-se então um clima de terror

A noite seria de fantasmas e duendes

Ninguém descobriria que tudo foi programado

Tudo armação com o grupo ali acampado

As folhagens se mexiam, ouviam-se uivos

Sombras que se movimentavam rápidas

Mas tudo no final foi descoberto

Ao acenderem-se luzes num papo aberto

NOITE DE TERROR

Névoa densa, penumbra assustadora

O ar noturno e frio de ranger dentes

Incontrolável sensação de medo em mim

Torturando minha mente em noite sem fim

Evolvendo-me de forma avassaladora

Dia, cadê você que não chega logo

E espanta essa noite medonha?

Tempo, passe logo, por favor

Essa noite me assusta, me domina

Rasga meu peito uma dor incompreensível

Respiro por milagre, como é possível

O meu corpo resistir tanto assim?

Resta somente vencer esse meu medo

S U I C Í D I O

   Aquele mar de águas esverdeadas, imenso e colossal, seria a última visão para um homem triste, muito abatido, que queria fugir da realidade, esquecendo de vez um sonho desfeito. Um amor não correspondido era a razão da sua determinação em não mais permanecer com vida, pois não tinha mais sentido continuar com uma agonia que feria a sua alma. Pensou várias vezes, refletiu e viu que não havia outra opção para continuar com vida, seria um tormento que mais cedo ou mais tarde haveria de ser findado. Várias formas foram imaginadas, umas suaves, outras violentas, contanto que fossem rápidas, que não deixassem a mínima chance de voltar atrás.

   O tempo vivido foi o suficiente para aproveitar o máximo de permanência na Terra, quando teve boas oportunidades de relacionamento, amando, sorrindo e se sentindo feliz. Mas seus planos foram por água abaixo quando em certo momento o amor acabou, não o seu amor e sim o da pessoa com quem convivia. Amava desesperadamente e viu o destino traí-lo e sem forças para continuar resolveu dar cabo de si próprio.

   Colocou os pés na água da praia onde tantas vezes se banhou, algumas sozinho e a maioria na companhia da pessoa amada. Era aquele então o local ideal para selar a separação, o local inclusive onde tudo começara. Adentrou o mar vertendo lágrimas de sofrimento, sorriu pela última vez saudando aquele amor que terminara tão tristemente. A água já chegava ao seu pescoço mas firmemente continuava adentrando aquela que seria a sua última morada. Sufocaria a mágoa que carregava ciente de que praticava um ato covarde, mas era a sua decisão. Coberto pela água sentiu uma nova agonia, um novo desespero, mas que seria pela última vez. O corpo boiou depois no mar esverdeado.

B E B I D A

Bêbado, uma criatura que precisa

Especialmente da providência divina.

Bebida, um mal que se alastra

Incontrolavelmente entre as pessoas

Destruindo lares, acabando vidas,

Alimentando vícios e levando desespero.

FESTA NO CEMITÉRIO

meia noite foi a hora marcada

para uma orgia macabra no cemitério

composta por mortos, um grande mistério

que deixaria os vivos de bocas abertas

as tumbas se abriram, uma fumaça estranha

invadiu o campo santo em meio a risos

a música começou e em movimentos precisos

espectros de gente iniciavam uma dança

roupas esfarrapadas, corpos dilacerados

um clima de fedor insuportável

triste fantasia a nada comparável

se algum ser vivente a isso assistisse

em brindes a festa rolou solta

abraços cadavéricos, vida a reviver

gritos e urros até o dia amanhecer

quando então se recolheram a suas tumbas

LUAU DE CADÁVERES

o mar se mostrava com águas calmas

e nele o clarão da lua cheia

momento em que o silêncio se retirava

quando um corpo maltrapilho chegava

e na praia se instalava olhando o mar

em seguida outros se aproximavam

e em balbúrdia iniciavam a festa

a música fúnebre agora infesta

com a dança de corpos apodrecidos

um horror aos olhos de qualquer vivo

que ali estivesse para presenciar a cena

de cadáveres a praia estava plena

se divertiam como se vivos estivessem

sendo contemplados com a luz da lua

fogueiras foram acesas, fumaceiro no ar

fétidos corpos se abraçando ao luar

transformando a praia em cemitério

com uivos assustadores nessa noite

digna de uma reunião de mortos

defuntos esguios, alguns bem tortos

em plena satisfação e algazarra

bebendo e comendo restos de animais

assados em fogueiras, sob a luz prateada

L O U C U R A

que loucura é essa, minha preta

de me deixar sozinho neste mundo?

eu posso entrar em coma profundo

pois não consigo viver sem você

não seja louca de me largar assim

eu preciso muito desses lindos olhos seus

seu corpo, seus cabelos, seu sorriso, são meus

eles me fazem ter ânimo para a vida

juro, minha nega, que você é tudo

digo até que é a luz do meu olhar

a sua presença é tudo que posso esperar

não faça essa loucura, minha dondoca

de deixar um pobre homem na solidão

sou capaz de correr por aí peladão

se um dia eu ficar sem você