quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O QUE HÁ ALÉM DA JANELA AZUL?

vez ou outra
as lágrimas me vem aos olhos
porque não consigo segurar
isso me deixa triste a pensar
em querer saber
o que há além da janela azul
aqui bem perto de mim
me deixando sofrer assim
apenas ouvindo vozes
escutando o canto de pássaros
e o barulho de carros passando
aqui nesta cama acordado, sonhando
sem poder fazer movimentos
diante daquela janela
que mandei pintar na cor azul
e agora, muitos anos depois
quando o progresso chegou, pois
não consegui acompanhá-lo
devido a doença que se abateu
neste corpo cansado e sofrido
dependente da ajuda de alguém
pois sem isso não sou ninguém
sou apenas um velho
olhando através da janela azul
querendo saber o que se passa
abaixo daquele céu com nuvens
evitando que a tristeza não perdure
e que esse choro não mais me procure

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

COMO UMA BORBOLETA

bailando no ar
em movimentos sinuosos
desafiando a natureza
lá se vão meus pensamentos
como uma borboleta
procurando uma razão
que justifique essa fuga
me deixando sem pensar
vou me sentir solitário
uma flor sem as pétalas
ou um ponto de interrogação
serei como uma poesia
assim como esta
sem as rimas necessárias
como uma borboleta
seguirão meus pensamentos
cortando a brisa suave
cada vez mais ganhando espaço
até chegar nas nuvens
e eu como ficarei?
vou precisar que voltem
que devolvam meu raciocínio
pois minha alma de poeta
não pode viver sem eles
bailando no ar
em ritmo de regresso
eu fico esperando eles

