Pobre menina,
deitada na areia da praia de Boa Viagem, parecia estar falando sozinha, pois eu
via seus lábios se mexerem. Podia estar cantando baixinho uma música, podia
estar rezando ou simplesmente falando com Deus. O sol dessa tarde de
quinta-feira era fraco, não lhe incomodava e nem a mim, ali próximo sentado na
areia, olhando o mar azul, às vezes esverdeado, apreciando as ondas se
quebrarem na areia, fazendo espumas. O que essa menina fazia ali, solitária,
talvez resmungando alguma coisa? Imaginei chegar perto dela e perguntar o
porquê, se tinha algum problema, mas eu não tinha esse direito de importunar o
seu descanso, assim como ninguém tinha o direito de importunar o meu.
Olhei para o lado
oposto e percebi que uma senhora de certa idade me observava. Será que ela leu
meus pensamentos? Pensei assim, mas não era possível, ela não dispunha dessa
capacidade, mesmo me olhando seriamente. Atrás de mim a avenida que dava acesso
à cidade, carros circulando, alguns em alta velocidade. De repente uma buzinada
estridente e uma freada brusca, era um carro que parava atrás de um táxi que
iria atender ao aceno de um passageiro. O motorista do mesmo não agira certo em
busca do seu ganha pão, se arriscara, mas a vida tem dessas coisas. A senhora idosa não estava mais ali do meu lado,
saiu sem que eu percebesse e a pobre menina também sumira. Cada uma tomou seu
rumo e eu fiquei só na areia da praia. Confesso que queria a presença delas, eu
estava me distraindo, passando o tempo, enquanto observava uma e era observado
por outra.
Aquela
tranquilidade poderia fazer bem para qualquer pessoa mas naquele momento não
fazia para mim, então resolvi ir embora dando tchau para Boa Viagem e procurar
o meu refúgio no subúrbio, afinal a tarde já estava indo embora.
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