Inconformada,
Bia amargava aquela solidão que tanto a maltratava, que a deixava infeliz.
Lágrimas de tristeza desciam por suas faces tornando-a mais decepcionada a cada
dia. Via o sol nascer através da janela do seu quarto, acompanhava o passar das
horas aparentemente com paciência num silêncio comum para ela, a tarde avançava
rapidamente aos olhos de Bia, que tinha o privilégio de ver o sol se por
através da outra janela do primeiro andar desse local onde nunca se afastava.
Estava sempre ali, naquele quarto bem cuidado pela serviçal que lhe trazia
diariamente e na hora certa a alimentação necessária para a sua sobrevivência.
Há anos que não se ausentava dali desde o acidente de automóvel que a vitimou
deixando-a paraplégica em plena juventude. A cadeira de rodas lhe deixava
abatida, ela que se acostumara com a vida lá fora, cheia de saúde e de amizades que agora lhe faltava. Um
só amigo sequer não a visitava, não lhe trazia uma palavra de conforto. Sumiram
como por enquanto, esqueceram que Bia existia, que era gente que tanto alegrou
a turma com a sua companhia. Restam apenas lembranças para essa jovem que
jamais viverá novamente para a vida lá fora. Aquele quarto era o único refúgio,
a única maneira de continuar vivendo, não como ela queria, mas por imposição do
destino que a escolheu para esse castigo e que nunca aceitou.
A
campainha da imensa casa tocou e a serviçal atendeu. Era o médico que atendia
ao chamado dos pais de Bia, visivelmente preocupado com a saúde de sua paciente
a quem visitava constantemente e administrava medicamentos, alguns dos quais
ela não tomava, jogando-os fora discretamente. A filha única do casal de idosos
ainda não atingira os trinta anos, mas a sua aparência era além disso. A porta
do quarto foi aberta e o médico entrou, encontrando Bia com o olhar vazio,
olhando para o nada. Tarde demais, o espírito dela não mais se encontrava ali
há horas, deixando somente um corpo quase esquelético, sem vida.
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