LEMBRANÇAS DA ANTIGA CIDADE NATAL

   Passaram-se cincoenta anos desde que Diego deixou a sua cidadezinha natal, situada nas proximidades de montanhas e de um clima agradável, onde a relva causava encantamento. Fora viver na chamada cidade grande, onde o desenvolvimento era visto, onde podia circular entre os veículos e se deslumbrar com os imponentes prédios. Era o sonho de muitos jovens que não se conformavam com a vida no campo, com o povoado pacato do interior, abandonando a família para tentar a vida na capital próspera.
   O tempo passou tão rapidamente que Diego não percebeu, sentia apenas a saudade dos familiares, o sabor da comida caseira lhe fazia falta, os divertimentos com os amigos também, mas estava decidido a vencer todos os obstáculos, queria dar uma vida melhor também para os seus e foi justamente o que ocorreu quando se fixou num bom emprego, levando todos para a cidade grande, a vida pacata do interior não mais preocupava Diego.
   Mais alguns anos se passaram e Diego estava novamente só, como nos tempos da sua chegada na cidade grande. Tinha trazido a família para junto de si, tinha casado e tido filhos, viu os pais falecerem em decorrência do tempo, viu os filhos crescerem, estudarem, se formarem e tomarem cada um seus rumos. A esposa, única companhia na sua velhice, viera a adoecer, chegando a óbito. Diego se viu só no mundo vendo o tempo passar, não se preocupando mais em arranjar nova companheira, preferiu a solidão, aquela mesma solidão que sentira há cincoenta anos atrás quando de sua chegada na cidade onde resolveu se estabelecer.
   O tempo passado o fazia refletir, lembrava do tempo da sua mocidade, da sua cidade natal, a qual não mais tinha visitado, desde que saiu de lá aos 22 anos de idade. Sentiu nova saudade agora que estava novamente só, sentiu o desejo de rever aquele lugarejo pobre, sem desenvolvimento, que abandonara na juventude. Queria estar lá, ver como estava, se ainda existiam pessoas do seu relacionamento, queria ver a velha casa de taipa onde residira. Resolveu ir até lá, matar essa vontade incontrolável que sentia, viajando no dia seguinte, já que não tinha mais nenhum compromisso com o trabalho e os filhos tinham suas próprias vidas.
   Chegou no início de uma tarde quente, desceu do ônibus e começou a caminhar pela cidade, agora com ruas pavimentadas. Seu único desejo era rever velhos amigos e conhecidos e seu olhar se fixou em todos os limites da cidadezinha que foi o seu berço e viu a figura de dona Alzira se aproximando, sorridente, essa velha senhora encarregada de cuidar da sua casa, ajudando a mãe quando ele era um menino. Ao lado dela vinha seu Adamastor, o dono da mercearia onde comprava gêneros alimentícios fiado, sendo o valor anotado numa caderneta. Sentado em um banquinho de madeira estava seu Nestor, pitando o velho cachimbo e dando boas baforadas, coisa que Diego estava cansado de ver. Dois grandes amigos seus o surpreendeu por trás querendo abraçá-lo, deixando-o contente com essa visão. Seguiu até a antiga casa onde viveu como menino obediente, observando pela janela o seu interior, percebendo que ali estavam os mesmos móveis dos seus pais, o retrato do casal pendurado na parede. Na cozinha ainda existia a velha jarra onde tomava água fresca para matar a sede quando voltava da pelada no campinho de barro situado nas proximidades. Diego avistou a antiga escolinha particular onde aprendeu as primeiras letras e no portão lá estava dona Rosalva, a professora com aquele mesmo corpo magrinho, sorrindo como se estivesse convidando-o para abraçá-la. Ele se comoveu e deixou escapar algumas lágrimas de remorso quando se lembrou que a enganava, fingindo que estava doente para poder gazear aula e ir bater bola com os amigos, entre eles o Paulo, o mais sapeca, que nesse momento passava correndo e o cumprimentava rapidamente.
   Nada disso Diego vivenciou, foi apenas a sua fértil mente que o fez “ver” todos esses fatos. Na verdade ele estava decepcionado com o que vira, com o que o progresso fez com a sua cidadezinha natal. A velha residência não mais existia, pois por ali passou uma estrada, dona Alzira não era mais viva, seu Adamastor deixara a cidade e a notícia que teve foi de que também já era falecido. Seu Nestor, de tanto fumar cachimbo, fora acometido de uma doença no pulmão e passou anos entre internações no hospital público da cidade e o sofrimento na solidão de sua antiga casa, batendo as botas em seguida. Seus antigos amigos não mais residiam ali e não teve notícias deles, nem do sapeca Paulo que era muito conhecido. Diego se viu só mais uma vez, chegou até a chorar quando passou em frente ao prédio onde funcionava a escola e soube que dona Rosalva, a velha professora, havia se aposentado, vindo a falecer anos depois. A antiga escola agora era um prédio destruído e abandonado, com muito mato ao redor.

   Diego voltou triste para a cidade grande, agora a sua cidade, onde conheceu a nova vida, onde ele constituiu a sua família, onde deve viver o resto dos seus dias, agora que já completou 75 anos.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

T E N T E I ...

tentei fugir da realidade
mas ela não deixou
me acompanhou
tentei me afastar
da ingratidão
ela disse não
cheguei bem perto da tristeza
e implorei constrangido
me deixe, não deu ouvido
já o medo foi mais além
quando fui lhe procurar
disse vou lhe matar
tentei ouvir o amor
com ele me dei bem
mas só teve um porém
esquecer os outros
a quem procurei
e me desanimei
o porém foi atendido
e agora estou decidido
a viver com alegria

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

EU QUIS CHORAR... MAS SORRI

    Eu quis chorar mas me contive, consegui segurar algumas lágrimas que insistiam em querer deixar os meus olhos quando me chamaram de velho, no bom sentido, é claro. Não sei porque não aceitei essa ideia, essa situação tão real, talvez eu me ache ainda bem moço, de uma certa idade, porém não velho. Talvez eu ainda não tenha me costumado com a ideia de já ser um idoso, de já ter passado dos sessenta anos, de estar a caminho do fim. Por outro lado me senti feliz por ter alcançado essa fase da vida, quando muitos não chegam onde eu cheguei. E por isso eu sorri, olhei para o alto e agradeci, me senti realizado, mesmo tendo tão pouco materialmente, mas espiritualmente tendo a certeza de ter conseguido o meu intento, estar sempre perto de Deus, desejando a felicidade de todos e não somente a minha.

