Soraya sorria feliz no jardim de sua casa enquanto aguardava a chegada
de Fábio, seu noivo. Acariciava algumas flores e não escondia a imensa
felicidade com a aproximação do seu casamento, marcado para o mês seguinte.
Namoraram durante quase dois anos, estando noivos há apenas três meses. O
sorriso de Soraya tornou-se mais largo quando ele chegou, beijando-a com
carinho e levando-a para o interior da sua residência onde conversaram
animadamente. Esse sempre foi o sonho dela, poder amar alguém que tanto
desejava e ser correspondida, aproveitar o máximo possível a vida antes do
casamento, viajar e conhecer cidades distantes, além dos prazeres que o amor
oferece. Nesses quase dois anos de convivência Soraya teve tudo que desejou,
soube aproveitar tudo que Fábio lhe ofereceu e até planejaram a compra de um
apartamento na orla marítima, já que ele dispunha de uma ótima situação
financeira. Ela estava radiante com esse acontecimento, estava feliz, ela que
era uma menina pobre a agora desfrutava de uma vida de rainha, amada por um
homem maravilhoso e que fazia todos os seus gostos. Nada melhor poderia
acontecer mais em sua vida, pois já tinha tudo que uma mulher poderia ter ao
lado do homem da sua vida, dos seus sonhos.
Alguns dias antes do enlace matrimonial Soraya teve um sonho que a
deixou de certa forma preocupada. Ela se casava mas não conseguia ver o marido
na lua de mel, pois se via em um local totalmente desconhecido, gritando pelo
nome dele sem ser atendida, acordando assustada. “Foi apenas um sonho”, pensou
ela, procurando esquecer e nem comentar com ele ou com qualquer outra pessoa.
Enfim chegou o grande dia de Soraya, tudo foi programado para uma grande
festa de casamento, com a igreja toda decorada e cheia de convidados. O salão
de festas alugado para o evento também foi caprichosamente preparado, ficando a
poucos metros da igreja. A noiva se preparou ricamente, estava linda aos olhos
de todos e na hora marcada entrou com seu pai, indo ao encontro do seu futuro
marido que a esperava no altar. Soraya quase não conseguia conter tamanha
emoção, rindo para os convidados e aguardando o desenrolar dos acontecimentos
dali pra frente. Seguramente seria uma ótima esposa e perfeita dona de casa,
sem precisar de muitos esforços já que iria dispor de empregadas.
Após o ato religioso a festa transcorreu na maior tranquilidade, tendo
Soraya sido gentil com todos e na hora determinada “fugiu” para a sua lua de
mel sem que ninguém percebesse. Seria em um hotel de luxo nas proximidades,
onde passariam a noite e viajariam na manhã seguinte para o sul do país. A
suíte do casal ficava no sétimo andar e o ambiente com luz fraca deixava o
clima romântico, onde os noivos brindaram a nova vida com taças de champagne e
beijos ardorosos. A felicidade de Soraya estava completa não fosse um vulto que
se escondeu atrás da cortina próxima ao leito conjugal. Fábio dirigiu-se ao
banheiro enquanto Soraya permanecia sentada na cama, ainda deslumbrada com tudo
aquilo que nunca imaginava acontecer. Riu sozinha sem perceber que de trás da
cortina saiu a figura de uma mulher que tampou seu nariz com um lenço embebido
com um líquido que a fez perder os sentidos. Uma faca foi cravada em seu peito
por várias vezes até a certeza da morte. Em seguida a mulher desconhecida fugiu
rapidamente, fechando a porta da suíte bem calmamente, tomando o elevador,
saindo do hotel como se fosse uma hóspede comum.
Para entendermos melhor essa história vamos voltar no tempo, há cerca de
dois anos aproximadamente. Soraya e Maria José eram duas amigas que costumavam
sair juntas e estudavam no mesmo colégio. Ambas imaginavam um dia terem que se
separar, quando casassem e fosse cada uma para seu lado. Até já brigaram anos
atrás por causa de namorado, mas foi uma briguinha à toa e logo a amizade
voltou ao normal entre elas. Certa noite estavam participando de um baile à
fantasia quando Maria José conheceu um rapaz que a cortejou, apesar de não ter
visto o seu rosto. Soraya estava vestida exatamente igual a amiga e viu quando
ela preparou um bilhete para ser entregue ao rapaz. Como no momento não podia
ir até ele, pediu a um garoto que estava ali presente para levar até ele.
Soraya dispensou a amiga por um momento dizendo que ia ligar para a mãe e
abordou o garoto antes que conseguisse o seu intento. Alterou o nome e o local
do encontro no bilhete e devolveu para que fosse entregue. O encontro era na
noite seguinte e ao voltar para o convívio com a amiga Maria José, apenas disse
que não tinha conseguido falar com sua mãe.
Na noite seguinte lá estava Soraya tomado o lugar da amiga e abraçando o
rapaz, que se chamava Fábio, que não percebeu a troca e achou que estava
conversando com a pretendente da noite anterior. Procurou evitar que ele
voltasse àquele local e até se mudou do bairro, já que morava em uma república
de estudantes junto com a amiga Maria José e não queria que ela estragasse os seus
planos. Foi aí que Soraya e Fábio começaram a namorar, longe das vistas da amiga,
que estranhou um pouco a sua repentina partida e a saída do colégio quando
Soraya percebeu que Fábio seria um bom partido.
Maria José estranhou a ausência do rapaz e até duvidou se ele tinha
mesmo recebido o bilhete. Dias depois procurou o garoto e questionou sobre a
entrega do mesmo, quando foi informada do que a amiga fez, alterando o teor do
bilhete. Uma fagulha de ódio passou pela mente de Maria José, que passou a
procurar a amiga traidora, mas sem sucesso. Passaram-se alguns meses e nada de
localizar Soraya, o que estava deixando-a nervosa, muito inquieta e sem
conseguir dormir direito.
Um belo dia quando folheava um jornal, Maria José viu um anúncio de
casamento e os nomes dos noivos lhe eram bastante conhecidos. Localizou ambos
discretamente e ficou a par dos fatos, como a igreja, o dia e o local da lua de
mel, arquitetando um plano maquiavélico levada pelo desespero, pela traição da
amiga. No dia programado para a lua de mel no hotel, Maria José para lá se
dirigiu fingindo interesse em se hospedar. Conversou com uma camareira,
subornando-a e conseguiu a cópia da chave da suíte onde os noivos iriam ficar.
Uma hora antes deles chegarem ela já estava dentro do quarto aguardando os
pombinhos.
O resto da história já é conhecido, apenas informando sobre o desespero
de Fábio ao ver o corpo da esposa todo ensanguentado no leito nupcial.
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