O corredor de
um hospital de alienados estava repleto de pessoas que se misturavam entre
visitantes e pacientes. Era um dia comum de visitas, o vai e vem de pessoas que
entravam e saíam dos quartos era visto com naturalidade, alguns rostos
demonstravam uma certa alegria, outros tristeza e lágrimas. Em meio a esse
aglomerado de gente uma figura estranha, quase uma sombra, caminhava
tranquilamente pelo corredor, porém não era vista pelos demais, o que a
importunava, apesar de tentar se fazer presente ali, de querer conversar
puxando algum assunto. Não, ninguém percebia a sua presença, mesmo ensaiando
gritos, mesmo tentando empurrar as pessoas para que a vissem. Era apenas uma
sombra incomunicável, mesmo se tocando e se achando igual a todos que ali
estavam.
Num dos
quartos daquele velho sobrado de quatro andares e recuperado recentemente um
doente dormia, mas seu sono era um tanto perturbado, o que dava para ser notado
pelos parentes que ali se encontravam e que tentavam inutilmente acordá-lo.
Seus olhos estavam cerrados mas vez ou outra emitia palavras não decifráveis,
como se perguntasse alguma coisa.
A figura do
corredor chegou até a porta de saída mas foi impedida de deixar o local por
outra figura bem mais forte, o que a deixou enfurecida. Tentou por todos os meios
sair, porém sem sucesso, voltando frustrada para o corredor onde podia dar
vazão aos seus ímpetos, mesmo sem ser notada. Nesse momento teve uma espécie de
desmaio e caiu por terra.
No quarto o
paciente que dormia inquieto abriu os olhos e fitou aqueles que o velavam.
Sentiu como se estivesse em transe, como se tivesse morrido e voltado a vida.
Sorriu para os parentes que se alegraram com o seu despertar, depois de várias
horas em coma. Os médicos até estranharam o seu comportamento, o seu sono
prolongado e as vezes agitado. Foi por pouco tempo, pois o sono voltou e ele se
agitou com mais intensidade.
Já no corredor
a figura estranha se levantou, caminhando sem rumo, entrando em quartos e
saindo em seguida, invadindo dependências dos médicos e enfermeiros, tentando a
todo custo ser vista. Ninguém lhe dava atenção e o pior é que não conseguia
pegar nenhum objeto, já que seu intuito era quebrá-lo se conseguisse jogá-lo no
chão. Voltou então para a outra porta de saída do hospital que ficava nos
fundos, tentaria uma nova fuga. Estava impaciente e desejoso de conhecer as
coisas lá fora, mas encontrou a mesma figura arrogante que barrou os seus
passos. Desta vez estava decidido a sair e como homem que achava que era
tentaria enfrentar o opositor e dominá-lo. Nada o impediria de sair,
questionaria o motivo de não poder sair, de ser livre, de ver o mundo lá fora.
Seu oponente nem quis ouvi-lo e o empurrou com força o suficiente para
derrubá-lo, fazendo com que fosse ao solo pesadamente.
No quarto o
paciente que dormia foi acometido de uma crise tendo tremores, até que caiu
pesadamente no chão. Seus familiares foram ao seu socorro e o colocaram
novamente na cama. O homem estava pálido e não apresentava nenhum sinal de vida,
sendo então preciso que alguém procurasse um médico.
A figura do
corredor começou a gritar bastante irada, levantando-se com uma certa
dificuldade, encarando a figura que o impedia de sair nutrindo um grande ódio.
Para sua surpresa seu oponente a autorizou a sair, o que o deixou abismado.
Ganhou a rua, percebendo então que não era aquilo que esperava ver. Viu um
tempo acinzentado, um deserto total com ruas quase no escuro, apesar de saber
que era dia. Olhou para trás com a intenção de voltar e viu apenas nuvens de
fumaça em vez do antigo prédio do manicômio.
No quarto os
médicos tentaram em vão reanimar o paciente, optando depois por cobri-lo com um
lençol branco e orientar os parentes para providenciarem o sepultamento.
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