    Eu agora sorrio feliz por ser um velho, consciente do meu fim.

domingo, 18 de agosto de 2013

UMA TELA IMAGINÁRIA DE CINEMA

   Deitado no sofá da sala eu fixei o olhar no teto, imaginei nele uma tela de cinema e criei mentalmente imagens que o meu cérebro se propôs a “mostrar”. Tinha chegado da rua e nada tinha para fazer além de um pequeno repouso para descansar as pernas. Na tela imaginária eu criei imagens impressionantes, como cavalos em galopes velozes e seus cavaleiros os açoitando para que corressem ainda mais. Em direção oposta vinham outros cavaleiros montados em seus animais, os quais se digladiariam, numa guerra da era medieval. Em seguida mentalizei imagens de faroeste, filmes que eu adorava na minha época de menino, quando frequentava as matinês no cinema Atlântico, no Pina, em companhia de amigos ou dos meus irmãos. Na tela imaginária eu “via” os “cow-boys” em duelos ou cavalgando pelo velho oeste, o que me deslumbrava muito. No final do “filme” era de se esperar o famoso beijo do artista principal na mocinha, o que rendia aplausos da meninada eufórica.
   Eu conseguia até imaginar, deitado no sofá e olhando fixamente para o teto branquinho que nem uma tela mesmo, a minha própria imagem, os meus amigos, a família, enfim qualquer coisa que a minha fértil mente pudesse “tornar realidade”, uma infantilidade que também povoa cabeças de adultos.

   Hoje são só lembranças de tempos que não voltam mais, tempos que ficaram guardados na memória como se estivessem num rolo de fita e que eu sempre os “projetava” nessa tela imaginária que era o teto da minha sala.

sábado, 17 de agosto de 2013

LIXO HUMANO

uma calçada fria e suja
um corpo nela estendido
sob papelões, quase escondido
ao relento, incrível sobrevida
exposto a todos que passam
como se fosse coisa normal
um lixo humano, um animal
que não merece ter decência
que não deve igualar-se a nós
ninguém ousa tomar providência
mesmo com muita insistência
de quem se compadece daquilo
um lixo humano real
visto de dentro de carrões
das varandas de prédios imponentes
como esse tem outros doentes
vítimas do descaso do governo
que Deus ilumine essas criaturas
que abrande tal sofrimento
e um dia acabe esse tormento
aos olhos de pessoas de bem

M E D O

o vento forte soprava
pelas frestas da janela
inundava a sala com ar frio
deixando um clima sombrio
a chama da vela dançava
insistindo em permanecer acesa
no castiçal sobre a pequena mesa
lá fora a escuridão reinava
e a chuva forte castigava
o velho barraco de madeira
o medo tomou conta de mim
quando a chama da vela se apagou
sozinho ali o coração palpitou
bem mais forte que o normal
um uivo estranho eu ouvi
a porta com força foi derrubada
deixando minha mente atordoada
e quando tudo parecia real
acordei desse sonho terrível

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

SOBREVIVENTE

   Me senti como o sobrevivente de um pouso forçado numa área totalmente desconhecida, onde eu nada conseguia entender com perfeição, onde tudo era confuso nos primeiros momentos. Agarrado nas asas da amargura, o olhar perdido no horizonte da incerteza, ali estava, sozinho, sem noção do que poderia acontecer, sem saber exatamente o que fazer. Pelo menos estava vivo, podia raciocinar, dar um tempo até o cérebro dar o sinal verde para começar a agir. Me livrei das asas que ali me deixaram, que me proporcionaram um voo cheio de turbulências, com quedas no vazio, me sentindo ameaçado e sem perspectivas de uma tranquilidade que tanto almejava, mas enfim tudo passou e agora só resta saber o que fazer, quais serão os meus passos seguintes.
   Uma nuvem de desejos misturados com frustrações povoavam a minha mente ainda desorientada, esperando uma resposta, uma ação mesmo que seja de momento para eu poder prosseguir, pois ali parado não resultaria em nada. Mas eu tinha que dar tempo ao cérebro, deixar ele agir e me dar ciência da meta a ser estabelecida, já que sem ele eu não conseguiria sobreviver. Em hipótese alguma eu poderia colocar o carro à frente dos bois e a partir desse pensamento vi a poeira desse desastre mental ir baixando aos poucos, ir se dissipando como a fumaça de um incêndio apagado. Tudo começou a se reorganizar, a tomar os seus devidos lugares. A rua estava clara, pessoas circulavam me olhando com uma certa inquietação e nesse momento me senti sóbrio, como se estivesse despertado de um sonho grotesco, que tinha me deixado em pavor. Fiz de conta que estava tudo bem, me levantei daquela relva fresquinha onde me deitei praticamente sem perceber, sem me dar conta do que estava fazendo.

   As horas se passaram e agora me sinto bem, depois de um banho quente relaxante, de alguns goles de um suco gostoso e gelado, de alguns biscoitos com manteiga e um café bem quente para avivar a memória. Do meu lado Laura, a mulher da minha vida, aquela a quem nunca deveria menosprezar, deixar só, saindo pelas noites e voltando nas madrugadas frias, poucas vezes conseguindo chegar em paz ao meu destino, a minha casa, o meu lar confortante e cheio de amor. Por que eu não compreendia isso? Por que eu necessitava tanto procurar na bebida uma válvula de escape para os meus problemas se o problema era exatamente eu? Eu agradecia depois quando uma alma bondosa me deixava em casa, depois de me recolher na rua ou numa mesa de bar, são e salvo. Até agora eu tenho sobrevivido, tenho tido a sorte de permanecer na paz do meu lar, mas até quando? Será que vou conseguir sobreviver por mais tempo? Será que vou conseguir deixar essa vida de notívago e viver na companhia de quem só me dar carinho? Aguarde, Laura, eu vou conseguir.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

EM UM MANICÔMIO

   Elza chegou às portas da loucura quando perdeu o marido e o filho numa tragédia familiar, quando seu cunhado matou ambos a tiros, fugindo em seguida. O problema foi por conta de disputa de propriedades, que já se arrastava já por vários meses, culminando com esse duplo homicídio. Elza foi internada dias depois dos crimes não aceitando o fato ocorrido, acometida de um certo desequilíbrio mental, chegando ao ponto de agredir pessoas e falando coisas sem nexo. Perguntava pelo marido e pelo único filho o tempo todo, não aceitando a ideia de que estavam mortos.
   Após algum tempo de internação o seu estado foi se agravando e teve que ser levada para outro local mais apropriado para o seu caso, ou seja, um manicômio. Lá ela conheceu Mirna e em poucos dias teve uma acentuada melhora, ouvindo os conselhos dela, aparentemente uma doente mental abandonada pela família, com quem iniciou uma amizade muito boa. Passavam o tempo o tempo conversando no patio do hospital e Mirna lhe confidenciou que não era louca e que estava ali para cuidar de uma determinada pessoa, fingindo um estado mental descontrolado. Elza já estava se acostumando com a situação, só não aceitava a ideia de ter perdido o marido e o filho e ela ter ficado nessa situação difícil, presa em um manicômio como se fosse uma louca, apesar de ter apresentado todos os indícios.
   Certa tarde, depois de vários dias de internação, Elza passou por uma avaliação psicológica e foi considerada apta para sair do manicômio. Junto com Mirna, que também passou por avaliação, ganharam a liberdade. Já na rua sentaram em uma praça para conversarem e Mirna explicou que ali no manicômio existiam muitas criaturas que passavam por provações e que de certa forma mereciam o castigo para poderem se redimir de seus erros passados e ela fora incumbida excepcionalmente de cuidar de um caso e para isso teve que se fingir de louca, ficando cerca de um ano naquele local, tempo para concluir a sua tarefa.

   Já em casa, mais tranquila e na companhia de Mirna, que foi convidada para lhe fazer companhia, Elza ouviu da amiga a triste história de que seu marido e seu filho, em tempos passados, foram protagonistas dos mesmos crimes, também por disputa de bens materiais. Entre ambas também existia uma afinidade muito grande, já que no passado foram mãe e filha assassinadas por um membro da família. O assassino do marido e do filho de Elza passou vários anos foragido mas foi vencido pelo remorso e se entregou às autoridades policiais.

sábado, 10 de agosto de 2013

RAÍSSA – O ESPETÁCULO DAS LUZES

   No quarto bem arejado e claro Raíssa passava praticamente o dia todo, não saía para nada, exceto para algumas atividades necessárias, como tomar banho, alimentar-se e satisfazer necessidades fisiológicas. Não frequentava colégio, mas tinha aulas particulares, os pais lhe davam a devida atenção tendo em vista o seu desequilíbrio mental, apesar de ter momentos de perfeita razão, demonstrando capacidade de raciocínio. Dormia com as luzes acesas por não suportar a escuridão e em caso de falta de energia já existia no quarto um lampião à sua disposição.
   Ao cair da tarde ela deixava o quarto e se dirigia até a varanda, onde existia um banco de madeira pintado de branco, o seu local preferido para firmar seu olhar no horizonte, bem além de uma estrada, onde no final existia um ponte. Aguardava pacientemente a noite cair para “assistir” a um espetáculo que só ela tinha a capacidade de ver, segundo afirmava, estava convicta disso. Quando a noite caía ela se animava, ficando um bom tempo extasiada, numa admiração fictícia. Raíssa dizia que alguém a tinha orientado para que visse essa cena diária, brilhos misteriosos, luzes que mais pareciam estrelas piscando. Ela ficava tão serena apreciando, sob o olhar curioso dos pais, que ficava se perguntando de onde seriam essas luzes. Seus olhos brilhavam de tanto prazer e depois de um certo tempo ela voltava calmamente para o seu quarto demonstrando uma imensa satisfação. Os pais sabiam que no final da tarde seguinte seria a mesma coisa, a mesma encenação de Raíssa com o suposto espetáculo das luzes, o seu passatempo predileto e diário.


(Conto baseado no poema RAÍSSA E AS LUZES, deste autor, já publicado aqui)

MEU ÚLTIMO SUSPIRO

 
   A porta do quarto escancarada me deixava ver apenas o que acontecia na sala, pessoas da família em movimentos habituais, na faxina ou apenas conversando. Vez ou outra um visitante entrava, dialogava com o pessoal e em seguida entrava no meu quarto e me cumprimentava, perguntando se eu estava bem. Eu mal podia falar, tinha uma imensa dificuldade para isso e só balbuciava algumas palavras que pouco eram compreendidas. A doença me arrasava a cada dia e todos já estavam acostumados com essa cena, um velho moribundo em cima de uma cama onde fazia todas as suas necessidades, desde a alimentação até a higiene pessoal. Era impossível levantar-me para ver o que acontecia na rua ou em outro cômodo da imensa casa, pelo menos desde os últimos doze anos.
   Durante algumas noites, acredito que durante o sono, eu me via perfeitamente bem, levantava da cama, caminhava pelos diversos cômodos da casa, apesar da escuridão, sentia uma tranquilidade incrível, não compatível com o meu estado deplorável e chegava até a janela para observar a rua deserta. Nada via além da escuridão, voltando em seguida para a cama como se uma força estranha me forçasse a isso. Nesse momento eu despertava, mas a impressão nítida era de que não era um sonho, eu realmente me levantara e caminhara pela casa. Talvez eu estivesse enganado, mas era essa a minha situação.

   Quando o dia clareava eu via a sala deserta, as pessoas demoravam para acordar. Eu ficava esperando o asseio normal, a primeira refeição e desejava que tudo se acabasse de vez, que eu desse o meu último suspiro para poder me livrar dessa vida insuportável, quem sabe em espírito, como no sonho, poder caminhar pelos cômodos da casa e até ir até a rua e vê-la sem a escuridão.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

RAÍSSA E AS LUZES

Ao cair da tarde
Raíssa deixou o seu quarto
Dirigiu-se à varanda, sentou-se num banco
Seu olhar se firmou no horizonte
Uma longa estrada, no final uma ponte
Esperou a noite chegar
Que não tardou, era seu prazer
Sabia de algo por ouvir dizer
Eram luzes que brilhavam
Pareciam estrelas que piscavam
As pessoas olhavam, se admiravam
Se encantavam com o belo espetáculo
Que Raíssa imaginava ver
De onde seriam essas luzes?
Pensava ela, bastante interessada
Seus olhos brilhavam, não estava apressada
Para voltar ao seu quarto
Seus pais observavam ela serena
Olhar perdido na estrada, na ponte
No suposto local das luzes
Que ela tanto insistia estar vendo
Ao final, noite alta, voltava correndo
Para o seu quarto, seu refúgio
Ao cair da tarde
Do dia seguinte voltava Raíssa
Para o encontro com as luzes

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

A DROGA É UMA DROGA

Arquivo Fotográficos - usando, drogas. 
fotosearch - busca 
de fotos, imagens 
e clipart
          o rapaz sentou-se tranquilo na calçadA

a noite era fria, mas ele não estava preocupaDo
                 estava pronto para o que der e vieR
  era muito pobre, sem princípios, desajustadO
                      seu tempo todo era para se droGar
        vivia nas ruas sem contato com a famíliA

              usar drogas não é normal, para ele É

cometia pequenos furtos, roubava qualquer Um
                 estava à caminho de lugar nenhuM
                mendigava comida e dormia na ruA

             como ele muitos outros em toda a cidaDe
esse problema nenhum governo consegue acabaR
         uma desgraça que já toma conta do mundO
                        por falta de apoio político e coraGem
                    só Deus para poder mudar essa vidA

terça-feira, 6 de agosto de 2013

UM AMOR OCULTO

Uma chama de esperança
Partiu em duas a minha desilusão
Com o impacto os pedaços foram ao chão
Misturados com a terra
Aos poucos eles de fragmentaram
Enfim, mente e coração se contentaram
Estão agora em um corpo são
Parecem bem felizes
Não tem mais deslizes
Que façam eles sofrerem tanto
E como mágica ou por encanto
Sentem então o prazer do amor
A vida ensina muito
Tem coisas que nos fazem meditar
Um amor oculto veio me consultar
Encontrou motivos e forças
E se declarou com muita emoção
Não sabia ela que o meu coração
Estava triste com sua indiferença
Que passou apenas a ser passado

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

SONHO LINDO

demorei tanto pra te encontrar
teu corpo continua belo
teu sorriso continua o mesmo
no teu olhar singelo
me enlouqueceu de desejo teu andar
tua forma de me olhar
me fez voltar ao passado
quando tu eras uma criança
que sempre me encheu de esperança
de um dia poder ser minha
passaram-se os anos e agora
como uma flor que desabrocha
tu estás diante de mim
a florescer o meu jardim
a dar encanto a minha vida
mas tudo foi apenas um sonho lindo
no melhor sono que tive
a noite mais feliz da minha vida
e pela manhã não me contive
verti lágrimas de emoção
agradecendo ao meu coração
por suportar tamanha dor